Martin Scorcese é uma das lendas vivas da Hollywood. O diretor dono de obras icônicas como Taxi Driver, O Touro Indomável, Os Inflitrados, O Irlandês entre tantos outros mesmo aos 80 anos, a cada anúncio de um novo trabalho, os olhares do fãs de cinema se voltam para ele.
Adaptado no best-seller de David Grann e baseado em uma história real, Assassinos da Lua das Flores é mais um filme longo do diretor, mas que assim como outros, incrivelmente consistente em trazer uma história necessária sobre crimes brutais para com um povo por poder e ganância como só realizador é capaz de trazer.
Idealizado pela Apple Tv+ ( que está que aos poucos está se mostrando certeira em produzir materiais de relevância para seu serviço) e distribuído pela Paramount Pictures em circuito limitado, o projeto é situado em 1920, na região de Oklahoma, nos Estados Unidos. Misteriosos assassinatos acontecem com os povos indígenas Osage, donos de uma terra rica em petróleo. O caso foi investigado pelo FBI, a agência que tinha acabado de ser criada na época, envolvendo o poderoso J. Edgar Hoover, seu primeiro diretor.
O filme foca em Ernest Burkhart (Leonardo DiCaprio) que retornando da Primeira Guerra Mundial, viaja para Fairfax, no Oklahoma, para se estabelecer com ajuda do seu tio William Hale (Robert De Niro) na cidade pertencente ao povo Osage. Estúpido, mas com ambição de se estabelecer financeiramente, Ernest serve como um fantoche para os planos macabros de Hale em tomar a riqueza indígena, quando conhece e começa a se relacionar com Mollie ( Lily Gladstone).
É curioso fazer uma analogia da filmografia de Scorcese com esse novo projeto. Realizador de obras como Os Bons Companheiros e Cassino, onde temos bandidos e trambiqueiros que praticamente criamos certo vínculo, aqui os vigaristas são odiosos e trazem o pior lado da ganância, principalmente por fazerem atrocidades com um povo indígena.
O roteiro de Eric Roth (o mesmo de Forrest Gump) traz inúmeras subtramas, mas sabem trabalhar cada uma da forma adequada. O relacionamento entre Ernest e Mollie funciona como ponto central da trama, que através dela se ramifica numa série de situações. O amor existe ali, assim como a traição e o diretor é bastante cuidadoso em mostrar isso.
Junto a isso também é colocado a moralidade do protagonista. Sabemos que por mais ingênuo e manipulável por seu tio, Ernest não é nenhum santo. Por mais que ele tenha um certo medo e respeito pela figura do William Hale, ele traçou suas próprias escolhas.
Com um contexto histórico preciso e complexo, Scorsese e Roth faz um recorte após o povo Osage ser forçadamente deslocado de Arkansas e Missouri, se estabelecendo em Oklahoma e enriquecendo com a descoberta de petróleo em seu território. Juntamente a isso a trama mostra a ganância e a frieza dos homens brancos para maquinar os assassinatos para com esse povo. A parte investigativa do caso, entra a partir do ato final, dando foco maior as maquinacoes dos crimes e estabelecendo os personagens centrais.
Aliás as quase 3 horas e meia de duração, apesar de parecer um susto, acaba sendo increvelmente necessárias e muito se devem ao clima de conspiração e tensão que o filme passa durante toda sua projeção, fazem o ritmo não se perder e manter o espectador centrado.
O elenco é impecável! Unindo pela primeira vez DiCaprio e DeNiro em um trabalho seu, o diretor consegue extrair interpretações formidáveis da dupla! DiCaprio traz um personagem complexo por ser uma moralidade duvidosa. O ator entrega bem o estupido, porém ambicioso protagonista e muito nos perguntamos se ele ama ou não sua esposa pelos atos que realiza, mas como disse acima, faz suas escolhas indevidas.
DeNiro possivelmente entrega sua melhor performance da carreira em anos e olha que estamos falando de um ator que tem no currículo Poderoso Chefão Parte 2, Cassino, Os Bons Companheiros entre outros. Seu Hale é ardiloso, maquiavélico em um nível que ganha raiva do espectador. O ator domina cada cena que aparece!
Mas ainda que a dupla esteja incrível, a surpresa se figura na atuação magistral de Lily Gladstone. Descendente de povos indígenas, a atriz foi descoberta por Scorcese, depois que quase desistir da carreira por falta de oportunidade, é o coração do filme. Dona de poucas palavras, sua Mollie carrega a dor, mas também uma doçura genuína, e por mais que pareça frágil devido a doença da personagem, ela nunca é ingênua, mesmo que o filme pareça mostrar isso.
Pra finalizar, Assassinos da Lua das Flores é mais um trabalho impecável de Scorcese, parece que assim como vinho só melhora com os anos, ao trazer uma importante e necessária história de opressão e violência cometidos pelo homem branco para com povo indígena e sua cultura.