Há história do nosso país é repleta de coisas que em sua maioria são descobertas e ou trazida a tona muitos anos depois.
As Polacas, nova produção nacional retratada a história de inúmeras imigrantes polonesas que vieram com o sonho de fugir da guerra de seu país e buscar uma nova vida aqui, mas que acabaram sendo exploradas por homens e se tornaram trabalhadoras sexuais contra sua vontade e tiveram que lutar para sobreviver em meio a tudo isso.
Dirigido por João Jardim, a produção explora essa história de luta de forma pesada e cruel, ainda que escorregue em alguns pontos.
Em 1917, fugindo da guerra em seu país, Rebeca (Valentina Herszage), chega ao Rio de Janeiro com seu filho pequeno, Joseph, para se reunir com seu marido. Entretanto, um infortúnio impede o reencontro e, sozinha num país estrangeiro, Rebeca recorre à ajuda do simpático empresário Tzvi (Caco Ciocler).
Porém, toda ajuda tem seu preço, e rapidamente Rebeca descobrirá que o empreendimento do conterrâneo judeu é, no final das contas, um bordel com dezenas de mulheres na mesma situação que ela.
O roteiro escrito por George Moura (O Rebu), Teresa Frota (Amores Roubados) e Flávio Araújo (Os Outros) é inspirada nos livros “El Infierno Prometido”, de Elsa Drucaroff, e “La Polaca”, de Myrtha Schalom e retrata o tráfico de mulheres polonesas, para serem exploradas sexualmente, um episódio doloroso e pouco discutido da nossa história.
Ainda que explore com bastante peso e crueldade esses abusos, o roteiro carece de trazer outros pontos como surgimento da Sociedade da Verdade (onde as trabalhadoras do sexo judias conseguiram construir um cemitério para elas e uma sinagoga) são pouco destacados e ficando apenas de forma rasa a trama, apesar de fazer parte da história dessa comunidade.
Outro ponto que também destaco é no sentido do uso da linguagem no filme. Tudo bem que é um filme nacional, mas o fato de deixar as imigrantes falando a mesma língua geral causa uma certa quebra de veracidade para o projeto. Se ao menos se usasse uma variação de idiomas, faria mais sentido, visto que são pessoas que vieram de fora do país e sequer sabem ou conhece nossa língua e isso seria um fator para maior empecilho e faria mais sentido. Pode não ser algo que prejudique a trama no geral, mas adicionaria uma maior veracidade nela esse cuidado.
Se nesse ponto, o longa escorrega, em seu elenco se sobressair. Caco Ciocler (Passagrana) que dá vida ao inescrupulosos Tzvi e a dupla: Dora Freind (Medusa) e Valentina Herszage (Ainda Estou Aqui) são os principais destaques aqui. Freind e Herszage interpretam com maestria mulheres fragilizadas, cada uma pelo seu motivo, mas resilientes e capazes de lutar pela própria sobrevivência em meio ao caos, enquanto Ciocler está desprezível no melhor sentido da palavra cheio de lábia no seu personagem.
Pra finalizar, As Polacas, mesmo seus escorregões, entrega uma obra impactante que ainda repleta de crueldade (afinal, infelizmente é real) mostra a força dessas mulheres em resistir diante de tanta crueldade e unidas resistiram e buscaram forças para conseguir seus direitos mesmo em meio as adversidades