Em Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia de Vingança, a advogada Carla (Cláudia Abreu) vê sua filha ser baleada durante uma tentativa de assalto, o que a deixa em estado grave de saúde, com chances nulas de recuperação. A advogada então busca ajuda na terapia, mas a falta de respostas a faz buscar vingança contra os criminosos.
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Roteiros de suspense como esse não são uma grande novidade, mas o que Tempos de Barbárie tem a seu favor é a união entre fortíssimas atuações e um suspense de nível alto, misturado com a dor quase palpável do luto de uma mãe e seu desejo de se vingar pelo que aconteceu com a filha.
Um ponto muito interessante na história é deixar claro que o que Carla procura não é justiça, e sim vingança, pura e simples. E o fato dela ser uma advogada torna essa escolha no roteiro ainda mais raivosa e dolorosa, pois é uma pessoa que trabalha para fazer o mundo mais justo para os outros, mas o trauma e a dor pelo que aconteceu com a filha diante dos olhos dela, faz com que ela busque fazer justiça, literalmente, com as próprias mãos e em seus próprios termos.
Cláudia Abreu está simplesmente um espetáculo no filme, assim como a Júlia Lemmertz dá outro show no papel da terapeuta Natália, uma personagem muito forte e importante para todo o desenrolar da história, pois enquanto Carla tenta superar o que aconteceu ao mesmo tempo em que é nítido que ela está chegando ao limite, Natália é aquela que está ali para ajudar. É a pessoa que já passou por uma situação semelhante e que superou a sua raiva. Ou não.
Durante o filme a todo momento se fala sobre escolhas que precisam ser feitas, principalmente em relação ao que você deve se permitir sentir e até onde tais sentimentos devem se tornar ações. O que torna a história realmente forte é o discurso da vingança, e isso tem seus lados positivos e negativos, pois ao mesmo tempo que parece ser uma chama que todos nós temos dentro de nós esperando uma pequena fagulha para incendiar, é também um discurso perigoso, que vai desde o “fazer justiça com as próprias mãos”, até os perigos da posse de armas de fogos de forma desregrada.
Inclusive, esse é um alerta dado antes mesmo do filme começar, um aviso sobre os problemas ocasionados pelo acesso facilitado às armas de fogo no Brasil. Muitos podem achar meio incoerente esse aviso dada a forma como a história do longa se desenrola, mas é sempre bom frisar e refrisar que isso é uma obra de ficção, e os acontecimentos retratados na história apontam os muitos problemas que as escolhas da protagonista trazem para a vida dela e, dentre os muito fatores colocados, o papel das armas de fogo nisso e no mundo real.
Dito isso, é ainda mais importante frisar outro ponto:
O longa pode gerar inúmeros gatilhos relacionados ao luto, depressão e suicídio.
Então assistam com cautela.
Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia de Vingança é um filme que te prende e daqueles que te faz refletir sobre o que faria no lugar da protagonista. A história, apesar do “Ato I” em seu título, se fecha, mas é interessante pensar o que poderia ser feito em um Ato 2. Talvez uma antologia, não uma continuação direta – fica aí a dica Marcos Bernstein.