Crítica – Batman: A Piada Mortal

Danilo de Oliveira
7 Min de Leitura

Possivelmente a melhor história sobre Coringa e uma das melhores obras do quadrinista Alan Moore, A Piada Mortal chega a DVD (e exibido em cinemas selecionados) sobre grande expectativa. Mas será que a adaptação faz jus a obra?

Pra começo de conversa, A Piada Mortal nas HQs é uma história curta, a tentação de fazer apenas e tão somente uma transposição literal seria muito grande. E isso duraria talvez menos do que às 1h e uns quebrados de duração do filme. Portanto os produtores da adaptação optaram por trabalhar uma espécie de prólogo, totalmente inédito, antes de entrar na trama entre Batman e Coringa propriamente dita. E colocando a Garota-Morcego como protagonista para tentar estabelecer um vinculo entre a personagem e o espectador para a historia que viria a seguir.

Nessa historia mostra sua relação com Batman e como as coisas se complicam quando um mafioso fica obcecado por ela. Com o perigo eminente para a garota, o Homem Morcego decide a deixar de fora do caso e com isso a relação dos dois heróis azeda. As coisas pioram e chegam ao ponto da jovem desistir de combater o crime.

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Antes de mais nada, é importante notar que existe uma grande polêmica em relação à HQ e o tratamento sádico de Barbara Gordon na narrativa. Ela se tornou um dos exemplos mais emblemáticos de “Mulheres na Geladeira“, o conceito criado por Gail Simone, que observa o quão recorrente na cultura dos quadrinhos é a morte, violência e desempoderamento de mulheres, freqüentemente utilizadas apenas como motivação para o personagem masculino.

Ao longo da HQ, Barbara é baleada, paralisada e ainda exposta em um abuso de cunho sexual (o que não significa literalmente estupro, como alguns especulam, mas a alusão à violência sexual é inegável) simplesmente para desenvolver a narrativa do Comissário Gordon dentro da história. Assim, Barbara, em todo o seu sofrimento, é menos uma personagem com autonomia e mais um plot device. Apenas depois, a personagem foi transformada em Oráculo por Kim Yale e John Ostrander, desgostosos com o tratamento que Barbara recebeu em A Piada Mortal.

Isso não diminui todo o grande triunfo narrativo da HQ como um todo, mas é uma crítica legítima e muito séria (o próprio Alan Moore em entrevista já declarou que se arrepende dessa escolha) que a maioria dos fãs de quadrinhos prefere simplesmente ignorar. O roteiro desse filme foi escrito por Brian Azzarello, que está ciente dessa controvérsia e decide retificar a situação. Da pior forma possível.

Como forma de dar autonomia a personagem, esse começo também tem pouco a ver com o resto do filme, além de ser arrastado e sem justificativa para ser tão longo (tirando, é claro, dar uma enrolada para o filme atingir os 75 minutos de duração). Sem falar que tudo isso tem um efeito contrario,o que eles fazem pela personagem da Barbara é dar a ela uma subtrama que consiste na sua incapacidade de conciliar a vida profissional e emocional com sua atração pelo bat-macho alfa. E vou mais, retrata a Barbara como sendo impulsiva, inconsequente e facilmente manipulável e é apenas acentuada como motivação para os personagens masculinos; agora o Batman, além de apenas o Gordon.

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Ao final do prólogo, entramos então na Piada Mortal exatamente como é na graphic novel. Cena por cena, aliás. Em termos de história, tudo segue basicamente a cartilha do roteiro do Alan Moore, com uma pequena inserção ou outra para dar mais volume, em especial no momento em que o Batman enche a bandidagem de porrada para descobrir uma pista de onde diabos o Coringa foi parar depois que fugiu do Asilo Arkham.

Porém com isso o filme caminha melhor? Em partes sim e outras não!

É como se o filme estivesse reproduzindo automaticamente a maior parte dos quadros de forma idêntica, mas também mudando um ou outro só pra variar, sem entender muito como cada um deles se encaixa na grande narrativa e sem muito entendimento da linguagem cinematográfica.

A narrativa visual acaba ficando bastante linear, tradicional, diferente dos quadros quebrados, desalinhados e que refletem bastante da loucura do Coringa. Por sinal, o texto de Moore, no original, é incrível, mas só consegue o impacto desejado graças à força da arte do Brian Bolland. E isso faz muita falta no filme. A animação não é ruim. Não. Mas ela é simplesmente… Óbvia. Normal demais. Burocrática pode dizer.

A animação pega emprestado o estilo da serie animada dos anos 90 o que não é ruim, mas inferior as animações anteriores da empresa.

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Bom de positivo tem o ótimo trabalho dos atores por trás da dublagem. Destaque claro para o Coringa, vivido novamente por Mark Hamill, o Luke Skywalker da franquia Star Wars. O ator marcou uma geração ao emprestar sua voz aos desenhos e games que apresentavam o vilão. Com a voz distorcida pela insanidade do Palhaço do Crime, o ator mostra, novamente, o motivo de ser conhecido por muitos como a voz do Coringa e ajuda a dar o peso necessário à trama adulta e violenta dessa adaptação. Kevin Conroy e Tara Strong também estão muito bem como Batman e Batgirl respectivamente.

Batman: A Piada Mortal é uma adaptação simples e burocrática de umas das melhores HQs de todos os tempos. O filme é indeciso se quer fazer algo novo ou fielmente adaptar A Piada Mortal, e acaba por simplesmente bagunçar o roteiro redondíssimo de Alan Moore para costurar muita gordura de forma crua em uma execução morna do clássico.

 

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