Carrie Fisher: Um ícone de esperança para a cultura pop!

Danilo de Oliveira
6 Min de Leitura

Carrie Fisher não tinha nem 20 anos quando Star Wars chegou aos cinemas. Com essa idade num dos grandes sucessos da cultura pop, pouca gente consegue se preparar para o que vem. Some a isso algumas doses pesadas de sexismo e o resultado não poderia ser dos melhores.

Mas ao enrolar as tranças na lateral da cabeça e vestir um longo vestido branco e apareceu escondendo algo em robozinho azul em Uma Nova Esperança (1977), daquele momento em diante Fisher se tornou Princesa Leia Organa, papel que que não só a marcaria para sempre, mas que também  toda uma geração. Leia era a princesa que fugia o estereótipo das que esperava o príncipe encantado. Se o tal cavaleiro estava se achando, ela ia lá e beijava seu amigo, só para provar que ela podia. Ela era o cérebro da Rebelião, mas também o sarcasmo em pessoa, com tiradas mais certeiras que a mira de Han Solo ou os voos de Luke.

 

Sua insegurança não aparecia na personagem, que se tornou icônica também pelos penteados e pelas roupas – em entrevista recente, ela falou do pânico ao ver o hoje famoso biquíni dourado e também sua satisfação ao matar com as próprias mãos o vilão que a colocou naqueles trajes. Viciada em drogas já no início dos anos 1980 (“Eu usei cocaína no set de O Império Contra-Ataca, no planeta gelado”), ela começou a perceber que tinha um problema — que seu transtorno bipolar só piorava. Carrie teve uma overdose em 1986 e viu que precisava mudar aquilo. Dedicada a se recuperar, ela escreveu o livro semi-autobiográfico Postais do Abismo, onde contava a história de uma atriz viciada em drogas que, depois de uma overdose, se vê obrigada a morar com a mãe, também atriz, além de arrogante e autoritária.

O livro ganhou uma adaptação para as telas em 1990 com roteiro da própria Fisher e dirigido por Mike Nichols (Closer). Após isso a atriz fez as pazes consigo e aí surgiu, pelo menos de maneira oficial, já que ela já havia feito isso em Star Wars, um dos trabalhos de Carrie Fisher mais interessantes e importantes pra cultura pop, ainda que não existam créditos quanto a isso: Script Doctor.

 

Script Doctors, Consultores de Roteiro ou Analistas de Roteiro são pessoas — como Joss Whedon, Quentin Tarantino e Aaron Sorkin — contratadas pra, literalmente, arrumar o que tem de errado com roteiros, seja reescrevendo diálogos, reconstruindo relações entre personagens, adicionando ou cortando falas… Enfim, tentando salvar o roteiro de um filme.

Hook: A Volta do Capitão Gancho, Mudança de Hábito, Máquina Mortífera 3, O Último Grande Herói, O Rio Selvagem e Afinado no Amor são alguns dos filmes em que ela trabalhou CONFIRMADAMENTE. Há diversos outros que nunca ninguém disse que sim ou que não(boatos correm que a trilogia prequel de Star Wars passou por sua mão).

Você pode achar os roteiros ou qualquer um desses filmes horrendos… Mas, se Carrie Fisher era uma das Script Doctors mais procuradas nos anos 90, imagina o quanto ela não deve ter melhorado cada um deles. Se ama esses filmes, talvez fique surpreso imaginando o quão ruim eles eram anteriormente… Ou o simples fato de que sim, Carrie Fisher o deixou perfeitinho do jeito que você curtiu. 😉

Carrie Fisher ainda escreveu outros sete livros (Wishful Drinking, além do show e especial de TV, é um deles também) e foi voltando de Londres, onde estava promovendo o mais recente (Memórias da Princesa: os Diários de Carrie Fisher, sobre a relação com Star Wars), que sofreu um problema cardíaco, no último dia 23 de Dezembro.

 

Se tudo isso começou com um pedido de socorro a Obi-Wan Kenobi, a última esperança contra o Lado Negro da Força, terminou agora, mostrando que há, sim, uma nova esperança, por dias menos sombrios, com mulheres que sabem que seu lugar é ela própria quem vai decidir; que sabem falar “Eu te amo” e ouvir “Eu sei” sem perder a pose; e que podem ser chamadas de princesas, pois carregam uma realeza que vem do berço, mas se garante nas guerras do dia a dia – aqui ou em galáxias muito, muito distantes.

Ela morreu nesta terça-feira, 27 e, enquanto o Universo vai se lembrar dela pela Princesa Leia e sua inovadora e ousada abordagem para a construção da personagem que  serviu como uma inspiração de confiança e poder para jovens meninas nos cantos mais distantes do planeta, a pessoa física fez ainda mais por nós. Seja pela cultura pop, seja pelas tantas pessoas que ela ajudou, direta ou indiretamente, falando abertamente sobre seus problemas com drogas, doenças mentais e sexismo.

Carrie Fisher fará muita falta, especialmente no mundo em que vivemos hoje em dia. Mas ela deixa algo muito importante pra todos nós: esperança.

Que a força esteja sempre com você, Carrie Fisher! E nossos profundos Obrigado por nos dar esperança em dias sombrios!

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