A nova moda de Hollywood é trazer motivações para seus ícones do terror ou fazer os famosos prequel de franquias consolidadas para manter a roda girando ou trazer novas perspectivas para esses projetos. Halloween, Massacre da Serra Elétrica, O Exorcista são exemplos que posso trazer do terror que ganharam essa abordagem que já teve Star Wars com o brilhante Rogue One como referencia fora desse âmbito.
Clássico absoluto do terror lançado em 1976 e dirigido por Richard Donner, A Profecia é como um amigo meu descreveu a “trindade do capeta” no cinema juntamente com O Bebê de Rosemary e O Exorcista. Bom a franquia que ganhou ao longo dos anos mais duas continuações e um remake em 2006 acaba de ganhar seu prelúdio, com A Primeira Profecia, que como diz o titulo dar um “inicio” para toda a trama do longa original. Se a estreia da diretora Arkasha Stevenson em longas acerta em atmosfera, peca na previsibilidade, e sustos genéricos típicos do gênero.
O filme conta a história de Margareth (Tiger Free), uma jovem americana que viaja para Roma para se tornar freira da Igreja Católica. Criada em um orfanato, seguir os caminhos da religião sempre foi o plano de sua vida e essa nova fase parece empolgante para a jovem.
Ela é alocada para trabalhar em um orfanato apenas de meninas, onde é recepcionada pela Irmã Silva, interpretada pela atriz brasileira Sônia Braga. Aos poucos, a jovem Margareth vai conhecendo mais o lugar, como uma colega que também está prestes a se tornar freira, e uma adolescente,Carlita (Nicole Sorace), que é mantida fechada dentro do orfanato. Contudo aos poucos as coisas não são aparentemente que o parecem e Margareth terá que presenciar um algo muito sinistro escondido ali e que colocará sua fé em questão.
Stevenson — que também escreveu o roteiro junto com Tim Smith e Keith Thomas, com base numa história de Ben Jacoby monta e cria uma atmosfera soturna que resgata muito a áurea do original construindo Margaret como uma personagem própria, e não uma peça no quebra-cabeças no plano do estúdio.
A protagonista está passando por uma crise de fé. Ela quer fazer os votos, mas não tem certeza se ouviu a voz de Deus uma vez sequer. Por mais que o Cardinal Lawrence (Bill Nighy) insista em seu destino, ela ainda luta com seus demônios interiores e ao conhecer e se conectar com Carlita, ela enxerga a si mesma uma escuridão parecida: quando tinha a idade da garota, Margaret também sofreu com visões sombrias, Indo por esse ponto e fazendo no seu tom, A Primeira Profecia consegue se sobressair por alguns instantes, seja por momentos chocantes (não comentarei aqui, deixo pra vocês verem) ou sombrios e nojentos pra surpreender sua plateia.
A Roma do inicio da década de 70 é um ótimo campo para desenvolver o que o longa quer se propor. Protestos estudantis refletem o secularismo da década. Toda a sociedade está se afastando da igreja e com isso ela está perdendo o poder que já teve em outrora. As consequências espirituais disso são o elemento menos explorado do filme, mas o cenário aqui apresentado é deveras de elogios. Das roupas aos carros, somos transportados para a época, e especialmente para a ambientação sugerida com um design de produção bem consistente.
Contudo se o body horror e o foco no corpo feminino e a maternidade são bem exploradas, o longa peca nas conveniências e previsibilidades do gênero. Mesmo que se assemelhe em ritmo com o original, aqui a preparação tem seus problemas de ritmo e entrega no plot. Muitos momentos que são feitos de forma hábil, são desperdiçados por jumpscares mal elaborados que só fara sustos nas plateias desavisadas. Chega a ser um desperdício de atmosfera! Além disso, o final precisa querer criar um vinculo com seu original da forma mais obvia e brega possível.
O elenco quem eu tenho que destacar a estreante Tiger Free, que consegue passar bem as nuances de sua protagonista, exceto em uma forçada cena no terceiro ato. Outra que tenho que destaca a brasileira Sonia Braga como a Irmã Silva que traz uma olhar penetrante, assim como um mistério escondido em seus atos.
Pra finalizar, A Primeira Profecia acerta na atmosfera que fez sua franquia, principalmente seu original um marco, mas escorrega nas convivências do gênero e entrega uma história previsível e sem alma, ou melhor enxofre.