Assassinos e Templários chegaram a oitava geração de consoles de vez.
Assassin’s Creed Unity é simultaneamente um espetáculo visual e uma coleção de excelentes ideias que você provavelmente deve encontrar em futuros jogos da série. Entretanto, passada a euforia, também é possível perceber que, embora lance excelentes bases para o futuro dos Assassinos, Unity também esbarra em pontos que, na verdade, surgem do próprio pioneirismo do título.
Os belos gráficos, os controles ajustados para navegar melhor pelos cenários e uma tentativa de voltar ao ‘stealth’ mais simples e envolvente dos primeiros games empolgam.Porem, enquanto corre pelos arredores da Paris revolucionária, por exemplo, você provavelmente cruzará, vez ou outra, com diversos bugs — em graus variados de relevância e/ou de humor involuntário.
Algo semelhante também poderia ser dito da jogabilidade. Há aqui animações muito mais detalhadas e um movimento que, visualmente, convence mais do que qualquer Assassin’s Creed jamais conseguiu. Entretanto, a complexidade da nova mecânica também resulta de uma série de equívocos que, volta e meia, acabam por deixá-lo com sérios problemas na frente da lâmina inimiga.
Para completar, a história é extremamente fraca, deixando o rico cenário da Revolução Francesa como um pano de fundo insosso e mal explicado. O herói Arno Dorian é um exemplo de superficialidade e pouco carisma, dando, ao menos, chance para a templária Élise brilhar como uma das personagens mais bacanas e criativas da série até então.
Nos últimos anos a série ousou bastante em suas aventuras, indo das florestas aos mares do Caribe e explorando até de forma meio rudimentar, em “Revelations”, estratégia e ‘tower defense’.
Em “Unity” o que vemos é uma tentativa de voltar à furtividade mais simples, de raíz, dos dois primeiros games. As missões mais importantes e elaboradas envolvem invadir um lugar fortemente protegido, eliminar um alvo e fugir em segurança.
O enredo se passa no Século XVIII. Estamos em Paris em pleno auge da Revolução Francesa, uma época em que “o gigante acordou” e o povo foi às ruas para exigir a cabeça de seus monarcas corruptos e instaurar os princípios de “Liberté, Égalité, Fraternité”.
No meio da agitação político-social da Revolução, conhecemos Arno Dorian, um garotinho que perdeu sua família muito cedo e acabou sendo adotado por François de la Serre, sujeito que é nada menos que um dos cabeças dos Templários.
Sem ter conhecimento de toda a treta histórica que envolve Assassinos e Templários, Arno se envolve com a filha de seu pai adotivo, a bela Elise de La Serre. Porém, sua vida vira de pernas para o ar quando o pai da moça é assassinado e ele acaba sendo injustamente acusado pelo crime.
Na cadeia, ele conhece um Assassino veterano que lhe instrui dos princípios básicos da Irmandade e lhe apresenta uma chance de redenção e vingança, desde que sirva à Irmandade e à causa dos Assassinos.
E é assim, dividido entre a lealdade aos Assassinos e o amor da Templária Elise, que Arno irá acompanhar “os bastidores” da Revolução Francesa enquanto elimina seus alvos, decifra enigmas lendários e interage com figuras históricas bem famosas como Marquês de Sade e Napoleão Bonaparte.
Considerando que Assassin’s Creed: Black Flag foi um jogo muito mais sobre piratas do que sobre Assassinos, é legal ver que o tema principal da série — a eterna briga entre Assassinos e Templários — ainda rende algo. Curiosamente, a campanha principal se foca mais na redenção de Arno do que na Revolução Francesa em si, que é muito mais valorizada na reta final do game e nas divertidas missões cooperativas.
Bom sobre o protagonista Arno Dorian ele realmente não é um personagem ruim. Na verdade, essa mescla entre “ladrão francês” e “amante latino” até cai no gosto bem rápido, notadamente por sua curiosa mistura de leveza e senso de dever. Porém, conforme a história progride, Arno vai se tornando apático e sem graça, sumindo ao lado de um elenco secundário que tem seus altos e baixos. A história em si também deixa a desejar, sendo previsível e sem grandes surpresas que empolguem o jogador.
Embora o background da França Revolucionária seja bastante rico, parece que em nenhum momento há um casamento suficientemente forte entre protagonista e história. Não será raro que você pare de vez enquanto para tentar entender o que, de fato, motiva Arno a continuar pulando e matando (não necessariamente nessa ordem).
Com certeza a estrela mais brilhante de “Assassin’s Creed Unity” é, de longe, a templária ruiva Élise. Personagem mais complexa e interessante do game, é ela também quem conduz as principais reviravoltas no enredo e chama as melhores missões do game.
Não vou entrar em detalhes para evitar spoilers, mas é muito envolvente ver como a garota subverte certas convenções da franquia com muita competência, sem parecer forçado ou irreal dentro do universo da série.
