Inspirado em fatos históricos, A Mulher Rei é um daqueles filmes que merecem ser apreciado não só pela sua história, mas também pela celebração de força, de cultura e identidade muito poderosa e emocionante de se assistir. O novo longa estrelado por Viola Davis resgata em um épico de ação belíssimo figuras importantes da África, que certamente conquista por sua história e pela ótima cinematografia da diretora Gina Prince-Bythewood.
A Mulher Rei conta a notável história das Agojie, a unidade feminina de guerreiras que protegia o reino africano de Daomé em 1800 com habilidades e uma ferocidade diferente de tudo que o mundo já viu. Inspirado em fatos reais, o longa segue a jornada emocionalmente épica da General Nanisca (a vencedora do Oscar Viola Davis) enquanto ela treina a próxima geração de recrutas e os prepara para a batalha contra um inimigo determinado a destruir seu modo de vida.
Unindo a história real e dando espaço para uma boa parcela de ficção, o roteiro assinado por Dana Stevens é categórico ao explorar para o espectador sobre quem são as Agojie, sem as colocar como guerreiras imbatíveis, mas também como mulheres que tem dores, traumas, sonhos e objetivos, tudo isso inserido em um drama coerente. Toda construção gera uma ótima empatia, já que quase somos inseridos a conviver e conhecer um pouco do dia a dia dessas guerreiras formidáveis. É nessas simples interações onde o texto consegue nos emocionar e manter imerso na história quando não há momentos de combates e ação intensas do longa.
Só acho que a parte negativa histórica é o surgimento de brasileiros na trama, e por incrível que pareça a produção se utiliza de americanos imitando brasileiros, algo totalmente bizarro nos dias de hoje, ainda mais com o leque de ótimos atores brasileiros que poderiam estar ali representando a língua portuguesa. É quase cômico ouvir a língua portuguesa com aquele sotaque estranho, sendo que também os personagens também são a parte mais bleh da trama, onde o foco é maior na disputa entre o reino de Daomé com o Imperio Oyo e claro o núcleo das Agojie.
Aliás, o elenco, é um grande acerto durante toda a jornada proposta. A fisicalidade, a caracterização das personagens é o ponto alto do filme, é tudo muito impressionante e ajuda na vinculação da trama. A construção dos conflitos e relações entre as personagens são o ponto chave da conexão do filme com o telespectador até o final. Falar que Viola Davis está incrível é chover no molhado. Aos 57 anos ela entrega força, poder e autoridade na figura da Nanisca, ao mesmo tempo fragilidade, ela esmorece com sutileza, se torna transparente e transmite pelo olhar hipnotizante a dor de sua personagem com um equilíbrio soberbo. Ao lado dela está Thuso Mbedu, atriz sul-africana que brilhou na série The Underground Railroad, do Prime Video, e que aqui traz camadas interessante para sua Nawi. Enquanto seu arco cresce na tela, a expressiva atriz vai crescendo junto, mostrando preparo, autonomia e muito dinamismo em sua atuação e que se agiganta mesmo diante da presença forte de Davis. Uma atriz que merece ser mais vista por Hollywood! Lashana Lynch (007: Sem Tempo Para Morrer) e Sheila Atim (Doutor Estranho no Multiverso da Loucura), que vivem Izogie e Amenza, respectivamente, também merecem ser aclamadas por seus papéis. Lynch traz um tom de leveza à trama com sua Izogie, um dos braços direitos de Nanisca e que auxilia o treinamento de Nawi, gerando ótimas interações cômicas entre as duas. Amenza, personagem que é a melhor amiga de Nanisca e seu outro braço direito, é também um dos maiores destaques de A Mulher Rei. Com uma atuação extremamente convincente, Atim traz um contraste interessante à personagem de Davis e se encarrega de garantir junto à veterana os momentos mais emocionantes do filme. Até John Boyega como o Rei Ghezo, está muito bem, mesmo não sendo o foco do longa, o ator consegue se sair muito bem.
Outro ponto a destacar aqui está claro em suas impressionantes cenas de ação. Tudo é muito bem coreografado e tem uma visceralidade incrível por parte das Agojie e mostra como aquele exército era mortal. Já acostumada a lidar com a ação a diretora Gina Prince-Bythewood consegue trazer impacto a cenas sem precisar ser bastante gráficas. Você sente quando alguém é golpeado e a entrega e fisicalidade do elenco ajuda a passar isso. Destaque ainda para a belíssima fotografia comandada por Polly Morgan (Um Lugar Silencioso: Parte II), um verdadeiro espetáculo visual que reforça ainda mais a potência desse projeto. O mesmo podemos dizer sobre o impecável figurino assinado por Gersha Phillips (Star Trek: Discovery) e a trilha sonora escolhida a dedo que trazem ao longa um toque bastante especial.
Pra finalizar A Mulher Rei é um espetáculo grandioso, eficiente e porque não emocionante que representa a história importante da cultura africana e do povo negro. Um filme que assim como sua protagonista é poderoso em sua mensagem, assim como ser um produto de entretenimento de qualidade para ser visto nas telas do cinema.