Já falei em varias outras críticas aqui no site que Hollywood hoje está na moda das cinebiografias. Só no ano passado, obras como Oppenheimer, Napoleão, Maestro, Priscilla, Som da Liberdade e outras foram presenças garantidas e algumas marcantes para nos expectadores, esse ano Bob Marley: One Love, já mantem esse gás.
Lançado ano passado, mas só estreando agora em fevereiro no Brasil, Ferrari, traz o diretor Michael Mann, dono de obras incríveis como O Ultimo dos Moicanos, Fogo Contra Fogo, Colateral entre outros traz em seu novo trabalho a história de vida do poderoso empresário italiano de carros esportivos, Enzo Ferrari.
Ambientada em meados dos anos 1950, acompanhamos um recorte onde o magnata encontra-se em crise. A falência assombra a empresa que ele e a esposa, Laura, construíram, enquanto seu casamento está instável. Assim, Ferrari decide contrapor as perdas apostando tudo na famosa Mille Miglia, uma corrida que acontecerá em pouco tempo, na Itália.
O roteiro de Ferrari, apesar de trazer corridas bem filmadas e algumas até impactantes, não é seu foco, o que pode acabar deixando descontente alguns expectadores que esperam ver isso, e até alguns fãs automobilísticos da Scuderia. Sua estrutura está mais focada no lado pessoal e familiar de Enzo, esses momentos os destaques estão para os embates entre os personagens de Adam Driver e Penélope Cruz. Durante a trama, podemos ver a relação problemática do construtor com sua sócia/esposa, sua relação com sua amante, o luto pela morte do seu filho e detalhes sobre um dos acidentes mais trágicos da história das corridas esportivas. Com isso cine biografado nunca é tratado como um herói ou alguém longe das imperfeições, pelo contrário. São tantas cenas que destacam o lado competitivo e às vezes até impiedoso do empresário.
Não há nenhum problema em trabalhar na parte pessoal do protagonista, mas o principal calcanhar de Aquiles aqui está no seu recorte de época e de como ela sofre de altos e baixos, principalmente por encerrar de uma forma um tanto que abrupta. Em muitos momentos o recorte parece não ter a potência necessária para entreter.
Mas ainda sim, o longa tem muitos pontos positivos, destaque para seu design de produção que consegue com esmero refazer a época com bastante detalhe. O recorte ainda que sofra com suas inconstâncias, conseguem mostrar o lado mais humano e falho de Enzo Ferrari. A fotografia e os figurinos se destacam também, o primeiro trazendo tons quentes para reproduzir muito o que a época e as transmissões de TV das corridas. O elenco como falei se destaca pela dupla Driver e Cruz que dominam os embates, principalmente a segunda que com uma fisicalidade que impressiona portada através de expressões constantes de frustração e dor, Cruz escorre em Laura a potência que muitas das vezes falta a Enzo. Já o Enzo é o tipo de papel que Driver sabe como apresentar frente às câmeras, já até por ter feito outro magnata italiano em A Casa Gucci, que também foi muito bem auxiliado por talento e o departamento de maquiagem.
Vale também destacar as presenças de Shailene Woodley e Gabriel Leone que não comprometem, respectivamente sob as alcunhas de Lina Lardi e Alfonso De Portago.
Pra finalizar, Ferrari é um filme que busca mais retratar um momento emblemático na vida do Enzo Ferrari do que de fato trazer as propostas de muitos outros longas automobilísticos. Não será um filme pra todos, mas é uma cinebiografia que busca mostrar o esforço de um homem em manter o seu legado, custe o custar.