“Então, ajoelha-te e espera tua sentença!” Como esperado para fãs de terror, a fantasia em “A Alcateia” se passa em um momento como agora, no estopim uma investigação criminal envolvendo uma seita e seres sobrenaturais. Com muito sangue, suor e lágrimas, será um desafio sobreviver as ameaças que rondam na região sul do Brasil (mais exatamente no estado do Paraná). O livro de estréia de Glauco J. S. Freitas, lançado pela Editora PenDragon em 2019, não poderia ser em outro lugar, já que suas origens curitibanas e referências literárias ao grande autor britânico Bernard Cornwell e suas séries históricas.
Rituais de morte se espalham pela cidade de Curitiba e cabe ao Investigador da Homicídios, Flávio Patrezzi, com a ajuda imprescindível de seu consultor, Alexandre Matsui, impedir a propagação do horror causado pela Alcateia. Garotos somem de dentro de suas casas e os únicos rastros são os cadáveres de seus familiares, mutilados e marcados a fogo. Mas quem disse que os mortos não podem ser interrogados? Acompanhe a perseguição aos responsáveis por estes crimes bárbaros numa caçada que os levará aos corredores labirínticos do próprio Inferno.
“Vem lobo, coroa-te no sangue dos apressados!”
Assim como em um RPG, a narração compartilhada da história foi fundamental para que não ficássemos cegos com apenas um ponto de vista. Ver o trabalho que o autor fez com a dupla de opostos, tendo Patrezzi um temperamento mais próximo ao do senso comum, ainda que seja de grande valia uma pessoa ponderada. Matsui é o típico médium perspicaz demais para existir no mundo real, tendo um pouco de cada personagem bad ass que os leitores conhecem (e amam). Tendo base em mitos e lendas das terras tupiniquins, é uma obra importante para trazer os gêneros que gostamos, inclusive inserindo a fantasia urbana na nossa realidade.
A forma como tudo está interligado mostra uma obra sem apelos para sequências, o que é raro para os leitores que se acostumaram com séries de livros… e para isso os que se interessam por mais do autor poderão ter em sua saga “Folclórika“, em seu primeiro volume (“Exército de Imortais“). Ler as 228 em um momento tranquilo é extremamente prazeroso, para quem está acostumado com situações viscerais e reviravoltas plantadas para um público que não se impressiona tão facilmente. É fato que o ritmo de escrita do autor poderia estender o desenvolvimento, mas para quem visava algo mais dinâmico é uma boa aposta para um estreante.
Com uma intensa conclusão, é certo que o suspense feito em seu título justifica o que saiu de “A Alcateia”, tendo tudo que pode nos assustar sempre que vemos simbologias nas paredes e descobrimos que em nossa cidade exista grupos que fogem do comum. Mesmo que inicialmente a trama pareça episódica, tudo acaba ganhando forma no decorrer da leitura imersiva de Glauco pelo sobrenatural. Por fim, é uma experiência de leitura que nos deixa por um tempo nos perguntando (ou querendo mais) do que se passou. Esse é o segredo: sangue e raciocínio na medida certa.