O número de publicações com personagens LGBT+ tem aumentado no Brasil, tanto em livros, quanto em quadrinhos. A grande maioria ainda é estrangeira, mas, sem desmerecer de forma alguma essas publicações, quando uma história além de incrível ainda vem diretamente do Brasil, o gosto é bem melhor. Em A Lince e a Raposa, nós acompanhamos Anna, uma híbrida solitária e Jennifer, uma bem humorada humana que, por obra do acaso, acabam se unindo e embarcando em inúmeros desafios em um Estados Unidos devastado pela 3ª guerra mundial.
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Estamos aqui com mais uma pequena sinopse que engana. Muito. Ela, de forma alguma, te prepara para a profundidade da história. A Lince e a Raposa é o tipo de livro sob medida, com doses de humor (a Anna simplesmente tem as melhores divagações), de drama e tudo o mais, em medidas que tornam a leitura muito revigorante. A evolução da amizade das protagonistas para algo mais, faz com que você não apenas torça por elas, também te faz acreditar no que elas estão sentindo uma pela outra. E esse ponto é importante.
Por mais que muitos livros LGBT+ estejam chegando ao grande público, você pode contar nos dedos (literalmente) o número de histórias onde o casal de protagonistas não sejam dois homens. Faça uma lista mental rápida, não é difícil perceber. O número de livros com um casal de lésbicas como protagonistas não é lá muito fácil de encontrar em uma prateleira virando a esquina, ainda mais um livro que seja voltado para o público jovem. Eles estão surgindo, timidamente, mas estão. Leah e toda sua falta de sintonia é um bom exemplo disso.
Nesse livro da Cristiane Schwinden – que por sinal é criadora da editora que publica o livro, a Lettera -, o romance não é exatamente o foco. Ele existe, obviamente e nos apaixonamos um pouco demais pela história da Anna e da Jennifer, mas rola também um grande amor por toda a trama da história. É complicado (pelo menos para mim), não ficar com os olhos brilhando diante de uma boa distopia embalada em um romance. Romance esse que passa longe de estar ali apenas para conquistar os leitores.
Os únicos pecados do livro – que são relacionados a preferências de leitura em sua maior parte -, são alguns excessos com a descrição de determinadas passagens. Não chega a ser uma página descrevendo uma folha caindo, mas se alongam de tal forma que pode incomodar alguns. O outro pecado é a incidência de cenas de ataques e assédios contra mulheres. É o tipo de cena que entendemos o apelo e razão de estarem na história, mas só atrai angústia além da conta se for muito usada e repetida.
Esses, repito, são problemas no livro mais relacionados com o gosto de leitor do que qualquer coisa, pois A Lince e a Raposa é uma leitura que vale muito o tempo gasto (o livro engana de primeira, mas a verdade é que ele é deliciosamente longo) e nos faz ansiar muito pela continuação das aventuras de Anna e… Jen.