Falar de Quentin Tarantino é meio suspeito pra mim, revelo. Amo de coração todos os oitos trabalhos feito pelo diretor e minha empolgação para esse novo filme era acima da média.
Bom, Era Uma Vez Em… Hollywood traz o diretor a pegada de seus últimos projetos, mas trazendo um ar mais contemplativo e porque não dizer sentimental de seu realizador a uma das mais brilhantes eras do cinema americano. Seus diálogos, a performance de seus protagonistas, seu estilo de desenvolver sua trama,a violência gráfica, todos os ingredientes de uma obra Tarantinesca estão aqui e que numa Hollywood movida de grandes franquias e blockbuster, esse estilo criativo do diretor é um frescor pra quem curte o cinema como um todo.
O roteiro, assinado pelo cineasta, coloca a dupla de protagonistas fictícios ao lado de um desfile de personagens históricos. Veterano da televisão, alçado à fama pela participação em uma extinta série de faroeste, o ator Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) tenta, com o apoio do dublê e amigo Cliff Booth (Brad Pitt), se manter relevante em uma indústria em transformação. Apesar de ser vizinho do casal mais “hypado” da cidade — o diretor Roman Polanski (Rafal Zawierucha), no auge devido ao sucesso de O Bebê de Rosemary, e a estrela emergente Sharon Tate (Margot Robbie) —, Dalton percebe que, com sua carreira em declínio, ele não poderia estar mais distante da nova realeza de Hollywood.
Posso dizer que esse seja um dos projetos mais nostálgicos e autorais da carreira do cineasta. Cada cartaz, cada referência, cada dialogo nos remete a algo e o diretor parece querer passar isso tanto a sua homenagem, como também auto referenciar sua carreira durante os seus oitos trabalhos anteriores,assim com ele mesmo, seja mostrando o cinema western(que estava no auge na década) que referencia os seus trabalhos com Django Livre e Os Oitos Odiados, a uma cena de um filme com nazistas(remetendo a Bastardo Inglórios), sua musicalidade contagiante(Pulp Fiction) entre outras que prefiro deixar vocês descobrirem, o roteiro respira esse passeio gostoso que o diretor faz por uma Hollywood brilhante e quem gosta de cinema pode anotar as inúmeras referencias a sétima arte, e tudo isso traçando 3 arcos narrativos impecáveis.
O primeiro arco temos os dois protagonistas Rick Dalton e Cliff Booth, ator e seu dublê respectivamente, Dalton passando por um declínio em sua carreira e emocionalmente afetado por isso, e Cliff e cara pau pra toda obra, sendo além de dublê, um amigo pra todas as horas lidando em uma Hollywood de altos e baixos. Sem duvidas temos aqui dois personagens complexos com motivações diferentes, com contextos diferentes, conjunturas pessoais diferentes e o diretor deixa isso muito bem claro e pontuado e isso vai levar também a conclusão do terceiro ato (que é sensacional e compensar toda a espera). É impecável o jeito que Tarantino trabalha o arco e DiCaprio e Pitt fazem isso com os pes nas costas. O segundo arco gira em torno da Sharon Tate e Roman Polanski que curiosamente são vizinhos de Dalton. Tate vivida por Robbie busca se afirma na industria e o seu marido vive o auge apos realizar Bebe de Rosemary um ano antes e o terceiro arco gira em torno de Charles Mason e sua seita macabra que aterrorizou o final da década de 60 e inicio de 70, e como eu disse antes esses 3 arcos vão se cruzar da forma Tarantino de realizar-lo.
Como pontuei acima,se você é fã do trabalho do cineasta Era Uma Vez Em… Hollywood é um prato cheio! Ele não foge em nenhum momento do seu estilo e promove um ato final digno de um filme com seu selo. Mas ao mesmo tempo que faz isso, ele é respeitoso e contemplativo com todos os seus personagens e referencias principalmente com a Sharon Tate, Tarantino a cada take dele vivencia um pouco mais de como ela vivia a vida. Mesmo com o glamour Tate era simples e se apresentava assim, como ir ao cinema ver um filme seu só pra ver a reação do publico, Tarantino presta uma homenagem singela a ela e Robbie passa isso muito bem.
Se tenho um ponto negativo a falar da obra é sua duração, e não falou por ela ser extensa (quase 3 horas de duração)uma vez que não sentir o tempo passar e sim por questão de desenvolver sua trama de maneira mais detalhista possível, o diretor não consegue cortar ou encurtar algumas de suas cenas o que gera um certo inchaço na narrativa, mas como lhe falei, nada que lhe tire do filme, especialmente se você já é habituado ao trabalho do mesmo.
A reconstrução de época é fascinante, cada letreiro, os carros, cada fachada,os figurinos, tudo remete a época glamourosa e do paz e amor na America.
Era Uma Vez Em… Hollywood é mais uma vez Tarantino em sua essência e grau. O diretor traz uma obra sobre e apaixonada por cinema, assim como ele mostrando que o entretenimento criativo pode sim também ser mainstream sem ficar renegado a apreciadores intelectuais em seus clubinhos. Uma ode do seu realizador a uma era que ficou no passado, mas que precisa ser vista agora e futuramente.