Normal People é sensual, mas passa do ponto na melancolia

Carol Magalhães
4 Min de Leitura

Baseado no livro de Sally Rooney, publicado em 2018 e vencedor do Melhor Livro do Ano no British Book Award do mesmo ano, Normal People conta a história de Connell e Marianne, dois jovens que estudam na mesma escola em uma cidade pequena da Irlanda. Lá, eles fingem não se conhecer. Mas fora da escola, eles acabam desenvolvendo uma relação que vai acompanhá-los por muitos anos.

O foco da série da Hulu é este romance entre os dois personagens, mas a história tende um pouco ao ponto de vista de Connell – apesar de não ter mais tempo de tela, as suas cenas solo acrescentam muito ao desenvolvimento do personagem e à história. Não é que Marianne não tem momentos intensos nos quais a vemos sozinha, ou convivendo com outras personagens. Mas enquanto Connell em seus momentos sozinho parece crescer, as cenas de Marianne só a mostram se afundando mais em si mesma.

É como se ele vislumbrasse seu futuro; ela, seu passado. Explica, por exemplo, porque mais tarde vemos Connell se desenvolvendo na faculdade, escrevendo, sendo rejeitado e depois agraciado profissionalmente. Da trajetória profissional de Marianne,  que era a mais inteligente do colégio, sabemos muito pouco. Curiosamente, é quase como se essa desconexão de ‘linhas temporais’ explicasse os desencontros que os dois vão ter durante a história.

OS DESENCONTROS NÃO TÊM UM TOM DE COMÉDIA ROMÂNTICA – A SÉRIE não escapa nunca do gênero dramático

Paintings and 'Normal People' | Apollo Magazine

Não se enganem – estes desencontros não vão ter uma atmosfera de comédia romântica, pontuada por piadinhas e situações ridículas. Normal People se propõe a ser uma série dramática, e o é desde o começo.

Por isso, não é uma surpresa quando, em dados momentos, a história se aprofunda em uma atmosfera de tristeza. Mas é decepcionante quando os longos silêncios, os suspiros, o sofrimento, as cores frias, a falta de diálogo e tudo aquilo que cria aquele sofrimentozinho gostoso no começo passa do ponto. Nos primeiro episódios, Normal People tem aquela nostalgia de um coming of age mais maduro. Na sua metade, ele afunda numa melancolia estranha, que só é parcialmente resolvida em um final… agridoce.

Normal People TV series: 'It's so easy to relate to' - BBC News

Normal People tem a nostalgia de um ‘coming of age’ mais maduro

A série tem muito de positivo, mesmo fora dos incríveis primeiros episódios. As cenas de sexo, por exemplo, conseguem ser sexy e delicadas ao mesmo tempo; algumas relações entre personagens, como a de Connell com sua mãe, aliviam a tensão do resto da série; e por mais que possam se tornar exaustivos (como duas pessoas ficam tanto tempo juntas e nunca conversam sobre algo mais light, ninguém sabe!) os diálogos entre os protagonistas não são mal escritos ou parecem forçados.

Normal People é a melancolia que você já viu em Moonlight, Call Me By Your Name ou em Fleabag, mas com um sotaque irlandês. Não é original, mas é bonito – e faz jus às emoções que busca despertar.

 

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Caroline Magalhães é estudante de jornalismo, blogueira e leitora ávida. Vira fã das coisas em segundos e tem milhões de crushs que moram em livros, séries ou filmes. No Cinesia, escreve sobre histórias do mundo nerd.
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