A Garota na Teia de Aranha é um novo recomeço para a franquia Millennium no cinema

Danilo de Oliveira
7 Min de Leitura

Vocês podem estar se perguntando do titulo dessa crítica, porque um novo recomeço? Pera, vou explicar mais abaixo.

Trilogia Millennium que inicialmente seria uma série de 10 livros foi bruscamente interrompida em 2004 quando seu autor, o aclamado jornalista sueco Stieg Larsson veio a falecer. Publicados em 2005, os livros se tornaram um sucesso tão absoluto que 1 em cada 4 suecos os leram. Traduções não autorizadas apareceram pela internet e muitos se apaixonaram pela história muito antes de terem o livro em mãos.

Junto a esse hype todo, veio a primeira adaptação em 2009. Trazendo Noomi Rapace como a hacker Lisbeth Salander, a versão escandinava foi bastante fiel. Mas como sabemos, os americanos não tem gosto por filmes legendados. Como resposta, em 2011, David Fincher lançou sua versão para o primeiro volume da série. Millennium: Os Homens que não Amavam as Mulheres trazia Rooney Mara e Daniel Craig nos papéis principais.

O filme além de trazer um excelente suspense, traduziu muito bem seu material e ainda deu uma indicação a Mara pelo papel de Lisbeth. Embora o filme tenho feito boa recepção com a crítica, na bilheteria o resultado foi aquém do esperado.  Com as indecisões da volta de Fincher e do que fazer pra continuar a franquia, a Sony enfim preferiu ter a inusitada ideia de continuar ela pelo quarto livro da série, lançado em 2015, A Garota na Teia da Aranha que foi finalizado por David Lagercrantz a partir dos manuscritos deixado por Larsson. Colocando Fede Alvarez na direção e Claire Foy pra viver Lisbeth, o filme já traz os personagens estabelecidos pra estruturar uma nova maneira de dar gás a franquia.

Anos após o caso Vanger, Lisbeth Salander (Claire Foy) é agora uma conhecida hacker que encontrou sua vocação como a justiceira de crimes misóginos. Ao ser contratada para mais um trabalho, Lisbeth acaba atraindo a atenção do governo sueco, americano e do grupo terrorista denominado ‘Aranhas’. Assustado com o perigoso sistema que desenvolveu, Frans Balder (Stephen Merchant) procura os serviços da hacker, mas acaba se tornando um alvo ao pensar que foi traído por Lisbeth.

Sem ter a quem recorrer, Lisbeth pede ajuda a Mikael Blomkvist (Sverrir Gudnason). Mesmo após três anos de afastamento, o jornalista não consegue dizer não à figura que lhe rendeu as melhores histórias. Em busca para impedir os males que o programa pode causar, ambos acabam percebendo que a resposta está no passado. Por trás de tudo, se encontra a mais afetada pela rotina de abusos do pai de Lisbeth, sua irmã Camilla (Sylvia Hoeks).

Bom, pra começar a crítica posso dizer que pulando do primeiro para o quarto livro, é quase impossível entender o distanciamento dos personagens e a fonte da desconfiança de Lisbeth quanto aos homens. Visto que a personagem tem um passado bem problemático com sua família, o que reflete em seu jeito frio e desajustado e tudo foi relatado por Mikael em sua revista Millennium.Assim, por mais que a trama não seja tão elaborada como a do primeiro livro, fica difícil garantir que todos terão a mesma experiência ao assistir o filme.

Com isso tem outro ponto a ser destacado: A Garota na Teia de Aranha aos poucos vai se construindo numa narrativa burocrática e mal fundamentada, onde cada personagem e sua respectiva subtrama apresenta falhas de consistência. Pouco a pouco tais desleixos vão comprometendo , especialmente quando é preciso aceitar que toda a verdade sobre um grupo tão perigoso quanto os Aranhas seja revelado a um desconhecido tão facilmente.Soma-se a isto problemas, envolvendo certos coadjuvantes, quase desnecessários nesta história mas habilmente plantados de olho em futuras continuações.

As comparações com as obras anteriores serão inevitáveis! Mas se existisse somente esse exemplar,ou você não conheça a série esses erros serão anestesiado por ótimas sequencias de ação que Alvarez nos proporciona e na protagonista feita com esmero por Foy.

Alias sendo essa a terceira encarnação da personagem nas telonas, a atriz inglesa consegue dar personalidade a sua Lisbeth e mostra que foi uma ótima escolha do diretor em substituir Mara. Lisbeth Salander é a heroína feminista perfeita para os dias atuais, onde rótulos são mais importantes do que ações. Lisbeth não grita exigindo igualdade, nem por um segundo essa mulher cogitou a possibilidade de ser menos capaz do que qualquer homem. A baixa estatura, magreza e inabilidade social podem fazer com que a subestimem, mas as consequências são duras, ela não consegue ver a injustiça sem dar o troco. Seu alvo evidente é o crime contra a mulher. Mas não se trata de sororidade, é apenas justiça. Foy usa apenas os olhos para entregar o mínimo que Lisbeth deixa transparecer de fraqueza. Sem isso, fica impossível entender a importância que Mikael realmente tem em sua vida.

Já Sverrir Gudnason tem pouco tempo pra mostrar seu Mikael com relevância na trama.Sabemos que o personagem é importante pra protagonista, mas seu foco aqui está pra plantar terreno pra os próximos filmes. A atriz Sylvia Hoeks faz uma vilã um tanto genérica e o fato de não haver contados de forma completa a historia da Lisbeth com sua família faz ela não ter um peso importante como deveria haver.

Millennium: A Garota na Teia de Aranha cumpre seu papel como produto de seguir a franquia de Lisbeth adiante. As comparações são inevitáveis, e dividirá opiniões. O visual frio e ótima edição continuam lá, mas a trama poderia ser melhor elaborada.Mas assim como um espião britânico, a hacker tem um mar de possibilidade de ser explorada e se popularizar ainda mais no cinema.

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