Eis que chegou a hora da DC\Warner começar seu universo expandido! Se sua concorrente criou um conceito mercadológico para a Hollywood atual, agora chega a vez da editora\estúdio querer uma parte do bolo e tirar o atraso sobre ela, e os escolhidos foram os dois maiores ícones dos quadrinhos de todos os tempos: Batman e Superman.
Com o subtítulo A Origem da Justiça, o filme que se propõe a formar as bases para o futuro universo cinematográfico da grande editora de quadrinhos, é uma evolução ao criticado Homem de Aço, (2013) mas ainda assim peca em um roteiro confuso com excesso de subtramas que não tem seu devido tempo para serem abordadas.
Escrita por David S. Goyer e Chris Terrio, a trama se passa 18 meses após Homem de Aço com um mundo divido pelas ações do Superman (Henry Cavill). Alguns o vê como salvador, já outros o enxerga como uma força destrutiva que deve ser impedida. Uma dessas é o bilionário Bruce Wayne (Ben Affleck) que usa sua identidade de Batman para investigar e se possível neutralizar o alienígena. Nesse cenário o excêntrico e milionário Lex Luthor (Jesse Eisenberg) rapidamente enxerga uma forma de fazer com que os heróis batalhem entre si.
Bom, este é o esqueleto principal do filme que ainda tem a introdução da Mulher Maravilha e a Liga da Justiça.Também tenta se aprofundar na relação entre Lois Lane e Clark, Bruce e seu fiel mordomo Alfred (Jeremy Irons). Sem falar da operação fraudulenta no deserto e uma rixa entre Lex Luthor e uma senadora americana.Ufa! Sim temos todas essas subtramas para serem construídas.
Mesmo com 151 minutos a distribuição desses arcos não tem seu devido tratamento. É como se o filme tentasse morder mais do que consegue mastigar. São tantos personagens e tantos acontecimentos que nenhum deles consegue receber o tratamento merecido. É assim que questões interessantes, como a xenofobia e cultura do medo ficam relegadas aos cartazes de manifestantes, que sequer ganham voz em algum momento. Na ânsia de reprisar o sucesso de Vingadores o mais rapidamente possível, a opção em embutir muito em um só filme, ao invés de desenvolver histórias de potencial em vários longa-metragens, soa como um tiro no pé, ao menos em relação à qualidade.
Alem disso Snyder continua querendo dar uma verossimilidade ao material que se em alguns momentos encanta os fãs, soam por vez forçado demais.
Ainda assim Batman Vs Superman não é uma atrocidade como as criticas americanas fizeram questão de dizer. O filme entrega o sonhado Universo Cinematográfico DC e até rende de forma satisfatória em seu terço final, quando as cenas de ação ganham espaço. Com elementos dos quadrinhos vistos em “O Cavaleiro das Trevas” e no combate do Homem de Aço com o vilão Apocalipse, o filme inicia a saga da Mulher-Maravilha nas telonas e ainda dá uma palinha de outros heróis que serão vistos em Liga da Justiça, o que com certeza agradará aos fãs,aliás o peso que os dois maiores ícones das Hqs apresentam em tela é de arrepiar. Algo que parecia problemático no trailer, o exagero de CGI, não é um erro de fato. Visualmente o longa agrada com seu tom sombrio (em alguns momentos), embora a fotografia não seja bem padrão para filmes de heróis.
A trilha sonora de Hans Zimmer em conjunto com Junkie Xl talvez seja o ponto alto do filme. Com uma junção entre temas orquestrados com riffs de guitarra e uma batida alucinante (o tema da Mulher Maravilha e do embate entre os heróis são espetaculares) elas ditam melhor o ritmo longo do filme.
No campo das atuações, Ben Affleck enfim se redime e aqui encontramos um Batman de respeito, pela postura mais rígida e o nítido peso da idade que vai chegando que de brinde nos dar a versão do personagem mais brutal já visto em tela. Já Henry Cavill não mudou muito desde de Homem de Aço, sua figura como Superman tem um carisma genuíno como só o ator faz, mas já seu alter ego Clark é muito robótico que ainda não encontrou seu tom.
Já Jesse Eisenberg, criticado no seu anuncio chama os holofotes e dar um show com seu Luthor. Mais jovem, malandro Lex é um reflexo dos milionários da geração Zuckerberg e Steve Jobs, o ator ainda acerta por utilizar os maneirismos típicos como fala rápida e certo desconforto de situações sociais em uma construção psicótica e divertida de se observar.
Outra que roubar cena é claro a Mulher Maravilha da Gal Gadot, que nos combates é mais interessante até do que a luta entre os dois protagonistas. Gadot está muito bem no papel, tanto como Diana, uma misteriosa comerciante de antiguidades, como vestida com seu uniforme, espada e escudo. O mais legal é que ela é exatamente o que os leitores do quadrinhos esperavam: uma mulher forte, poderosa e muito corajosa. O Alfred de Jeremy Irons também funciona e sua química com Bruce é muito bem colocada no roteiro,tendo ótimas tiradas cômicas.
No final das contas, Batman Vs Superman é um bom filme de heróis, capaz de emocionar, empolgar e nos fazer torcer pelos mocinhos do começo ao fim, mas tem problemas devido ao inchaço de tramas, o que resultou em uma colcha de retalhos mal desenvolvida por Zack Snyder e extremamente dependente do simbolismo em torno dos próprios heróis, ao invés de oferecer méritos próprios. Vamos esperar que as outras fundações para o universo cinematográfico da DC sejam mais sólidas, interessantes e marcantes do que esta, e aí sim, o universo DC poderá ser impressionante.