Ver As Panteras é, de cara, uma experiência interessante de casamento entre o novo e o velho. Alguns elementos marcantes à franquia, como os corpos sexualizados dentro de um padrão e a sensualidade usada como arma, continuam presentes enquanto seguimos a trajetória de Sabina Wilson (Kristen Stewart, Acima das Nuvens), a carismática, Jane Kano (Ella Balinska, Casualty), a forte, e Elena Houghlin (Naomi Scott, Aladdin), a novata, tentando impedir um aparelho de energia limpa de ser usado como arma.
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Mas até o conhecido, o “velho”, é feito com uma roupagem nova, já clara na primeira cena: a câmera sabe que está focando em atrizes lindas, mas de forma mais empática – muitas vezes, corpos sensuais são filmados como partes, um peito, uma bunda, de forma que os pedaços não parecem pertencer à um todo vivo, um ser humano. Elizabeth Banks, que dirige, estrela, roteiriza e produz, não filma suas atrizes assim.
E esse conhecido feito de forma diferente, com uma visão mais humanizada e menos objetificada, está presente em todos os aspectos do filme, não só no visual mais óbvio – os diálogos são mais realistas, as cenas de ação focam na força das atrizes, até as roupas são feitas a partir de um “female gaze” – são as roupas que mulheres escolheriam caso fossem espiãs, coloridas e interessantes, não as roupas que homens gostariam de ver mulheres espiãs usando.
A câmera as vê não (só) como objetos de desejo, mas de admiração e identificação – da mesma forma que heróis homens escritos e filmados por outros homens costumam servir como forma de realização de desejos dos espectadores, enquanto se mantém fáceis de se identificar o suficiente para imaginar que você poderia estar naquele lugar.
E o elenco tem uma química absurda, sem a qual o filme não iria funcionar. As atrizes conseguem passar a empatia e confiança que as personagens criam a cada desafio que vencem juntas – as sequências de ação, muito divertidas e inteligentes nos seus set pieces, são essenciais para o plot do filme, mas não porque elas servem ao fim de vencer os vilões em batalhas menores, e sim para que a gente possa ver o processo que faz com que essas três mulheres completamente diferentes se tornem uma equipe coesa, focada em se ajudar e cuidar uma da outra antes de recuperar um McGuffin.
Kristen Stewart, ainda considerada uma péssima atriz por uma personagem que fez mais de uma década atrás, brilha. Ela é o ponto mais alto num filme cheio de pontos altos. Ela é carismática de uma forma que normalmente o Robert Downey Jr. e o Ryan Reynolds são – engraçada e confiante ao mesmo tempo que é vulnerável. Todos os envolvidos parecem ter consciência da decisão polêmica de colocá-la neste papel, movido a carisma, após anos de estigma, sendo considerada uma atriz sem sal e de uma expressão só. Tem uma cena em que a Sabina, sua personagem, brinca com uma criança, e a câmera dá um close no rosto da atriz enquanto ela faz mil e uma expressões, como se para pirraçar seus críticos.
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Ella Balinska, a verdadeira novata das três atrizes, flui com um pouco mais de dificuldade entre os momentos de heroína de ação e jovem romântica de Jane, mas isso é perdoado quando ela faz qualquer cena de luta. Alta, forte e com uma expressão destemida, é muito fácil de acreditar que ela realmente pode encher todo mundo de porrada.
Naomi Scott vive uma Elena crível, nervosa ao ser apresentada à esse mundo novo e perigoso, mas focada em fazer o que sabe que é certo. Assim, ela encontra coragem para se oferecer para ter funções mais importantes a cada missão, o que é ainda mais orgânico quando o espectador sabe que ela o faz, também, porque confia nas suas novas amigas.
Elizabeth Banks (A Escolha Perfeita) é ainda mais incrível quando lembramos de tudo que ela faz nesse projeto, mas sua atuação ainda merece aclamação. Como a única Angel que virou Bosley, ela consegue passar mais empatia e confiança na forma que é mentora das meninas, mas suas decisões nem sempre fazem sentido, já que em vários momentos somos levados a desconfiar dela pela história.
Patrick Stewart (X-Men) e Sam Claflin (Como Eu Era Antes de Você) são competentes e fazem o que podem com o pouco tempo de tela que têm. Já Noah Centineo (Para Todos os Garotos Que Já Amei) , que deveria ser o galã do filme, não parece velho o suficiente para ter um emprego, muito menos capaz de chamar atenção de alguém tão intrigante quanto seu interesse amoroso. Ele é facilmente o elo mais fraco do projeto, que também peca, para mim, em manter a não-heteronormatividade de Sabina no subtexto.
Mas isso não consegue trazer para baixo um projeto bem humorado e bem feito como As Panteras. É um filme abertamente feminista que não tenta se desfazer de tudo tudo que veio antes dele, mas sim selecionar as melhores partes e atualizá-las com o humor de Banks, a química de suas protagonistas e uma estética incrível.