Quando foi lançado Demolidor em 2015,não só surgia o primeiro fruto da parceria Marvel/Netflix, como surgia uma nova forma de fazer adaptações de super heróis. As duas temporadas de Demolidor junto com a intensa Jessica Jones e o controverso Luke Cage conseguiram nos entregar boas histórias, cada uma com seus altos e baixos, porém, com as qualidades se sobressaindo.Faltavam apenas um integrante para formar a base para a vindoura Os Defensores, e eis que chegou: Punho de Ferro.
Mas o que parecia mas uma consolidação, acaba sendo um belo tropeço, não dos mais desastrosos,mas que comprova que a parceria também não é perfeita como todos imaginam e esperam.
A trama, gira em torno de Danny Rand (Finn Jones), um jovem que acabara de retornar à Nova York, após passar quinze anos em um lugar chamado K’un-Lun, onde aprendera artes marciais e se tornara o lendário Punho de Ferro, o guerreiro inimigo declarado do Tentáculo, que deve proteger aquele lugar místico de invasores. Rand, porém, é, também, acionista majoritário de uma das maiores corporações da cidade americana, com bilhões atrelados a seu nome. Sua aparência, contudo, não condiz com seu suposto status, visto que ele está descalço, sujo, com uma longa barba e roupas acabadas. Sem ter como provar sua identidade, ninguém acredita que ele é quem diz ser especialmente considerando que a família Rand fora acreditada como morta em um acidente de avião há quinze anos.
A apresentação do personagem é no minimo interessante, principalmente por mostrar uma pessoa que realmente parece isolado da sociedade há mais de uma década. A forma como ele fala para todos em volta que passou anos sendo treinado em artes marciais por monges até assumir seu papel de Punho de Ferro é bem curiosa. Mostra que ele não tem malícia.
Porem a série das quatros é a que tem mais irregularidades em seu roteiro. Tem seus momentos, e de certa forma entrega um protagonista repleto de duvidas bem humanizadas, mas ao mesmo tempo falha bastante no desenvolvimento de sua historia.
Um exemplo dessas inconstâncias é o grande foco nos irmãos Joy (Jessica Stroup) e Ward Meachum (Tom Pelphrey) tentando levar adiante a empresa após o ressurgimento de Danny. Todo esse lado corporativo do seriado soa como um gigantesco filler, como se não soubessem o que colocar nos treze capítulos que compõem a série. É evidente que a intenção era a de construir a personalidade desses dois personagens, mas tudo soa tão desconexo da trama principal, que, no fim, tem seu valor narrativo reduzido a quase zero, podendo ser facilmente substituído por outra forma de trabalhar com os Meachum, que não envolvesse garantir a eles (em conjunto) tanto tempo em tela quanto o próprio protagonista.
O único fator capaz de melhorar um pouco esse enfoque desnecessário é Harold (David Wenham), o pai dos dois, que nos proporciona alguns trechos verdadeiramente angustiante, especialmente quando em cena com Ward, a quem controla por trás dos panos. Sua figura, porém, é tão explicitadamente vilanesca que se torna irreal, uma crítica exagerada ao corporativismo, ao empresário que vende sua alma pelo negócio – não há realismo algum em Harold, certamente um dos personagens mais desperdiçados do seriado, cuja loucura crescente jamais é explorada a fundo.
Alias outra grande falha do seriado é a falta de um antagonista principal. O Tentáculo é mostrado como principal obstáculo ao longo da temporada, mas a mudança de rostos durante a série acaba tornando a jornada de Danny menos interessante e, por vezes, repetitiva.
O elemento mágico do Punho de Ferro também é subaproveitado e as cenas de ação deixam a desejar, embora melhorem na segunda metade da temporada. Há momentos muito bons, é verdade, como a cena em que Danny tenta proteger Joy de ser sequestrada por vários capangas com machadinhas em um corredor. Sim, um corredor(já um padrão das séries da parceria). A cena é boa, mas também não deixa de ser mais um rip-off de Oldboy, que já havia sido apresentada de forma mais eficiente nas outras séries, especialmente na primeira temporada de Demolidor.
Finn Jones não consegue transmitir toda angustia e indecisão que seu personagem passa durante toda série, alternando unicamente entre o olhar “de combate” e o de inocente, mas a mesma cara sempre!
Felizmente, Jessica Henwick e Rosario Dawson, como Colleen Wing e Claire Temple, respectivamente, salvam o dia contracenando constantemente com o personagem principal. Chega a ser irônico enxergar que ambas passam por um arco dramático mais expressivo que o próprio protagonista, já que Rand começa como um homem tentando ser o Punho de Ferro e termina ainda não sendo o Punho de Ferro (algo gritante, considerando o título do seriado). Temple, recorrente nas séries da Marvel produzidas pela Netflix, conta com uma participação tão grande quanto a sua em Luke Cage e suas ações soarão um tanto forçadas para quem não assistiu os outros seriados, mas nada tão gritante. Colleen, por sua vez, consegue engajar o espectador não somente pela sua história pessoal, como pela interpretação de Henwick, que realmente dá o máximo de si, principalmente nas sequências de ação.
Punho de Ferro no fim, acaba sendo a série mais irregular da parceria Marvel/Netflix. Com um protagonista interessante, mas com pouca construção, subtramas desnecessárias que perduram por toda a temporada e um roteiro cheio de conveniências ao subaproveitar o lado mistico do personagem, a série tropeça e nos mostra que nem sempre a Netflix é sinônimo de qualidade absoluta. Que seja apenas um pequeno deslize, porque Os Defensores vem ai!