Crítica – Os Oito Odiados

Danilo de Oliveira
5 Min de Leitura

Em seu oitavo trabalho, o cineasta norte-americano Quentin Tarantino enclausura oito tipos sociais muito precisos dentro de um pequeno armazém para assisti-los se digladiarem.Para brindar os cinéfilos, ainda temos a trilha sonora assinada pelo mestre Ennio Morricone.

Alguns anos após a Guerra Civil Americana, conhecemos o caçador de recompensas John Ruth (Kurt Russell), conhecido como ‘o enforcador’. John está indo para o vilarejo de Red Rock onde entregará a criminosa Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) para a justiça e ficará com a recompensa de 10 mil dólares. No caminho, encontra o misterioso Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), um ex-soldado que adora contar uma história, e também Chris Mannix (Walton Goggins), um homem que está indo assumir o posto de xerife da cidade de Red Rock. Após enfrentarem uma forte nevasca, eles buscam abrigo em um lugar conhecido pelo Major mas chegando lá,encontrando outros tipos, a tensão cresce a cada conversa e a desconfiança toma conta do local.

Esse novo trabalho de Tarantino parece uma peça de teatro aberta ao público(Nos EUA tem até um intervalo durante a sessão). Nos sentimos na platéia vendo e ouvindo o desenrolar de uma trama cheio de entrelinhas em praticamente um cenário, com muitos e ótimos atores em cena.

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Um detalhe interessante  é que não existe um herói claro em Os Oito Odiados. Não temos um mocinho nem alguém com senso de moral óbvio para o público se identificar facilmente – todos são inescrupulosos e, de alguma forma, vilões.  O tema principal são as relações raciais nos Estados Unidos pós-guerra civil, sem deixar de explorar questões bastante contemporâneas.

Sua introdução é longa, paciente, comprovando a paixão do diretor pela construção dos espaços e dos diálogos. Tarantino faz com que seus personagens apresentem uns aos outros para terceiros: “Nossa, esse é o xerife! Como assim, você não conhece o xerife? Deixa eu te contar quem ele é”, ou então “Esse é o enforcador, quando ele pega alguém, esta pessoa sempre morre enforcada”. Fala-se do passado dos protagonistas, de suas características, do seu temperamento.As imagens são compostas com precisão e os diálogos estão afiados como sempre, mas o fato é que os primeiros 80 minutos são puro dialogo,  nenhuma ação se desenrola diante dos olhos do espectador,um detalhe que pode fazer quem não é conhecedor do trabalho do diretor entedia-se.

Porem o filme muda a partir da chegada ao Armazém da Minnie em que a narrativa manifesta uma ousadia impressionante. Ao invés de seguir os moldes clássicos de outros faroestes, o diretor cria uma obra de forma voluntariamente plural, apostando nas reviravoltas, nos excessos, nos flashbacks, na montagem paralela e em diversos outros recursos. A divertida reunião dos odiados traz toda a cota de sangue que se espera do grupo e do diretor, com direito a comentários sociais afiados a respeito da posição social das mulheres, dos negros, dos imigrantes e de outras minorias.

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A filmagem em 70mm é a cereja no bolo a ironia criativa do projeto: Tarantino desejava ter a maior dimensão imagética possível para retratar um lugar pequeno, obtendo um efeito ao mesmo tempo íntimo e abrangente, minimalista e épico.

Rumo à conclusão, a obra abandona as ferramentas do faroeste para mexer com os nervos do espectador e manipular seus personagens de um modo que apenas o cinema de horror mais sanguinário costuma fazer.A trilha de Ennio Morricone, curiosamente criada antes de o compositor ver uma imagem sequer, reforça a aparência de terror, com o tema tenso, em cordas, se intensificando rumo ao clímax catártico.

Tudo isso não seria possível sem a acertada escolha do diretor ao seu elenco.Samuel L.Jackson,Kurt Russell,Tim Roth e entre outros estão excelentes em seus papeis com destaque para Jennifer Jason Leigh, ótima no papel da feroz e badass Daisy Domergue. A atuação deve colocar a atriz como uma das favoritas ao Oscar 2016.

Os Oito Odiados é mais um trabalho onde Tarantino se faz um diretor que volta ao passado para ser sempre um cineasta a frente de seu tempo.Pode não ser o melhor trabalho do diretor ,mas  o brilhantismo do roteiro, o entrosamento do elenco e as associações dos personagens com a guerra civil americana são espetaculares.

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