Os clássicos da autora Agatha Christie são sem sombra de dúvidas incríveis exemplares de trama de investigação e mistério, as famosas narrativas “whodunnit” (quem matou?).
Não é a toa que Hollywood sempre vêm adaptar seus livros ou até usá-lo de imaginação visto os filmes da agora franquia Entre Facas e Segredos.
O diretor Kenneth Branagh retorna ao universo de contos adaptados da autora que ele iniciou em O Assassinato no Expresso do Oriente e A Morte no Nilo, agora trazendo A Noite das Bruxas e fazendo o famoso e excêntrico detetive Hércules Poirot enfrentar seu cetismo e crenças para com o sobrenatural.
Na trama, encontramos o icônico detetive interpretado por Kenneth Branagh desfrutando de sua aposentadoria em Veneza. Mas não demora muito para que a cidade italiana conhecida por sua beleza se transforme em um pesadelo com um assassinato misterioso durante uma sessão espírita.
Apesar de utilizar de uma fórmula já conhecida dos filmes do gênero, o roteiro do competente Michael Green sabe explorar os elementos sobrenatural e colocar Poirot pra se questionar sobre seu cetismo e crença. O primeiro ato mostra um Poirot fugindo de tudo e todos para desfrutar de seus momentos excêntrico na aposentadoria, e logo depois convencido por sua amiga interpretada por Tina Fey para uma sessão espírita as coisas acontecem e então o protagonista decide voltar a tona e desempenhar seu papel de detetive e a fórmula clássica se faz em conjunto com clima sobrenatural. Branagh inteligentemente brinca com esses artifícios do suspense e juntamente com o design de produção que nos dá uma Veneza menos glamourosa e mais soturna, auxiliada pela trilha sonora minimalista de Hildur Guðnadóttir (Coringa ) nos conduz de forma apreensiva diante de todo mistério que está acontecendo.
Por fugir um pouco do padrão clássico, a trama se apresenta de uma forma madura sobre a maneira que lidamos com os fantasmas de nosso passado, especialmente como escondemos eles para nossa própria proteção ou alívio de consciência, e também como eles voltam para nos assombrar.
Além de Branagh e a Tina Fey, que aqui faz uma autora de mistério famosa e amiga do detetive (e sendo uma perfeita alusão de Agatha Christie) o filme tem em seu elenco nomes como Jaime Dornan (Agente Stone), Jude Hill (Belfast), Kelly Reilly (Yellowstone), a ganhadora do Oscar Michelle Yeoh (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo) e Camille Cottin (Casa Gucci). Todos funcionam bem nos seus papéis, com destaque para Kelly Reilly como a dona do palacete e mãe da moça que morreu, e Michelle Yeoh no papel da médium capaz de falar com mortos.
Com seu carisma e trejeitos que fazem você realmente acreditar que ele é o maior detetive do mundo, o Poirot de Branagh continua sendo o destaque e o ator e diretor a cada filme se sente mais e mais a vontade no papel.
A Noite das Bruxas entrega mais um ótimo suspense whodunnit adaptado do universo literário formidável de Agatha Christie e lapidar ainda mais a franquia de Kenneth Branagh e seu Hercule Poirot nos cinemas. Que venham mais!