Já havia comentado da carreira do diretor M. Night Shyamalan na crítica do seu longa anterior, Tempo (confere aqui). Conhecido por seus plot twist mirabolantes em seus longas, isso acabou sendo um fator que colaborou para o seu chamado efeito 8 ou 80 em seus longas.
Batem À Porta, seu novo projeto promete manter essa opinião divisiva ao publico, mas parece que o diretor acerta a mão em entregar um suspense tenso do inicio ao fim, sem precisar ser tão mirabolante como em trabalhos anteriores.
Na trama, O casal Eric (Jonathan Groff) e Andrew (Ben Aldridge) leva sua filha adotiva de 7 anos, Wen (Kristen Cui), para uma temporada de férias em uma cabana na floresta. O idílio é rompido pela chegada de quatro estranhos, liderados por Leonard (Dave Bautista), que dizem estar cumprindo uma missão: a família precisa escolher um de seus membros como sacrifício ou o mundo vai acabar. Com acesso limitado ao mundo exterior, a família deve decidir no que realmente acredita antes que tudo esteja perdido.
Baseado no livro O Chalé no Fim do Mundo de Paul Tremblay, o roteiro do próprio Shyamalan junto de Michael Sherman assim como sua premissa não faz firula e nos apresenta sua proposta com menos de 10 minutos de projeção e mantem a tensão até seus momentos finais. A partir daí a direção inicia uma tensão psicológica digna dos melhores suspenses da carreira do diretor. A violência na trama existe, mas não é apresentada de modo explicito, sendo sempre sugerida e acredite, mesmo sem mostrar as mortes brutais que acontecem, o filme consegue deixar o espectador na ponta da cadeira em cada cena apresentada.
Você sacrificaria sua família para salvar a humanidade? Essa pergunta é colocada em questão durante todo o longa e com isso coloca esse grupo para discutir questões morais sobre a humanidade e tudo mais. Por criar uma estrutura mais simples, e menos ambigua, o diretor cai novamente na sua divisão: Por se utilizar desse formato o diretor entrega uma obra bem calcada na tensão e bem direta, por outro essa falta de ambiguidade daria mais debate sobre o que os invasores estão propondo. Será que os quatro invasores estão falando a verdade, e sim, existe a possibilidade das ações do casal, geraram consequências para o destino do mundo e da humanidade? Ou eles não passam de um bando de lunáticos presos numa espécie de culto? O filme até debate isso, mas tudo é bem mais amarrado sem se ir muito para outros caminhos, o que pode frustar alguns que adoram as mirabolâncias do diretor. Batem À Porta está longe de ser um longa ruim, só estou enfatizando algo que pode ser novamente um fator divisivo para alguns fãs do trabalho de Shyamalan, já que o fator reviravolta não é daqueles de virar você da cadeira, sendo como eu disse mais fechadinho.
A montagem é eficiente, conseguindo intercalar presente e passado dos personagens de modo hábil e dinâmico. Outro ponto a destacar aqui é o trabalho de atuação em que os envolvidos cumprem e se entregam na proposta de seu realizador. Dave Bautista, que vêm em uma crescente de papeis de cunho mais dramáticos nos últimos tempos sobra aqui. Seu Leonard, apesar do tamanho é sereno e calmo, o que gera mais tensão no que diz na sua dedicação ao proposito designado a eles e seus companheiros. A estreante Kristen Cui, que interpreta a jovem Wen merece destaque também principalmente sua dinâmica inicial com Bautista. Completam os destaques Jonathan Groff (Matrix 4) que interpreta o doce Eric e Ben Aldridge que vive o temperamental Andrew (Pennyworth). Os demais atores cumprem suas funções narrativas e agregam positivamente com suas atuações.
Batem À Porta é um suspense eficiente no que se propõe trazendo tensão e emoção na mesma intensidade durante toda sua projeção. Vai dividir o publico? Certeza que sim, mas é o bom e velho Shyamalan que gostamos de ver.