A Mulher no Jardim | Terror planta metáforas com habilidade, mas hesita na colheita

Emile Campos
4 Min de Leitura
2.5 Regular
Critica - A Mulher no Jardim

A Mulher no Jardim (2025), dirigido por Jaume Collet-Serra, é um thriller psicológico que floresce com sutileza entre o luto e a loucura, apostando no terror simbólico mais do que no explícito. Trazendo inserção na tradição do horror doméstico, o longa se destaca menos pela trama e mais por sua atmosfera: uma tensão constante e abafada, que se instala no cotidiano de uma casa onde a dor se recusa a ser enterrada.

Danielle Deadwyler entrega uma performance arrebatadora como Ramona, uma mãe em frangalhos após a morte do marido, encarando sozinha o desafio de manter os filhos emocionalmente inteiros. Quando uma figura misteriosa — uma mulher vestida de preto — começa a rondar o jardim de sua casa, o filme nos propõe uma pergunta fundamental: até que ponto o terror está fora de nós, e quando ele passa a ser apenas o reflexo do que já carregamos por dentro?

Universal Pictures/Reprodução

Essa mulher enigmática, interpretada por Okwui Okpokwasili com uma fisicalidade inquietante, nunca se explica. E esse é justamente o ponto. A estranha presença funciona como um espelho simbólico: personificação da culpa, do trauma, da negação ou até mesmo da ancestralidade não resolvida — tudo cabe ali, tudo é insinuado, mas nada é definido. Essa ambiguidade pode ser vista como virtude ou limitação, dependendo do olhar do espectador.

Narrativamente, o filme tem estrutura enxuta, mas essa economia textual cobra seu preço. A história parece mais adequada a um curta-metragem intenso do que a um longa de uma hora e meia, e o segundo ato sofre com repetições e ritmo estagnado. Ainda assim, Collet-Serra e o diretor de fotografia Lyle Vincent fazem uso inteligente do espaço doméstico, filmando a casa e o jardim como labirintos emocionais, emoldurando a dor com luzes frias, sombras longas e ângulos distorcidos.

Universal Pictures/Reprodução

As atuações sustentam o filme onde o roteiro vacila. Além de Deadwyler, o jovem Peyton Jackson é um destaque notável como o filho Taylor, transmitindo com naturalidade a sobrecarga emocional de um adolescente forçado a amadurecer cedo demais. A pequena Estella Kahiha, como a filha caçula, acrescenta delicadeza e vulnerabilidade ao ambiente cada vez mais tenso.

Se visualmente A Mulher no Jardim é sofisticado, tematicamente o filme peca pela hesitação. O subtexto racial e de trauma feminino está ali, mas mal arranhado. A narrativa opta por sugerir — o que é coerente com a proposta simbólica — mas, ao evitar aprofundar as raízes históricas da dor de Ramona, desperdiça a chance de transformar o filme em algo realmente potente e socialmente relevante.

Universal Pictures/Reprodução

Na reta final, a obra ganha um tom mais onírico e experimental, recuperando parte da força perdida no meio do caminho. São nesses momentos de colapso visual e sensorial que o filme se aproxima de seu maior potencial: o terror como manifestação estética do sofrimento psíquico.

A Mulher no Jardim é uma experiência atmosférica e interpretativa, que desafia o espectador a decifrar seus próprios medos e leituras diante de um horror que não grita — apenas permanece, silencioso, entre as folhas do quintal. É um filme que planta metáforas com habilidade, mas hesita na colheita. Para quem aprecia thrillers psicológicos com nuances e camadas simbólicas, a obra pode ser intrigante. Mas quem busca respostas ou contundência emocional pode sair com a sensação de que algo importante ficou enterrado.

Critica - A Mulher no Jardim
Regular 2.5
Nota Cinesia 2.5 de 5
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