Emília Perez é uma miscelânea travestida de musical e esteriótipo

Danilo de Oliveira
7 Min de Leitura
2 Ruim
Crítica - Emilia Perez

O polêmico Emilia Perez chega aos cinemas nacionais, mais por seu burburinho repleto de polêmicas envolvendo a produção europeia que conta uma história se passando no México, mas não filmada no país, tendo atores americanos para os papeis principais, além dos escândalos envolvendo as falas do diretor  e os antigos tweets de cunho xenofóbicos e racistas de sua protagonista, do que por seus méritos de ter sido indicado a 13 prêmios no Oscar desse ano, e sendo o principal adversário de Ainda Estou Aqui para a premiação.

Destaque no Festival de Cannes em 2024, de onde saiu premiado pelo juri, o longa aposta em um dramalhão com um musical, para trazer uma entrelaçada história de dois desconhecidos, que vêm de realidades diferentes, mas se encontram em seus anseios de um futuro melhor. Porém tudo isso é jogado como se fosse fazer um bolo, mas que o resultado é um completo caos estereotipado, que soa como um desrespeito aos latinos, assim como a comunidade LGBTQI+ por apenas explorar suas temáticas de forma rasa.

Na trama, Rita (Zoe Saldana) é uma advogada frustrada por trabalhar numa firma corrupta, enquanto o chefe leva os louros de seu trabalho. Até que ela recebe um convite inesperado de Manitas (Karla Sofia Gascón), um poderoso líder de cartel que contrata seus serviços para ajudá-lo a realizar um sonho: se transformar numa mulher a partir de uma cirurgia de afirmação de gênero.

Paris Filmes/Reprodução

Para isso, o traficante vai fingir a própria morte e assumir o nome de Emilia Perez, algo que esconde até da esposa Jessi (Selena Gomez) e dos filhos pequenos, que passam a morar na Suíça, como forma de proteção. Com o salário dessa missão, Rita se transforma completamente e ganha uma nova vida, só que, quatro anos depois, ela reencontra Emilia, que pede sua ajuda novamente. Dessa vez, para voltar ao México com esta nova identidade e reencontrar os filhos.

O roteiro é um turbilhão de coisas: explora os carteis mexicano como um Breaking Bad, vai para o desejo de uma pessoa de querer ser quem ela idealiza ser, passa por amor a família e perdão, tudo isso embalado por um controverso musical que vai gerar a maior divisão entre os espectadores.

A ousadia do realizador Jacques Audiard não a duvidas aqui, o problema é a  inconsistência de ritmos gerada e intercalada pelos números musicais parece não encaixar: existem momentos profundos, e outros nos quais o público fica em dúvida se é pra rir ou não. É algo que vai dos extremos de um thriller violento até o melodrama de uma novela. Se isso era para refletir o tumulto presente dentro da própria personagem, que cresceu dividida entre a sua verdadeira essência e a personalidade que precisou assumir para sobreviver num local hostil, isso fica na primeira camada de tão rasa quanto suas temáticas são exploradas.

Paris Filmes/Reprodução

O México é explorado da forma mais estereotipada que sempre vemos no cinema americano, com a fotografia amarelada de sempre, repleto de carteis violentos e população marginalizada. Nem a questão da resignação sexual é abordada com profundidade. Chega a ser quase uma afronta a comunidade LGBTQI+ que para ser uma mulher Montes precisa passar pelo processo, isso sem falar de uma canção durante o filme que é bem constrangedor.

Nem sua parte musical é motivo de destaque: as canções criadas por Camille Dalmais e Clément Ducol, em sua maioria são inconstantes e mesmo utilizando distinção clara nos estilos de Rita (mais voltado pro rap), Emilia (algo suave) e Jessi (pop rebelde, suas execuções durante o filme parece ter vergonha de se encaixar no nele. Apenas “El Mal” tem a melhor execução com coreografia, fotografia e montagem fazendo um bom trabalho.

Paris Filmes/Reprodução

O grande destaque do filme está sim em Zoe Saldana. A atriz que estrelou  blockbusters como Avatar e Guardiões da Galáxia, entrega um dos seus melhores papeis da carreira, ela  se entrega às coreografias e representa a transformação intimista de Rita – não somente da pobreza para riqueza, como do cinismo para a bondade passando também pela violência. Estopim das maiores polêmicas envolvendo a campanha do filme, Karla Sofia Gascón também consegue se sair bem e entregar um bom papel, apesar de algumas ressalvas. A atriz transita bem entre seu lado mais vulnerável até a raiva que carrega dentro de si, além da transformação física que o papel necessita. Quem realmente sofre aqui do trio é Selena Gomes. A atriz que recentemente brilha na série Only Murder in the Building, traz em sua Jessi um papel que apesar de alguns pontos dramáticos interessante, sofre com inconstâncias, além de um sotaque super puxado que destoa muito das demais, além de sua reviravolta final ser muito pifia. Nem as musicas parecem explorar o potencial musical dela, indo no mais básico pop possível!

Pra finalizar, Emília Perez tem mais polêmica que talento em fazer jus as 13 indicações ao Oscar (Ele tem o mesmo numero de indicações de O senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel e E O Vento Levou…). É um filme que explora de forma estereotipada o México, além de ser raso na questão queer, entregando um produto que parece uma miscelânea de temas travestidos em um musical bem controverso.

Crítica - Emilia Perez
Ruim 2
Nota Cinesia 2 de 5
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