Três mulheres, recém-viúvas, decidem se unir para realizar – dessa vez, com sucesso – o assalto que matou seus maridos em uma explosão. Este é o enredo de As Viúvas, livro de Lynda La Plante baseado na série de TV homônima dos anos 80 também escrita por ela e lançado no Brasil em 2018 (Intrínseca).
Se a tentativa de As Viúvas é criar personagens “fortes”, é difícil dizer o quanto a empreitada foi um sucesso – mas quanto à diversidade de personagens femininas, o resultado é satisfatório. Não há como negar que as mulheres são o foco da trama, mesmo com personagens masculinos também bem construídos, mas isso não quer dizer que a obra de La Plante tenha alguma intenção de ser ativista ou engajada.
Suas personagens principais têm diferentes razões para participar do assalto – no caso de Dolly Rawlins, a protagonista da história, o motivo parece ser para de lidar com a perda do homem que foi o foco de sua vida inteira. Já para Linda e Shirley (e, posteriormente, Bella), o dinheiro é o objetivo principal. Ainda assim, em nenhum momento o leitor consegue se convencer realmente das intenções das personagens em realizar uma empreitada tão incomum.
“Os planos, projetos e instruções meticulosamente detalhados para o assalto pareciam o roteiro de uma peça de teatro. Ela não conseguia acreditar que um homem que relutava tanto em recolher as roupas sujas do chão do quarto pudesse ser tão organizado quando se tratava de assaltar um carro-forte… Mas, afinal, não havia questão de vida ou morte de matérias de roupa suja.” (p. 40)
Há uma tentativa constante de se acrescentar tensão à história, especialmente à medida que inimigos do falecido marido de Dolly começam a fechar um cerco ao redor da mulher – mas, ainda assim, a sensação que reina durante a maior parte do livro é mais uma dúvida sobre a realidade do enredo (esse assalto realmente vai acontecer? Nenhuma dessas mulheres vai desistir?) do que uma tensão com o que está prestes a acontecer. É assim que As Viúvas falha em ser um thriller emocionante ou mesmo uma história minimamente envolvente.
Até mesmo as relações e diálogos entres as protagonistas são pouco acreditáveis. A relação entre Linda e Dolly, cheia de farpas trocadas, é a única que acrescenta um pouco de veracidade à história, apesar de não ser satisfatoriamente resolvida em nenhuma momento. Mas a personagem que talvez chegue mais perto de “salvar” o livro é Bella, uma prostituta pragmática, inteligente e que definitivamente não participa das picuinhas infantis que são constantemente colocadas entre as protagonistas do livro.
“Ela aprenderia a consertá-lo (…) Ela aprenderia depressa e muito bem. Não para o assalto idiota e delirante de Dolly, mas para si mesma. Linda não conseguia se lembrar da última vez que de fato conseguira alguma coisa – mas aquilo estava prestes a mudar.” (p. 82)
As Viúvas também não envelhece bem. Mesmo para quem viu ao menos um trailer da adaptação cinematográfica do filme, lançado em 2018, não é possível tirar da cabeça que a obra pertence e talvez nunca deveria ter saído dos anos 80. É como se fôssemos obrigados a ver toda a “breguice” de filmes como As Panteras, mas sem o senso de humor e as boas cenas de luta.
Ao acabar a obra de La Plante, a impressão é a de ter lido um roteiro, e não exatamente um livro. Fazem faltas descrições mais detalhadas e um enredo desenvolvido de forma mais sutil, problemas que talvez não percebêssemos se se tratasse de um filme. O fim da história, mesmo com a possibilidade enorme de continuação, não anima quem lê e nem finaliza bem o arco das personagens. Em seu final, As Viúvas acaba se resumindo a um TO BE CONTINUED que a ninguém importa.