O cinema nacional adora abordar historia biográfica de de figuras da música ou não, como material fonte de suas obras. Algumas delas podem visar só o caça niqueis por parte de instituições (vide um certo filme de um pastor) mas em sua maioria são boas obras que apesar de seguirem uma estrutura um tanto básica, tem bons resultados.
A nova aposta é a biografia do famoso e inspirador Hyppolyte Léon Denizard Rivail, mais conhecido por Allan Kardec, um dos fundadores da doutrina espírita e que tem sua historia desconhecida por grande parte do mundo.
A trama baseada no livro de Marcel Souto Maior mostra o educador e intelectual Léon (Leonardo Medeiros), respeitado não só por seu alcance pedagógico, mas, sobretudo, por sua capacidade em solucionar problemas da educação pública de seu país natal. Desta forma, sua incredulidade diante do crescente número de pessoas se tornando adeptas do espiritismo, bastante desacreditado naquela época, o levava a questionar se o charlatanismo era parte de tudo aquilo.Mas as vidas de Léon e de sua esposa Amélie (Sandra Corveloni) não mudaram quando ele se envolveu com a doutrina espírita. Mudaram quando ele passou a ser considerado um mártir, excomungado em uma sociedade cristã conservadora. Suas novas crenças, cujos estudos de sua parte foram profundos e amplamente disseminados acabaram servindo como uma codificação para o espiritismo e sua doutrina.
O roteiro do filme acerta muito bem em construir a jornada do personagem, um homem erudito e cético que aos poucos através de suas intensas pesquisas, se torna uma sumidade no campo espiritual.O filme ainda retrata bem o autorismo da igreja católica na época, com suas imposições nas escolas de Paris e também na censura sobre a obra de Kardec e suas ideias sobre a fé espirita.
Apresentando um visual esmerado na Paris do século XIX, com enfoque na outrora grandiosa Notre-Dame,a recriação de época é estupenda imaginando ainda que é uma produção nacional.Apesar de conter uma montagem ritmada, que pode cansar um espectador ou outro, o trabalho com a edição de som é memorável.Alias o trabalho técnico inteiro tem que ser exaltado.
É admirável a atuação de Leonardo Medeiros no papel de Rivail/Kardec e como a postura séria combinou com a evolução do personagem. Corveloni como Amélie Gabrielle Boudet, traz a leveza e romantismo interessante ao casal, se revelando como uma perfeita parceira de trabalho também.
Kardec, apesar de ter uma temática espírita, não se trata de uma produção sobre o espiritismo. Se trata de uma obra sobre um homem que passou de intelectual cético a um dos mais inspiradores estudiosos religiosos de todos os tempos e uma cinebiografia recheada de mensagens e aprendizados, exatamente como seu homenageado faria.