O cinema de terror no Brasil ainda é muito mal explorado no mainstream. O país tem otimas produções de genero que acabam encontrando refugio em festivais especializados no segmento nacional e internacional(O Cine Horror é um deles) ou por sua vez no streaming.
Abraço de Mãe é o novo projeto do gênero que teve pré-estreia com elenco na última semana do Festival do Rio 2024 e chegou a Netflix essa semana trazendo uma produção que mescla eventos reais acontecidos na cidade do Rio de Janeiro com elementos do horror cósmico a lá H.P. Lovecraft e cria uma experiência bem interessante encabeçada por Marjorie Estiano no elenco.
Ana (Marjorie Estiano) é uma bombeira que está voltando à ativa após uma ação em que ficara paralisada e, portanto, fora afastada. Embora esteja animada por voltar, seus parceiros, Cabo Dias e Roque (Reynaldo Machado), ainda desconfiam da sua capacidade, enquanto Mourão (Rafael Canedo), que tem um crush nela, não consegue disfarçar a empolgação. Então, eles recebem um chamado de um desabamento num asilo de idosos no bairro de São Cristóvão, mas, ao chegarem no local, começam a perceber que há algo estranho sobre os moradores do local e que há ameaças piores ali do que pequenas rachaduras nas paredes.
Escrito por Gabriela Capello (de ‘A Vilã das Nove’), André Pereira (de ‘O Rastro’) e Cristian Ponce (que também dirige o longa), ‘Abraço de Mãe’ é estruturado em duas linhas temporais: o primeiro, em 1973, mostra a protagonista ainda criança sofrendo um trauma pelas mãos de sua mãe (Chandelly Braz), que faz conexão direta com o momento segundo do filme, já em 1996, em que a protagonista literalmente se sente assombrada por esse momento do seu passado.
Os anos curiosamente fazem paralelos de grandes tragedias na cidade: em ambos períodos aconteceram chuvas intensas que deixaram milhares de pessoas desabrigadas em varias localidades do Rio de Janeiro.
Centrado totalmente na protagonista Ana, o filme de Cristian Ponce transforma o terror psicológico que a personagem enfrenta em literalmente situações de horror dentro de um asilo abandonado debaixo de uma tormenta. A estrutura e caracterização do asilo auxila na sensação de claustrofobia e perigo que os personagens tem ao explora-lo. Se utilizando de um estilo a lá Silent Hill e as obras de Lovercraft, tudo aparentemente é estranho e nos criar uma confusão por não estamos sabendo o que realmente está acontecendo. A direção de Ponce ajuda nessa ideia com planos fechados que ajudado pela dupla de diretores de fotografia Franco Cerana e Leandro Pagliaro sabem utilizar do bom uso de iluminação e cenario para criar uma experiência bem desconfortavel no melhor do sentido da palavra.
Marjorie Estiano, atriz já conceituada de inumeros projetos, é o grande destaque! Sua personagem é construída de forma bastante interessante, e apesar dos deslizes do terceiro ato (o longa parece correr pra encerrar e não sabe explorar melhor aquilo que criou durante sua projeção) Estiano carrega o filme com toda suas expressões e desenvoltura.
Pra finalizar, Abraço de Mãe, é a prova que o cinema de genero no Brasil existe e merece ser valorizado. O longa entrega uma história sobre aprender a conviver com traumas e dores com elementos do horror cosmico e uma ótima atuação de Marjorie Estiano.