Annabelle 3 – De Volta Para Casa, o terceiro filme da boneca amaldiçoada, estreia essa semana nos cinemas brasileiros. Seguindo os clichês do gênero, a história entrega sustos, personagens curiosos, luta contra o mal e um tanto de humor. Mas quase não dá para pensar nele como um filme. Isso por que o longa, produzido por James Wan e Peter Safran, é mais um prelúdio para possíveis novos spin-offs do universo Invocação do Mal do que qualquer coisa – a história apresenta um demônio atrás do outro em uma espécie de revezamento olímpico e falha em acrescentar algo à franquia com um enredo próprio.
A falta de autonomia do filme se revela especialmente no uso de Ed e Lorraine Warren. Protagonistas dos filmes principais da franquia original, o casal aparece apenas brevemente no começo e no final do longa, ao contrário do que promete o trailer, e por isso o espectador é deixado com três personagens: Judy, filha dos Warren, Ellen Mary, sua babá e Daniela, uma amiga de Ellen que fica curiosa com a ideia de conhecer uma casa repleta de elementos sobrenaturais. A falta de relação do público com estas novas personagens faz com que história pareça em alguns momentos mais um filme genérico de terror – a já conhecida Annabelle é o maior ponto de conexão com a franquia, mas o longa apresenta tantas outras ameaças que o “protagonismo” da boneca é usado quase apenas para convenientemente terminar a história.
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Por não termos conhecido essas personagens antes – Judy já havia aparecido em outros filmes, mas com pouco destaque -, seus dramas pessoais parecem de pouca importância no começo do filme, mas felizmente ganham destaque. A relação de Daniela com seu pai, morto em um acidente de carro, é o que a motiva a tentar entrar em contato com o sobrenatural e rende, no final da história, o único momento de emoção de Annabelle 3. Há também o dilema da filha de Ed e Lorraine, que tem que lidar com o bullying na escola ao mesmo tempo em que começa a ter visões de espíritos – habilidade que vai ajudá-la na resolução da história. Essas questões trazem ao filme o elemento família que é tão presente nos filmes da franquia e que faltou, por exemplo, no primeiro Annabelle, aparecendo apenas sutilmente no segundo.
Após um breve período de introdução, o filme entra rapidamente em um ritmo frenético. Divididas dentro da casa, cada uma das meninas tem que lidar com uma ou mais aparições seguidamente (e com lidar entenda: gritar, tremer e correr delas). Há pouco de mistério, pouco de suspense, pouco de uma busca por respostas, pouco tempo para que a audiência respire e se prepare para o próximo susto. Por isso, quando chegamos ao clímax, é quase como uma cena normal do filme. Se esse é o fim das histórias de Annabelle, é difícil saber se deveríamos sentir alívio ou tristeza. Tristeza já que é um final ruim, no qual a boneca quase não teve espaço para “brilhar” (ou seria aterrorizar?) sozinha – mas, ao mesmo tempo, alívio, pois já não há o que explorar nessa história.
Se o objetivo principal do filme era apresentar novas ameaças para dar continuidade ao universo da franquia, o resultado deu certo. Quem for assistir Annabelle 3 vai com certeza sair curioso para ver mais sobre os outros demônios no longa. Dá para contar uns quatro spin-offs antes mesmo do final – esperemos apenas que, se forem feitos, eles consigam trazer um pouco das qualidades dos filmes principais da franquia e contribuam melhor para um universo que, sem isso, já corre o risco de se tornar repetitivo.