Armageddon Time | Um recorte intimista de uma época através do olhar infantil

Danilo de Oliveira
4 Min de Leitura
Universal Pictures/Reprodução

Filmes que tratam com experiências infantis de seus realizadores estão ganhando uma nova crescente no cinema. Afonso Cuaron nos mostrou no emocionante Roma, Kenneth Branagh trouxe seu passado em Belfast, agora o diretor James Gray traz agora em Armageddon Time seu novo projeto pessoal e imersivo que se inspira muito em sua própria história de amadurecimento nos Estados Unidos do final da década de 1970.

Na trama, conhecemos Paul (Banks Repeta), um jovem, meio rebelde, de classe média, que adora o universo das artes, principalmente o desenho, a pintura. Ele mora com a mãe Esther (Anne Hathaway), uma dona de casa e representante de pais da escola, e o pai Irving (Jeremy Strong), um homem que ganha a vida como encanador, consertando aquecedores. Uma figura presente em sua vida é seu avô, Aaron (Anthony Hopkins), com quem aprende muito sobre a vida em cada conversa. Paul estuda em um colégio público e se vê quase sempre em conflito com o professor (uma figura conservadora e muito rígida). Ele começa uma amizade com Johnny (Jaylin Webb), um jovem negro que mora com a avó, e dessa amizade Paul aprenderá lições que levará por toda a vida.

Universal Pictures/Reprodução

A amizade com Johnny é um dos principais fatores para o amadurecimento de Paul e a relação entre os dois coloca nas telas uma discussão sobre preconceito racial, que era uma questão nos anos 70 e continua sendo hoje. Em um Estados Unidos às vésperas de mais uma mudança presidencial, onde o conservadorismo engessa os sonhadores e os horrores do preconceito são vistos em cada esquina a ingenuidade e imaturidade do adolescente vai moldando toda a estrutura do roteiro. Assim como temos por exemplo em Belfast, aqui o retrato de uma época é nos passada pela ótica de Paul. Os excelentes diálogos entre pai e filho e entre avô e neto mostram o medo da realidade que o espera lá fora, quando precisará sair do ninho familiar e encarar a vida e todas as suas facetas, nem sempre felizes.

Com 14 anos de idade, Banks Repeta é um dos jovens artistas para ficar de olho: com passagem por Lovecraft Country e O Diabo de Cada Dia, há uma doçura, inocência e até certa imaturidade hipnotizantes nele. Impossível não se afeiçoar. Anthony Hopkins é o avô de Paul, Aaron, e quem acaba transmitindo alguns dos valores mais importantes para o neto. O ator que já tem uma das carreiras mais respeitáveis em Hollywood entrega a classe e a excelência que o papel merece. Jeremy Strong é o pai da família, uma figura que passa quase despercebida, até que um rompante de raiva revela novas camadas de sua relação com o filho. Strong que vem de um Emmy por Sucession mostra que mesmo com poucos momentos pode se entregar bem o personagem. Anne Hathaway é a mãe: o longa não se aprofunda em sua história diretamente, mas fornece muitos elementos fortes para que possamos preencher essa lacuna e entender seus dilemas.

Universal Pictures/Reprodução

Armageddon Time retrata uma época através do olhar infantil e como elas vivenciam situações complexas sem ver as consequências. Um filme bem intimista que certamente lhe trará a nostalgia de uma época que ficou no passado.

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