O Remake de Lilo & Stitch é o Abraço Quente que a Disney Precisava

Danilo de Oliveira
6 Min de Leitura
4 Ótimo
Critica - Lilo e Stitch

Ao longo de décadas, a Disney se consagrou como um império cinematográfico com uma fórmula que mistura técnica, emoção e inovação. Desde os primórdios com Branca de Neve até a era moderna dominada por blockbusters e franquias, o estúdio soube se adaptar – ora conduzindo revoluções estéticas, ora revisitando seu próprio catálogo com os famosos remakes em live-action. Esses relançamentos, por vezes desnecessários (Pinóquio, estamos olhando para você), têm oscilado entre acertos artísticos (Mogli, Cinderela) e tentativas frustradas de reviver a magia original. E em meio a esse mar de nostalgia, a escolha por refilmar Lilo & Stitch gerou certa surpresa e muita expectativa.

Lançado originalmente em 2002, o desenho Lilo & Stitch furou a bolha de outras animações do período por apostar em uma história sensível sobre luto, solidão e pertencimento — tudo isso emoldurado pelo cenário havaiano e embalado por Elvis Presley. Com personagens carismáticos e um alienígena que se tornou ícone cultural, o longa conquistou um legado duradouro. Agora, mais de vinte anos depois, o remake dirigido por Dean Fleischer Camp não apenas honra esse legado: ele o expande com sensibilidade e surpreendente profundidade emocional.

Disney/Reprodução

O enredo do live-action segue de perto a narrativa original. Stitch (voz de Chris Sanders), uma criação alienígena caótica e quase indestrutível, é condenado ao exílio por não possuir compaixão. Em sua fuga, ele aterrissa no Havaí, onde é confundido com um cachorro e adotado por Lilo (Maia Kealoha), uma garota solitária que vive com a irmã mais velha, Nani (Sydney Elizebeth Agudong), após a morte dos pais. Conforme Stitch se infiltra na vida das duas, surgem questões de pertencimento, empatia e o poder transformador da família – ou da ohana, como aprendemos a dizer.

Dean Fleischer Camp, conhecido por seu trabalho delicado em Marcel the Shell with Shoes On, traz sua assinatura para o projeto com uma abordagem cuidadosa e emocionalmente ressonante. Sua direção equilibra bem o humor e a melancolia, transformando o filme em um coming-of-age surpreendentemente maduro. Ao invés de apenas replicar a animação, o remake se permite aprofundar temas importantes como luto, amadurecimento precoce e desigualdade social — dando mais camadas às personagens e ao enredo.

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Maia Kealoha, em sua estreia, brilha como Lilo. Sua atuação mistura traquinagem infantil e vulnerabilidade genuína com carisma raro. Já Agudong entrega uma Nani marcante, equilibrando juventude frustrada e responsabilidade forçada com intensidade dramática. A química entre as duas sustenta o filme emocionalmente. O elenco de apoio — como Zach Galifianakis como o insensível cientista Jumba, Billy Magnussen como o desajeitado Pleakley, e Courtney B. Vance como o austero, mas humano, Cobra Bubbles — oferece alívio cômico e peso dramático em igual medida.

E claro, há Stitch. O CGI surpreende ao entregar um alienígena expressivo, adorável e convincente. Cada movimento e expressão foram desenhados para maximizar o fator fofura sem comprometer a verossimilhança. A Disney claramente entendeu que errar no Stitch seria um pecado capital — e acertou em cheio.

Disney/Reprodução

Assinado por Chris Kekaniokalani Bright e Mike Van Waes, o roteiro acerta ao ser fiel ao espírito original sem cair na armadilha da repetição. Há novas cenas, personagens aprofundados (como a assistente social Kekoa, vivida por Tia Carrere, ex-voz da Nani), e uma ambientação que valoriza o Havaí não como pano de fundo exótico, mas como parte orgânica da trama. O aspecto sci-fi funciona como metáfora para o deslocamento emocional dos protagonistas, e o filme é cuidadoso ao estabelecer paralelos entre Stitch e Lilo, ambos “fora do lugar”, ambos à procura de um lar.

Ainda assim, o longa não está isento de falhas. Em alguns momentos, a narrativa perde o ritmo, especialmente no segundo ato, quando a ação alienígena ameaça roubar o protagonismo da relação entre as irmãs. Além disso, certas decisões visuais podem parecer artificiais demais para espectadores mais exigentes, principalmente em cenas com múltiplos efeitos digitais. Felizmente, essas escolhas não comprometem o resultado final.

Disney/Reprodução

O novo Lilo & Stitch é, acima de tudo, uma prova de que remakes ainda podem ter razão de existir — quando conduzidos com respeito, afeto e criatividade. Dean Fleischer Camp e seu time não apenas recriaram uma animação querida: eles a revisitaram com olhos atentos ao presente e coração voltado ao passado. O resultado é um filme que emociona, diverte e — como a própria Lilo — não se encaixa em padrões fáceis, mas conquista por ser exatamente quem é.

Para fãs da animação original, o filme é uma carta de amor. Para novas audiências, é uma porta de entrada para um dos contos mais doces e sinceros da Disney. E para todos nós, é um lembrete poderoso de que família — ohana — pode mesmo ser encontrada nos lugares mais improváveis.

Que bom que Lilo & Stitch não ficou apenas no Disney+. Ele merecia as telonas — e nós também.

Critica - Lilo e Stitch
Ótimo 4
Nota Cinesia 4 de 5
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