Grande Sertão | Adaptação moderniza a clássica e atemporal obra de Guimarães Rosa

Danilo de Oliveira
6 Min de Leitura
4 Ótimo
Crítica - Grande Sertão

Grandes Sertão Veredas é uma das maiores obras literárias do nosso país. O livro escrito por Guimarães Rosa em 1956, ainda hoje é uma obra atemporal que abrange em suas entre linhas, a violência e a pobreza em um local dominado por jagunços e cangaceiros e com descaso do governo, assim como também abordar a intolerância religiosa e relações homoafetivas, o livro volta e meia sempre volta a pauta.

O diretor Guel Arraes que já adaptou uma obra do imaginário nordestino com o clássico O Auto da Compadecida juntamente com o roteirista Jorge Furtado ( de O Homem Que Copiava) atualiza a obra e fazem uma adaptação mordenizada da obra, mas ao mesmo sem perder sua identidade e manter a narrativa em prosa do livro, quase sendo um teatro em tela.

Paris Filmes/Reprodução

Na trama do filme, em um território distópico atemporal, todo recortado por guetos, favelas e facções, o professor Riobaldo (Caio Blat) tenta sobreviver no Sertão, local dominado pelo bando de Joca Ramiro (Rodrigo Lombardi). Quando uma aluna sua é baleada na porta a escola, Riobaldo conhece Otacília (Mariana Nunes), mãe da menina, e reencontra Diadorim (Luisa Arraes), seu antigo amigo de infância que lhe encoraja a não ter medo da vida. Dessa encruzilhada, Riobaldo repensará sua interpretação de mundo e os desdobramentos no Sertão. Porém, quando uma guerra explode encabeçada por Hermógenes (Eduardo Sterblitch) e revidada pelo comandante do exército, Zé Bebelo (Luís Miranda), Riobaldo terá que colocar à tona a coragem que não sabe existir dentro de si, ao mesmo tempo em que tentará entender os motivos de seu peito bater de forma diferente por Diadorim.

O roteiro como eu disse na introdução conseguiu com êxito adaptar um livro extenso que tem em seu protagonista seu narrador de forma quase que literal ao da obra literária e com a mordenizada no cenário da trama do sertão dos cangaceiros e jagunços para um complexo de favelas e suas gangues e milícias isso fica ainda mais compressível para o novo público absorver a estrutura teatral que o filme apresenta pelas suas quase 2 horas de duração.

Paris Filmes/Reprodução

Em alguns momentos parece um pouco apressada seus eventos, mas o ritmo é conduzido de forma magistral pelo diretor e sua equipe. A forma teatral também pode ser um certo empecilho pra alguns e com certeza não será uma obra pra todos os públicos, mas como eu disse acima, a modernizada no cenário é o grande acerto pra fazer o público mais novo mais identificável e até procurar conhecer a obra original.

A caracterização dos personagens impressiona, tanto no figurino quanto na maquiagem/cabelo – setores comandados por Cao AlbuquerqueDiana Leste e Rosemary Paiva. Esses departamentos conseguiram fazer coisas impressionante nos visuais de Rodrigo Lombardi e Eduardo Sterblitch que são rústicos e bizarros em seus personagens. Aliás, Sterblitch entrega um Hermógenes que causa estranhamento e medo a cada momento em tela. Talvez um de seus melhores e mais diferentes papéis da carreira.

Paris Filmes/Reprodução

Caio Blat que vive Riobaldo pela terceira vez (depois da peça que saiu em turnê pelos CCBBs em 2017, com parte desse mesmo elenco, e depois de gravar esta peça encenada no filme ‘O Diabo na Rua no Meio do Redemunho’, que passou ano passado no Festival do Rio) e parece cada vez mais identificado a ele, o fazendo com uma extrema facilidade, textos e fisicalidade complexas dele. Luísa Arraes não fica pra trás e entrega um Diadorim com sangue nos olhos, valente, líder e inspirador. A atriz explora sua fisicalidade e expressões de forma grandiosa. Outro destaque está para Luís Miranda e seu Zé Bebelo. O ator muito visto em comédia, sabe usar isso ao seu favor pra trazer um personagem que une o poder da polícia com a malandragem política e acerta sem exagerar.

A parte técnica é de se impressionar! A fotografia de Gustavo Hadba é exuberante e passa um incrível realismo ao conjunto de favela do Sertão. As tomadas de cenas de ação são bem enquadradas e temos uma boa proporção do que está acontecendo ao mesmo que parece um contemplamemto em meio a uma tragédia. Tudo aqui tem um escopo bem amplo e merece elogios.

Paris Filmes/Reprodução

Grande Sertão é um filme corajoso e ambicioso, de energia ativa e personagens apaixonados que moderniza a clássica e atemporal obra de Guimarães Rosa e entrega uma produção nacional de qualidade incrível. Não será um longa pra todos devido ao seu texto quase que teatral, mas não deixa de ser um pedida para a nova geração conhecer esse clássico da literatura nacional!

Crítica - Grande Sertão
Ótimo 4
Nota Cinesia 4 de 5
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