Fiquei com muita vontade de jogar uma DLC baseando o enredo pelo seu ponto de vista.Élise realmente é uma personagem merecedora Ubisoft!
Realmente a Paris recriada pela Ubisoft para o game é realmente de fazer cair o queixo. A riqueza de detalhes chama a atenção logo que se tem os primeiros contatos com essa França revolucionária virtual do século XVIII. São construções incrivelmente detalhadas, tanto em suas fachadas quanto nos interiores luxuosos — ornamentados e com ricas estofarias nas moradias de ricos e com detalhes crus em madeira e móveis modestos nas dos sujeitos menos abastados.
E, sobretudo, a Paris de Unity é viva. Nunca antes um título da série pode passar tão fortemente a ideia de que você, de fato, está em uma cidade(Watch Dogs aprende ai viu!). Por onde você passa há transeuntes cuidando dos próprios assuntos e se movimentando de forma realista — sem dar a impressão de figurantes que se vê em diversos títulos que se propõe a recriar ambientes urbanos.
Naturalmente, essa variação nos ambientes altera consideravelmente a jogabilidade em Unity. Você agora ganha, por exemplo, maiores chances de desaparecer — já que será muito mais difícil que um guarda lhe rastreie enquanto você desliza furtivamente por uma turba enfurecida, pronta para assistir, com “sangue nos olhos”, a uma cabeça real rolando cadafalso abaixo.
Entretanto, nem sempre esse grande organismo vivo vai lhe facilitar a vida. Afinal, trata-se ainda de uma multidão — para o bem e para o mal… Ou para o ligeiramente frustrante, por assim dizer. É muito comum, por exemplo, que, ao tentar escapar em praça pública, você acabe trombando com dezenas de transeuntes.
Mesmo o deslocamento em condições normais, de fato, acaba bastante desacelerado pela quantidade de pessoas que ocupam ruas e interiores de casas — de forma que, em grande parte das vezes, o melhor talvez seja lançar mão do velho expediente de sair saltitando pelo telhados.
O combate também foi reajustado e agora está mais desafiador. Embora continue seguindo aquele esquema de ataque e contra-ataque, agora não podemos mais matar automaticamente em um contra-ataque, muito menos encadear um kill no outro, como era possível antigamente: cada inimigo deve ser vencido no tempo certo, e a finalização só é possível depois que o oponente já perdeu toda sua energia.
Embora a proposta da franquia sempre tenha priorizado a ação nas sombras, Unity é o primeiro título a efetivamente oferecer um modo stealth plenamente funcional.
Agora será possível se esgueirar pelos cantos do cenário e também se ocultar por trás de paredes e mobília, esperando o momento propício para saltar e fazer o que um Assassino faz de melhor. Talvez o único revés seja o fato de nem sempre ser possível dizer se você está ou não totalmente ocultado da vista de um guarda — o que em algumas vezes termina em surpresas desagradáveis.
Em razão da complexidade adicionada aos movimentos do seu Assassino em Unity, surge uma boa dose de frustração. Mesmo um movimento relativamente simples como um salto sobre uma mureta pode originar uma tragédia — conforme Arno acaba fazendo algo totalmente diferente, o que frequentemente vai colocá-lo com a garganta exposta para o inimigo.
Um problema muito comum vem da utilização do botão de “esquiva”, por exemplo. Isso porque o mesmo botão também é utilizado para buscar cobertura, escondendo-se atrás de estruturas. É fácil imaginar a consequência mais funesta: em vez de saltar para longe do golpe templário, Arno se escora em um lugar qualquer… E aí só resta a dessincronização.
Assassin’s Creed Unity tem bugs. Muitos bugs. De fato, muitos já foram corrigidos via patch,mas é possível encontrar coletâneas pela internet cheias de NPCs flutuando pelo cenário como almas penadas, buracos inexplicáveis que tragam um assassino incauto e, basicamente, toda uma série de glitches com níveis variados de bizarrice e severidade.
Além disso embora seja apenas intermitente, em alguns momentos há quedas severas de framerate (taxa de quadros por segundo). Nesses momento, os controversos 30 fps são quase um bálsamo — já que há travamentos realmente punitivos, sobretudo quando há muitos NPCs (personagens controlados pelo computador) dividindo o cenário com Arno.
Sobre as missões cooperativas atreladas à trama principal,elas são uma otima adição a serie (mas não joguei o suficiente para dar uma afirmação mais precisa) e é bastante divertido dividir missões secundárias com algum bom amigo, ou mesmo com um completo estranho.
Assassin’s Creed Unity cumpre bem a nobre missão de trazer uma das franquias mais populares da atualidade para a oitava geração. Embora ainda derrape em alguns pontos — gerando quantias variadas de frustração .
Apesar dos erros, ainda é um bom game. Mais do mesmo e bugado, mas ainda assim um bom jogo. Quem é fã da franquia sem dúvida vai curtir. Dessa forma, prepare a sua frase de efeito e vá à luta!