“A Viúva” explora a realidade do gênero thriller e da força midiática

João Fagundes
5 Min de Leitura

Após o ‘Felizes Para Sempre’ sempre pode haver percalços. Em “A Viúva”, thriller de 2016 que marca a estréia de Fiona Barton como autora de um romance, e nada melhor do que uma obra cheia de detalhes e algumas perspectivas variadas, criando todo um mistério por trás de uma atrocidade sob a supervisão da mídia. Uma esposa leal terá que lidar com o luto que a tornara viúva e, ao mesmo tempo fazer justiça ao expor o que sabe sobre um crime imperdoável. Se está a procura de personagens femininas com diversas facetas, esse é o livro te representará. Com a promessa de 2017 da Editora Intrínseca, havendo 1 thriller por mês, esse foi lançado em Fevereiro.

O casamento de 20 anos entre Jean Taylor e Glen tinha tudo pra prosperar, já que cada um tinha uma função essencial para que essa relação funcionasse para a eternidade… que seja bom enquanto dure. Após ser vítima de acusações absurdas a respeito do desaparecimento de uma jovem criança da vizinhança, Glen vê seu mundo desabar ao ser considerado um monstro pela imprensa, afinal, todos querem um responsável pelo crime, e não bastando, ele acidentalmente morre. O papel de Jean sempre foi ajudar o marido, dar razão a seus pensamentos e fazer o máximo para deixá-lo feliz…. ela casou cedo, abrindo mão de sua juventude para viver um padrão casamento feliz com o homem dos seus sonhos. É fato que ninguém conhece seu cônjuge melhor do que ela, mas duvidar de si mesma ao ter que decidir entre o que é certo nos termos da lei ou o que é certo pra vida conjugal é um extremo ponto abordado na trama.

O interessante é que o livro segue um ritmo bastante próprio, dando a impressão de que estamos perdendo alguém querido também, e nessas situações os pensamentos começam a preencher nossa mente. Para não ficar apenas na perspectiva da recém enviuvada, teremos os pensamentos da mãe da criança desaparecida, Dawn Elliot, do investigador chefe Bob Sparkes, um profissional com a carreira em risco, e a perspicaz jornalista Kate Waters, que diferente dos outros colegas, consegue a atenção de Jean, mostrando os segredos que o casamento feliz tentou enterrar. Curiosamente, Kate é a personagem mais cativante da trama, e é possível sentir que a autora colocou muito de si nela, já que Fiona também é jornalista e dedicou muitos anos na área, inclusive no famoso caso da jovem Madeleine, que desapareceu em 2007. Um coisa é fato, ela sabe do que fala!

A história do livro alterna entre o ano de 2007, quando Bella Elliot, a menina de 3 anos desapareceu; e o ano de 2010, onde Glen, o marido de Jean falece. Esses dois polos mostram o quanto é longo e exaustivo um processo, tanto para a vítima em busca de justiça, quanto para o réu que procura formas de provar sua inocência (ou esconder sua culpa). Com um conteúdo a respeito de abuso sexual e pedofilia na era digital, não é uma obra interessante para quem se considera sensível e não se sente confortável com esse teor que infelizmente faz parte da realidade, e como ficção imita à vida real, nesses casos em livros, podemos evitar. Outro forte ponto, mas que está presente em muitos livros do gênero thriller é a pressão psicológica e o suspense da atmosfera investigativa… assim como as perguntas que não querem calar: QUEM? ONDE? POR QUÊ?!

Considerando que esse é o romance de estréia de Fiona Barton, ele possui um detalhamento digno de um autor de décadas, e está claro que ela gosta do trabalho que fez, tanto que o livro “The Child” (2017) foi recentemente lançado e ao que parece seguirá o mesmo gênero desse. Entretanto, esperamos que os personagens mais interessantes não fiquem de lado, afinal, em “A Viúva” a maioria dos capítulos pertencem a Jean e ao investigador Sparkes, o que saturou a nossa visão dos personagens. Ainda sim, o suspense envolvido valoriza a ideia de pessoas reais sucumbindo a uma suspeita constante que desencadeia em um final espantoso.

Confira uma entrevista com a autora sobre o livro:

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Mais um Otaku soteropolitano que faz cosplay no verão. Gamer nostálgico que respira música e que se sente parte do elenco das suas séries favoritas. Aprecia tanto a 7ª arte que faz questão de assistir um filme ruim até o fim. É um desenhista esforçado e um escritor frustrado por ser um leitor tão desnaturado. É graduando no curso de Direito e formado no de Computação Gráfica. “That’s all folks!"
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