Dear White People mostra os lados da militância enquanto expõe com humor ácido o racismo nas relações “pós-raciais” dos EUA

Willyam Nascimento
6 Min de Leitura
Cara Pessoa Branca, esta crítica é para todos os públicos sem distinção de cor, okay? Mas se vier com conceitos pré-concebidos, não aconselho a continuidade.

Dear White People causou uma enorme polêmica meses antes de sua estreia que ocorreu nesta última sexta feira (28/04) no serviço streming Netflix. Apenas 30 segundos de um teaser foram capazes de revelar a verdadeira face de muitos na internet, e claro, o “racismo reverso” que a série “promovia” era o principal argumento usado (I’m shocked!!). Então o que ela lhe reserva?

Para começo de conversa, Dear White People é inspirada no longa-metragem (2014) que leva o seu mesmo nome, criado por Justin Simien que está como roteirista e diretor na série. A temática é sobre os desafios que jovens estudantes negros enfrentam numa universidade de elite predominante dominada por pessoas brancas. Mas a história é muito mais que estas palavras genéricas que usei.

A verdade que Dear White People, vai mais longe do que a sua obra original foi. Ela alfineta, expõe diálogos, costumes e atitudes que para muitos podem ser considerados não racistas, mas para os negros são muito depreciativas e ofensivas. Diferente do filme, a série consegue com mais tempo, fazer os desdobramentos necessários sobre a temática. A exemplo da festa no qual é promovido o blackface (atitude de pessoas brancas se pintarem de negros) que passa uma mensagem totalmente errada. Esse acontecimento é um dos fatores importantes para que os grupos negros do campus “acordem”, em relação ao que acontecendo nas relações institucionais “pós-raciais”.

A jogada de mestre da série é narrar os dez episódios de 20 a 30 min, sob a perspectiva de vários personagens, que tem suas histórias entrelaçadas com o antes e pós-festa blackface, assim podemos conhecer o ponto de vista e as situações sociais e emocionais que eles passam e sofrem. Tais situações que levam posicionamentos opostos dentro da própria militância, que é o caso da protagonista Sam ( Logan Browning) e Colandrea (Antoinette Robertson), que possuem visões diferentes sobre atitudes que vão desde a festa blackface a protestos estudantis para assegurar direitos importantes.

O humor é usado de forma competente pelos roteiristas que sabe dosar o gênero nas situações que permitem tal uso, e sabem dar um tom sério e dramático quando necessário. A série não tem medo de escrachar o racismo que jovens negros sofrem e precisam suportar, claro, uma parte do contexto dentro de uma universidade elitista com pessoas que na maioria tratam pessoas negras como ornamentos e invisíveis.

Existe algo que pode ser considerado um problema para alguns espectadores, a falta de profundidade de alguns temas abordados. Mesmo indo além que seu original (o filme de 2014), DWP dialoga sobre diversos assuntos além do seu tema central, tais como feminismo negro, colorismo, homossexualidade, e dentre outros que podem ser mais explorados na trama, mas que na verdade abrem caminhos para autorreflexão.

E citando colorismo, muitas vezes debatido, mas sem compreensão, a série pontua com destaque quando uma determinada personagem aborda o tema salientado que sim, a sociedade infelizmente vê uma negra de pele clara diferente de uma com o tom mais escuro de pele.

Outro ponto a ser observado como os atores possuem uma boa química entre si que reflete em suas atuações em conjunto deixando os episódios mais prazerosos, claro com um roteiro costurado e preciso. Posso falar como amei os enquadramentos nos diálogos face a face? Sem falar como até os planos ajudam a passar mensagens importantes. Salientando a quebra da quarta parede quando os personagens fazem alfinetadas sem rodeios sobre o cenário cinematográfico que quando os usam não é de maneira respeitosa.

A série deixa claro que mesmo com toda empatia que pessoas brancas possam demonstrar com pessoas negras, infelizmente elas nunca poderão ter a dimensão do que um jovem negro passa diariamente pelo simples fato da cor de pele ser escura. Palavras como “somos todos iguais”, apenas funcionam ao vento, quando a diferença real de receber um tiro ou não é a palavra de uma pessoa branca ou um comprovante que o faça pertencer a um local social.

Dear White People é uma das séries mais do que necessárias no cenário que vivemos hoje, e que os negros vivenciam anos a fio. Ela propõe um dialogo de negros para negros, mas que todos que assistam possar entender essa conversa. E muito importante, a série não tem medo de mostrar que até pessoas que lutam por ideais parecidos podem ter diferentes visões pelo o que estão lutando.

Ps¹: É cedo demais para pedir uma season 2?

Ps²: É muito cedo pedir uma season da trajetória da Colandrea? rs

Share This Article
Leave a comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *