Crítica – La La Land – Cantando Estações

Danilo de Oliveira
7 Min de Leitura

Damien Chazelle realizador do ótimo Whiplash – Em Busca da Perfeição, mostra mais uma vez, porque é um dos nomes mais ascendentes do cinema atual. Com La La Land,ele  traz de volta a magia dos musicais da era de ouro de Hollywood não só como uma homenagem, mas como uma declaração de amor do diretor pelo gênero, que se mistura deliciosamente com sua paixão pelo jazz, algo já deixado claro pelo seus dois longas anteriores.

O longa-metragem nos conta a história de Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling), uma atriz no início de sua carreira e um pianista que deseja abrir sua própria casa de jazz, para salvar o gênero musical de uma cidade que idolatra tudo, mas não valoriza nada. Se conhecendo sob circunstâncias inusitadas, eles acabam se apaixonando e acompanhamos seu relacionamento através das mudanças de estação do ano – de Inverno a Inverno. O filme, porém, não nos faz apenas ver essa relação dos dois personagens principais e sim nos faz a sentir, como se nós próprios estivéssemos apaixonados dentro da tela.

Desde o inicio da projeção o filme já prepara o espectador para o está a ver! Com a musica Another Day of Sun, no qual pessoas cantam e dançam mesmo presas no trânsito quilométrico de Los Angeles, faz com que o espectador quebre as barreiras do realismo ao ver pessoas cantando e dançando em um incrível plano sequencia feito por Chazelle e faz com que o choque inicial vire encantamento e cria uma sensação de imersão com o envolvente e singelo longa.

 

Quando a segunda cantoria irrompe na tela não somos pegos mais de surpresa, muito pelo contrário, já estamos participando dela, com a musicalidade em nossas mentes, imersos no espírito da obra, que desde já dialoga com todos nós que lutamos para conseguir nossos sonhos e somos tão golpeados ao longo dessa dura estrada.

O que faz de “La La Land” diferenciado é sua estética parnasiana (fazendo-se aqui uma analogia em relação aos pilares do movimento literário): os sons e as imagens são arrebatadores. O imprescindível está lá: o musical tem ótimas canções, tão boas que contagiam o espectador, quase impelido a aderir às coreografias muito bem executadas pelo elenco. Merece nota a mixagem de som, que consegue dosar tudo que a edição fornece (destaque para o som dos sapatos no asfalto).

Tecnicamente o longa é perfeito! O diretor elabora uma homenagem à “Era de Ouro de Hollywood”, fazendo referências expressas a  vários clássicos. No que se refere às cores, o figurino de Stone varia bastante (azul, amarelo, verde, preto, branco, roxo), dando ensejo à primorosa fotografia. Criativa, a direção de arte se esmera na criação dos cenários, exemplo é o banheiro da casa de Mia, que mistura uma cortina estampada em vermelho rosado e fundo branco, parede rosa e azulejo verde. Com CGI bem executado (em especial na fabulosa e delicada cena no planetário), o design de produção é exemplar.

Tudo isso comandado pela maravilhosa direção, cuja qualidade fica evidente já no fantástico prólogo, um plano-sequência dificílimo. Chazelle dá clara preferência por planos longos e planos-sequência (eventualmente simulando, como fez Iñárritu em “Birdman”, exemplo recente que também aposta na metalinguagem artística), o que impacta na montagem: são poucos os cortes e as transições evitam fades, prevalecendo a transição suave de um plano para outro, e máscara em círculo (um círculo se fechando em um ponto até a tela ficar preta e abrir novamente da mesma forma, artifício recorrente no cinema mudo).

 

Ryan Gosling e Emma Stone tornam toda a construção fluida, ambos desempenhando um dos melhores papeis de suas carreiras. Não só através de suas movimentações nas quais cada passada parece ter sido milimetricamente estudada, tornando até o flutuar algo orgânico, como na forma que se entregam a seus personagens. Mesmo nos silêncios conseguimos sentir ambos, de tal maneira que ganham vida diante de nossos olhos, nos fazendo sentir suas dores, alegrias, tornando seus sonhos os nossos. Acompanhar esse casal é se deixar entregar a uma espiral de emoções, que nos remetem aquele grande amor que todos vivemos. A música ainda faz o máximo para aproveitar a voz de ambos, levando em conta suas limitações, sem exagerar ao ponto de pedir mais do que eles poderiam realizar.

As melodias do longa atingem seu ápice em City of Stars, uma música mais simples, marcada pelo som do piano e a voz dos atores, confiando plenamente no poder da imagem, que nos envolve sem precisar de mais nada – já estamos completamente envolvidos e nos vemos cantarolando a canção durante e depois da sessão, apaixonados pelo que acabamos de ver.

Por fim La La Land: Cantando Estações é incrível! Temos aqui não só uma homenagem ao cinema, ao jazz, mas um filme para todos aqueles tolos que ousam sonhar e, é claro, perseguir seus sonhos, independente dos custos que inevitavelmente irá pagar, dos tropeços, das lágrimas deixadas pelo caminho. Uma obra que traz otimismo em uma época que tão desesperadamente precisamos dele, nos fazendo abraçar justamente as emoções que nos tornam humanos. Um filme que nos faz querer vê-lo de novo logo após de deixar a sessão, como aquela pessoa especial que queremos ver novamente segundos após ter se despedido.Magnífico é pouco!

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