Uma Noite de Crime é uma franquia que quando lançada em 2013, tinha uma ideia muito interessante, e que embora ganhasse mais duas continuações ampliando seu universo, derrapava na sua execução.Seu novo capitulo agora veio para nos mostrar como a ideia da noite do expurgo foi testada e enfim evolui e mostra o capítulo mais pertinente, ainda siga aprofundando em seus clichês e caricaturas.
No prequel , somos apresentados ao experimento social do governo que deu início à infame Noite do Expurgo. Após uma forte crise abalar toda a América, os cidadãos estavam com muito ódio e se revoltando contra o governo. Como medida provisória, uma cientista decidiu vender a ideia do experimento aonde todo tipo de crime seria permitido por 12 Horas, para que as pessoas pudessem soltar sua fúria – e se manterem calmos nos outros 364 dias do ano.
Eles escolhem a Staten Island, uma ilha com classes sociais mais baixas bem pertinho de Manhattan, para iniciar o projeto. Se bem sucedido, ele se espalhará pelo país todo. Mas é claro que o experimento na mão do governo toma viés político, servindo para outros propósitos.
James DeMonaco,diretor dos três anteriores e dessa vez apenas no roteiro , apesar de abusar das caricaturas tradicionais da franquia,traz enfim o elemento real tanto político como social, e a mensagem que nunca foi bem executada na franquia. Ao retratar como a sociedade lida com o experimento anárquico pela primeira vez,o longa reflete questões latentes da realidade americana atual e, ao mesmo tempo, justifica o caos que a série sempre retratou. Finalmente, Uma Noite de Crime responde a pergunta: o que faz o ser humano tão psicopata?
Um dos maiores valores do longa é retratar, pela primeira vez, o que de fato (provavelmente) aconteceria se a noite de crime fosse implementada. Cidadãos dariam festas nas ruas, transaria em publico, fariam furtos,e apenas psicopatas sairiam para cometer crimes horrendos, não porque assassinato é crime, mas porque matar, em nossas fundamentações morais e éticas, é errado. Homicídios e absurdos só acontecem a partir do momento em que o governo “age” para limpar a população mais pobre (leia-se: negros e latinos), e esta ai sim, se defende.O filme ainda faz um paralelo com a era Trump,com uma metáfora em relação a desesperança destas minorias sob o governo do presidente americano.
A mudança na direção, primeiramente, mostra uma maior habilidade do novo diretor Gerard McMurray em comandar a franquia. Os pontos positivos são determinados nas cenas de ação, confrontando grupos de pessoas com grupos de pessoas. Em um dos momentos, camuflados por uma neblina atmosférica, homens assassinam outros de um modo excepcionalmente bem coreografado. Já a tensão, em outros casos, é fraca, como na perseguição de um garoto pelo primeiro – e um dos únicos – psicopata que aparece nas ruas.Outro ponto que derrapa, embora o roteiro melhore seus argumentos, não escapa de cair em suas tradicionais falhas. O vilão caricato faz seu papel de assustar, mas suas motivações nunca são convincentes, o que o deixa menos assustador, há resoluções frágeis e personagens extremamente irritantes permeiam a produção.
A Primeira Noite de Crime é uma evolução satisfatória a uma franquia que apresentou uma premissa interessante que carece de boa execução. O preludio ao nos mostrar as origens racistas do expurgo se faz muito mais relevante e competente que os seus antecessores, o que enfim é algo bastante positivo.