Bailarina | Spin-off de John Wick entrega vingança com sapatilhas e sangue

Danilo de Oliveira
5 Min de Leitura
4 Ótimo
Critica - Bailarina: Do Universo de John Wick

Desde sua estreia em 2014, John Wick redefiniu os rumos do cinema de ação contemporâneo. Com uma estética estilizada, coreografias precisas e uma mitologia criminal complexa, a franquia protagonizada por Keanu Reeves conquistou público e crítica, revitalizando o gênero e a carreira do astro. Depois de quatro filmes e uma minissérie derivada (O Continental), a saga se expande com Bailarina – Do Universo de John Wick, primeiro spin-off cinematográfico da franquia, que coloca a assassina Eve Macarro, vivida com intensidade por Ana de Armas, no centro do palco — e da mira.

Em Bailarina, acompanhamos a trajetória de Eve (Ana de Armas), uma jovem órfã criada pela misteriosa Ruska Roma após ter seu pai brutalmente assassinado. Treinada como bailarina e assassina sob a tutela da Diretora (Anjelica Huston), Eve carrega um desejo voraz de vingança. Sua busca a leva até o temido Chancellor (Gabriel Byrne), o responsável por destruir sua família, e a mergulha em um submundo onde lealdade e sangue andam lado a lado. Com a ajuda de figuras conhecidas, como Winston (Ian McShane) e até o próprio John Wick (Keanu Reeves), ela enfrentará um caminho mortal que exige força, precisão e sacrifício.

Lionsgate/Reprodução

O grande trunfo de Bailarina é, sem dúvida, Ana de Armas. A atriz entrega uma performance poderosa, misturando vulnerabilidade e brutalidade com nuances que ampliam a personagem muito além do arquétipo da vingadora. É um papel que exige fisicalidade e emoção — e De Armas domina ambos com maestria. Mesmo ao lado de figuras consagradas como McShane, Huston e Reeves, ela se impõe com segurança, consolidando sua posição como uma das grandes atrizes da atualidade.

A direção de Len Wiseman, conhecido por seu trabalho em Anjos da Noite e Duro de Matar 4.0, é outro destaque. Ele consegue captar a essência visual da franquia sem parecer imitativo, apostando em cenas de ação intensas, bem coreografadas e surpreendentemente íntimas, que priorizam a fisicalidade crua ao invés de exageros cartunescos. O duelo com lança-chamas e o embate com John Wick são pontos altos, tanto pela técnica quanto pela carga dramática.

Lionsgate/Reprodução

A fotografia de Romain Lacourbas é impecável. A paleta de cores neon, já característica da saga, retorna com ainda mais força, conferindo um tom onírico e violento à jornada de Eve. A atmosfera noir é preservada e elevada por locações exuberantes e enquadramentos elegantes que transformam cada cena em uma pintura sombria.

O roteiro de Shay Hatten, embora convencional em estrutura (claramente inspirado na “jornada do herói”), acerta ao dar espaço ao desenvolvimento de Eve e ao equilibrar bem o drama pessoal com o espetáculo da ação. Os diálogos são pontuais e, quando beiram o teatral, funcionam dentro do tom operístico do universo John Wick.

Lionsgate/Reprodução

Apesar de suas virtudes, Bailarina tropeça em alguns momentos. O ritmo do segundo ato desacelera demais, criando uma sensação de estagnação narrativa que poderia ter sido evitada com uma montagem mais dinâmica. Além disso, por ser parte de uma franquia tão consolidada, o filme carrega o peso das comparações — e em alguns trechos, a ausência de John Wick como protagonista pode frustrar os fãs mais devotos do personagem original.

Outro ponto de tensão está na construção do vilão Chancellor. Apesar da ótima atuação de Gabriel Byrne, seu arco carece de complexidade. Sua motivação e presença acabam se tornando quase genéricas, o que destoa do padrão elevado estabelecido pelos antagonistas anteriores da saga.

Lionsgate/Reprodução

Bailarina – Do Universo de John Wick é um spin-off que honra o espírito da franquia e, ao mesmo tempo, encontra voz própria. Ana de Armas entrega uma performance marcante que injeta nova energia ao universo de assassinos e códigos silenciosos. Ainda que não escape de alguns tropeços narrativos, o longa se destaca por sua estética afiada, cenas de ação de tirar o fôlego e um protagonista que sabe muito bem como dançar com a morte.

No fim das contas, o legado de Baba Yaga está em boas mãos — e pés.

Critica - Bailarina: Do Universo de John Wick
Ótimo 4
Nota Cinesia 4 de 5
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