007: Sem Tempo Para Morrer é uma despedida digna para Daniel Craig

Danilo de Oliveira
8 Min de Leitura
Universal Pictures/Divulgação

Desde que apareceu em 2006 como o primeiro James Bond loiro, Daniel Craig mostrou que sua encarnação do maior espião do cinema seria algo muito diferente do já visto anteriormente. Se no seu anuncio o ator foi duramente criticado, o longa inicial tratava de acabar com isso e entregava a melhor aventura (na minha opinião) do agente desde de então.

Trazendo menos aquela aura de ícone indestrutível e sendo mais “crível” como um personagem de ação, resultado claro de influência da franquia Bourne e da série 24 Horas, sua versão do espião de Ian Flemming mostrava as fraquezas e consequências do homem com licença para matar.

Se após esse inicio animador o desastroso Quantum of Solace colocou em duvidas essa nova inclusão, Skyfall se mostrou o novamente o acerto em um filme que faz jus os 50 anos da franquia enquanto traz um pouco do passado do personagem para tira-lo da sua zona de conforto. Spectre perdeu o equilíbrio ao tentar dar uma de MCU e conectar o universo da saga Craig e não agradou tanto, agora 007: Sem Tempo Para Morrer tem tempo suficiente para entregar tudo a que os fãs têm direito: cenas de ação e perseguição grandiosas e de tirar o fôlego, muitos uísques e martinis, apetrechos inventivos, romance, um vilão caricato, uma baita música-tema, além de ser a conclusão adequada ao personagem que apareceu há 15 anos lá em Cassino Royale.

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A trama continua os eventos do anterior trazendo um Bond afastado das atividades de campo há cinco anos, recluso na Jamaica. O MI6 também mudou, uma nova agente, Nomi (Lashana Lynch), ocupa o cargo de 007 e como o próprio M. (Ralph Fiennes), diferente dos tempos da Guerra Fria, está cada vez mais difícil saber quem é o inimigo, que se espalha pelo ar, como éter.

A pedido de seu amigo de longa data Felix Leiter (Jeffrey Wright) Bond é chamado de volta ao serviço por conta de uma nova ameaça mundial que envolve uma arma biológica roubada e um cientista desaparecido.

Sendo mais longo filme da franquia Sem Tempo Para Morrer trocadilhos a parte não perde tempo para alcançar seus diversos objetivos durante seus 163 minutos que incluir apagar os erros de Spectre, se despedir de Craig e claro contar sua propria história que envolve seu vilão (e plano mirabolante) e os segredos da Madeline Swan  (Léa Seydoux) a paixão de Bond do filme anterior.

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A premissa é arriscada mas Cary Joji Fukunaga (que também assina a direção) juntamente com a dupla Neal Purvis e Robert Wade, que trabalham na série desde O Mundo não é o Bastante (1999) e da participação de Phoebe Waller-Bridge (Fleabag) acertam em abraçar os seus absurdo e ainda assim convencer o expectador que toda aquela loucura faz sentido, assim como mescla com o crível e também parece ser um “Ultimato” da Saga Craig trazendo personagens e varias referencias dos longas anteriores ,e para os fãs mais ávidos da franquia claro há elementos que remetem a outros longas da série(pesquem quando forem assistir). E tudo isso é bem acertado porque somos engajados desde o inicio pelo drama vivido pelos personagens principais. Tudo isso combinado a química do grupo formado por M (Ralph Fiennes), Moneypenny (Naomie Harris) e Q (Ben Whishaw). E da inclusão das atrizes Lashana Lynch (que traz uma agente 00 ao cinema) e Ana de Armas que, particularmente, apesar do pouco tempo confere um dos melhores momentos do longa, com uma performance de querer mais(quero um spin-off dela viu).

Em seu quinto filme como o clássico espião, Daniel Craig se despede em sua melhor atuação na franquia, reunindo a inventividade e a habilidade física excepcional do personagem a mais camadas que só tornam esta a representação mais tridimensional do personagem. Ao trazer justamente a passagem e o fim do tempo como temas centrais, o longa dá espaço para o ator brilhar como um herói que é tão implacável, quanto vulnerável. Temos talvez a versão mais melancólica e humana de James Bond, que ama e se deixa sofrer. Alias, a boa intimidade que Craig criou com seu protagonista é o equilíbrio afiado no tom do humor, que traz boas tiradas nas situações mais absurdas e nas interações com outros personagens, algo que parece o dedo da Phoebe Waller-Bridge na remontagem de alguns diálogos (o que faz total sentido se você já viu Fleabag).

Universal Pictures/Divulgação

Blofeld (Cristoph Waltz), vilão de Spectre, aparece brevemente, mas o antagonista da vez é Rami Malek como o vingativo Lyutsifer Safin que segue à risca a cartilha cartunesca do “vilão de James Bond”, o clássico vilão megalomaníaco que deseja usar nanotecnologia como arma biológica para dar um fim ao mundo como conhecemos.

As sequências de ação – bastante sofisticadas e bem mais pé no chão – resgatam a nostalgia dos filmes clássicos da franquia (com um carro repleto de aparatos especiais na melhor vibe dos anos 70) e são um deleite aos olhos de todo fã de explosões, perseguições e tiroteios desenfreados. Todo o estilo mais visceral do atual Bond está aqui porque continuamos vendo um personagem que bate, apanha, se fere e sangra como qualquer pessoa– e dá tudo de si para continuar de pé. Seu lado humano é colocado à prova e isso estabelece uma conexão imediata com o público( o que parece faltar cada vez mais na franquia Velozes e Furiosos por exemplo).

Universal Pictures/Divulgação

A direção de Fukunaga agrega bem mais coração e menos testosterona aqui, conduzindo tudo bem de forma orquestrada, coerente e com sequências elaboradas de combate em que conseguimos compreender o que está acontecendo em cena. O trabalho de som também merece um belo destaque que juntamente com a trilha sonora do maestro Hans Zimmer criam momentos ótimos.

Sem Tempo Para Morrer traz um desfecho digno e até emocionante para o que na minha opinião é o melhor James Bond de todos os tempos. Craig elevou as estruturas e atualizou e desconstruiu o personagem sem tirar sua essência. Uma grande responsabilidade fica para o seu futuro sucessor

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