Olha a Marvel de novo! Depois da atrasada chegada do longa da Viúva Negra aos cinemas e também no polêmico lançamento simultâneo no Disney+, é hora da Fase 4 ganhar seu novo herói nas telonas: Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis apresenta ao publico o Mestre do Kung-Fu da editora sendo a vigésima quinta produção do MCU nos cinemas.
A tal da “Formula Marvel” sempre é trazida a tona a cada chegada de nova produção do estúdio e aqui em Shang-Chi não é diferente. De uns tempos pra cá essa discursão ganhou contornos bem extremos como se fosse algo pejorativo de seguir. O clichê sempre fez parte de varias narrativas e não só da sétima arte e isso não necessariamente torna uma produção de ser ruim. Então se você acha que a formula clichê da Marvel de estabelecer suas produções são um problema, tenho certeza que essa não será o longa que lhe fará discordar de suas convicções, mas se pra você isso não é um problema se prepare para mais um belo acerto do estúdio em uma produção belíssima que homenageia as produções e a cultura chinesa como consegue ser muito mais além da formula.
Na trama, acompanhamos Shang-Chi (Simu Liu) como filho de Wenwu (Tony Leung, sensacional), o líder da organização dos Dez Anéis que tem liderado seu grupo terrorista clandestino desde as sombras por séculos graças à mítica arma “Dez Anéis” que ele carrega, lhe dando poderes mágicos de combate e imortalidade. Criado como um assassino desde a infância, Shang-Chi fugiu para os Estados Unidos, onde adotou o nome Shaun, e a carreira simples de manobrista em São Francisco, trabalhando ao lado de sua melhor amiga Katy (Awkwafina). Entre baixas ambições e noites de karaokê, Shang-Chi está vivendo uma vida tranquila. Mas tudo isso muda quando o protagonista é atacado por um grupo de assassinos enviados por seu pai, e ele é forçado a confrontar seu passado.
Referenciando produções orientais, desde o Wuxia e Xianxia até os filmes de Jackie Chan, passando por diferentes tipos de lutas, cenários e muita fantasia, Shang-Chi não nos traz as melhores cenas de lutas do MCU, como traz uma relação traumática entre pai e filho que faz com que o choque entre eles seja inevitável — ao mesmo tempo em que percebemos que, apesar de tudo, eles não são tão diferentes assim.
“Você é o resultado de todos que o antecederam”, é falado em um momento do longa, destacando que o legado inclui tanto as coisas boas quanto as ruins e que cabe às novas gerações refinar essa herança. É disso que a imagem do confronto com o pai trata.
Apesar de manter a fórmula vista em outros longas de heróis da empresa, o humor está presente de forma muito mais orgânica, com um roteiro alinhado à proposta, que se apresenta com leveza, mas que não se torna jamais um problema. Sem jamais desvalorizar a inteligência do espectador, o longa dirigido por Destin Daniel Cretton é deslumbrante visualmente, e isso faz toda a diferença para a experiência que ele propõe, trazendo uma China poucas vezes vista antes, justamente porque sua história e ancestralidade está bem firme e respeitada sem perder a essência Marvel de ser. Ainda que mantenha um escopo épico, especialmente no ato final, Shang-Chi é construído dramaticamente como uma história de romance trágico, a relação conturbada entre pai e filho e o peso da dor não resolvida.
Alias o longa tem Leung e seu Wenwu como grande destaque pra si. O personagem facilmente entra para o rank de melhores vilões da Marvel Studios até agora – e o carisma do astro chinês faz com que pela maior parte do filme você até mesmo se esqueça que ele é um vilão. Toda sua devastação emocional transforma o filme em uma tragédia romântica, à la os filmes de Wong Kar-Wai, os quais Leung faz parte. O ator consegue ser carismático e ameaçador, entregando cada linha de diálogo com um sorriso malicioso e um olhar amargurado, mantendo um ponto central a seu redor, o qual todas giram e precisam enfrentá-lo ou se juntar a sua jornada melancolicamente irradiante. É sempre surpreendente fazer este tipo de afirmação em um filme da Marvel – mas assim como Guerra Infinita em Shang-Chi, a estrela é o vilão. Contudo a gente só não torce totalmente pra a figura vilanesca, porque Simu Liu consegue trazer um carisma gigantesco para o seu protagonista. O ator convence e não deixa a bola cair e mantém o nível ao lado de Leung, provando que consegue variar muito bem entre a comédia e o drama, como também impressiona como um grande lutador e faz parecer com que todas as lutas sejam verossímeis, inclusive aquelas cheias de piruetas e maluquices. Para efeitos de comparação, é algo completamente diferente do que a Netflix havia feito com Punho de Ferro, que possui um nível de habilidade bastante parecido, mas que deixava muito a desejar nas artes marciais.
Outro destaque fica com o alívio cômico de Awkwafina, que brilha desde a sua primeira aparição com ótimos diálogos e representando bem aquele humor típico da Marvel. Até Xialing (Meng’er Zhang), a irmã do protagonista, tem um arco próprio muito bem apresentado e com grande potencial para ser mais explorado no futuro.
Como falei mais acima, a ação é outro gigantesco destaque. Representando bem o que é um perfeito filme de artes maciais do oriente, o longa auxiliado de um sensacional design de produção (a criação de mundo aqui se equipara ao de Asgard e Wakanda) traz belas e vertiginosas cenas de pancadarias com coreografias que aliam a intensidade de longas de Bruce Lee à adaptabilidade de Jackie Chan e a magia visual de obras como O Tigre e o Dragão. Seja em um ringue ou dentro de um ônibus, a produção entrega porradaria de primeira categoria, as melhores já vista no MCU.
Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis é a prova de que a Marvel ainda sabe contar boas histórias e, acima de tudo, não tem medo de ousar ao trazer elementos diferentes do que estamos acostumados a ver em outros filmes de super-heróis, enquanto mantém os elementos que fizeram do MCU um grande sucesso.