Uma Mulher na Escuridão | Charlie Donlea se renova em mais um thriller paralisante

Laís Andrade
5 Min de Leitura

Compreender a mente alheia é uma barreira com a qual todos nos defrontamos diariamente. Implica em conhecer as motivações e anseios do outro, algumas vezes em detrimento do nosso próprio posicionamento. Característica, essa, chamada de empatia, algo tão escasso nos dias duais de hoje. É sobre isso que versa “Uma Mulher na Escuridão“, o mais novo livro de Charlie Donlea, um autor canadense que vem disparando thrillers nos últimos tempos e ganhando notoriedade no âmbito literário.

Este é o quarto livro de Donlea, compondo uma frenética série de romances policiais. Como já disse em críticas anteriores, a melhora no domínio da escrita é absolutamente perceptível. Conseguimos notar que ele não faz uso de truques covardes como propositadamente esconder do leitor peças-chave para a resolução do enigma. Assim como seus outros três livros, este é como peças diminutas de um intrincado quebra-cabeça, caindo lentamente e formando um cenário onde começamos a identificar as interrogações flutuantes e as motivações. O que mais me apraz são os capítulos serem curtos e a diagramação em letras grandes, o que parece nos fazer acelerar um pouco mais a leitura, pois temos mais possibilidades de “respiros” ao longo da narrativa. Além de que o autor é bastante econômico em suas palavras, trazendo apenas cenas pertinentes, não se perdendo na prolixidade de descrições de cenários e emoções. Cada passo dado nos capítulos é sempre mais um nó desta fina colcha de dados que devemos perscrutar com cautela em busca de pistas do que o fim nos trará.

O reconhecimento das habilidades ímpares de uma pessoa que vive no espectro autista, já vem sendo explanado e ricamente apresentado em diversas obras, filmes e séries. Há pouco, um sucesso de audiência da Netflix, a série Atypical, embeveceu a todos nós mostrando a vida de um jovem autista e, partindo desta perspectiva, apontou com maestria as diversas vertentes putrefatas de nossa sociedade, evidenciadas quando o preconceito emerge, que contam muito mais sobre nós do que de alguém detentor de alguma particularidade comportamental ou cognitiva. Neste livro, Donlea nos apresenta a Rory Moore, uma investigadora, autista, com uma habilidade ímpar de identificar pontas soltas em casos criminais, que envolve-se na tentativa de compreender a mente de alguém que matou diversas mulheres nos anos 70, dentre elas Angela Mitchel. Rory imediatamente identifica-se com Angela, que também fora diagnosticada com autismo e que possuía um tino inigualável para a dissolução de crimes, apesar desta ser apenas uma modesta dona-de-casa.

Este livro é ambientado em 1979 e 2019, saltando entre duas personagens principais: Angela e Rory . Tudo gira em torno da dissolução dos casos de assassinato que atormentaram uma cidade na década de 70, performados por um serial killer, conhecido por Ladrão, que matava suas vitimas por asfixia. Os casos, recorrentes nos noticiários, acabam tornando-se uma obsessão para Angela, que se vê na missão de desvendar aquele complexo mistério e apontar o culpado. Porém, 40 anos depois, estes casos ainda não foram satisfatoriamente concluídos, e é então que conhecemos Rory, uma advogada que não exerce a profissão, mas que auxilia a polícia na resolução de crimes. Ela envolve-se no caso do Ladrão após o falecimento do seu pai e a necessidade de assumir o quê ficou pendente. É sobre essa trama de pistas soltas que o enredo se desenrola.

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A história salta entre passado e futuro, não de forma injustificada, mas em uma paralelo perfeitamente coreografado, onde vemos fatos de 40 anos atrás e atuais se complementando a todo instante. O livro tem uma cadência, criada por essa alternância temporal, que nos prende à narrativa, deixando a história com poucos momentos em que nos sentimos livres para deixar o livro. O tempo inteiro coisas estão acontecendo, fatos importantes estão sendo revelados e traços do assassino vão sendo delineados.

Uma leitura divertida, interessante, suave e estimulante.

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Estudante de Letras nas horas vagas. Apaixonada por livros. Marvel é melhor que DC.
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