Desde de surgiu dirigindo Todo Mundo Quase Morto (2004) passando por Chumbo Grosso (2007) Scott Pilgrim contra o Mundo (2010) e chegando a Ritmo de Fuga (2017) Edgar Wright aprimorou e traçou sua identidade em contar histórias. Mostrando afiado em tecer comedias inglesas repletas de referencias a cultura pop, o diretor que é sem duvidas um dos mais promissores da sua geração traz mais uma de suas histórias mergulhando no thriller psicológico no exuberante Noite Passada em Soho.
Unindo o contemporâneo e a admiração histórica de maneira ainda mais visível que nos seus trabalhos anteriores Wright utiliza o terror que bebe da fonte do Giallo (sub-genero do horror famoso na Italia) mas precisamente de obras dos diretores Dario Argento e Mario Brava para contar uma historia que literaliza um conflito entre o moderno e o antigo, além de trazer temáticas atuais.
Na trama acompanhamos a estudante de moda recém-chegada na metrópole britânica, Eloise (Thomasin McKenzie, crescendo a cada trabalho) não se encaixa muito bem entre os outros estudantes da sua universidade. Ela bem que tenta, mas não consegue ser tão cool quanto Jocasta (Synnove Karlsen), sua colega de quarto. Quando aluga um quarto em uma velha casa no bairro badalado do Soho, no entanto, ela começa a ter sonhos e visões da vida de Sandie (Anya Taylor-Joy), aspirante a cantora que buscou a fama na Londres dos anos 1960, com a ajuda do charmoso Jack (Matt Smith), seu namorado e empresário. Mas a Londres dos anos 1960 não é o que parece, e sua trajetória começa a tomar consequências sombrias que terão impacto também na vida de Ellie.
Sendo seu primeiro longa protagonizado por uma mulher, e primeiro em que totalmente mergulha no gênero horror, Wright e a corroteirista Krysty Wilson-Cairns (1917) não tem pressa para introduzir sua premissa e aos poucos nos imergir em seus desdobramentos. Mostrar a chegada de Ellie, sua busca por realizações e choca-la com a realidade cria um vinculo com a protagonista que tal desconstrução sentida pela a mesma é igualmente sentida por nós.
A trama vou tentar me adentrar o mínimo possível, já que assim como Maligno, quanto menos se sabe melhor sua imersão nela, mas há como eu disse bastante referencia nos clássicos italianos como Suspiria de Dario Argento assim como de O Pássaro das Plumas de Cristal (1970),quem já conferiu esses longas saberá quais os detalhes que falo. Há também claras referencias a Repulsa ao Sexo (1965), de Roman Polanski nos símbolos de linguagem e temores eróticos. Além disso a temática trabalha bastante esse conflito entre a nostalgia e o atual. Viver intensamente no passado nostálgico ou saber reverenciar o passado sem deixar de viver no atual? Sem falar na temática da misoginia e dos abusos sofridos pela mulheres desde daquela década e que ainda são atuais hoje. Tudo isso é bem explorado em seu roteiro.
Como toda produção do cineasta sua estilização é um show a parte! Sua parte sonora é sensacional e tanto as musicas quanto o design e edição são incrivelmente bem escolhidas e soam quase como um narração em off. A trilha incidental de Steven Price, confere bem a obra o estilo dos Giallo com ruídos ampliados. A fotografia neon em excesso de Chung Chung-hoon também característicos cria cenas e um clima genuíno ao longa. Alias o trabalho de recriar a Londres dos anos 60 é primorosa e cheia de referencias como o cartaz de 007 Contra a Chantagem Atômica. É de encher os olhos assim como os truques de câmeras e manejos que o diretor utiliza para criar cenas impressionantes como a da pista de dança onde a personagem da Anya e da Thomasin alternam dançando com o do Matt Smith.
O elenco é outro destaque: Thomasin McKenzie é um talento em ascensão, e uma excelente “scream queen”, marcando bem as expressões de choque além de uma elasticidade emocional já vista em trabalhos anteriores. Anya Taylor-Joy mostra porque é uma das artistas que será a nova queridinha (só no IMDB são seis produções com estreia marcada para os próximos dois anos) e, como sempre, é totalmente hipnotizante quando está em tela. Matt Smith também está muito bem no papel de Jack, o “empresário” de Sandie.
O filme ainda reserva um sentimento nostálgico por trazer os últimos papéis das divas e Bond girls Margaret Nolan (007 Contra Goldfinger) e Diana Rigg (007 a Serviço Secreto de Sua Majestade), onde esta última desempenha uma grande performance na pele da curiosa senhora Collins. Da mesma maneira também pdemos rever o veterano ator Terence Stamp (Superman 2 – A Aventura) ganhar um papel de destaque como um homem misterioso que parece ter uma ligação com Sadie.
No final, Noite Passada em Soho pode até ter uma resolução de seu plot um tanto que satisfatória somente, mas ainda sim, não é só um dos filmes mais estilosos do ano como é uma espécie de giallo britânico moderno que nos faz pensar se outros tempos foram tão bons quanto somos levados a crer.