O universo DC sofreu nos últimos tempos nos cinemas. Batman vs Superman, o terrível Esquadrão Suicida e um problemático Liga da Justiça conquistaram negatividade do estúdio diante da crítica e do publico enquanto a concorrência lucrava a passos largos. Pois se Mulher Maravilha mostrava que os filmes solos podiam explorar melhor os personagens e conseguirem bons resultados, Aquaman ano passado comprovou sendo o primeiro filme dessa nova leva a alcançar o tão esperado bilhão.
Esse ano Shazam! tem a missão de manter essa nova retomada da DC nos cinemas e pelo visto parece encaixar bem os trilhos. Com uma aventura incrivelmente divertida, mas com coração a adaptação acerta em cheio no tom e abre novas possibilidades para o estúdio.
O filme se inspira no Capitão Marvel originalmente criado por C.C. Beck e Bill Parker para a Fawcett Comics, em 1939, e cujos direitos foram posteriormente comprados pela DC Comics (que mais tarde teve de rebatizar o personagem como Shazam, em consequência de uma disputa legal com a Marvel). Todavia, a fonte principal para o roteiro é a versão repaginada do super-herói, introduzida em 2012, depois que a DC reformulou toda sua linha de quadrinhos com os Novos 52.
Na trama, Billy Batson (Asher Angel) é um adolescente solitário que foge de todos os lares adotivos pelos quais passa, na esperança de reencontrar a mãe, da qual foi separado ainda pequeno. Após ser encaminhado para uma nova e acolhedora família, o garoto acaba sendo eleito por um mago (Djimon Hounsou) para ser seu campeão e então transformado em um ser superpoderoso (Zachary Levi). Com a ajuda do irmão adotivo Freddy (Jack Dylan Grazer), Billy passa a tirar proveito de sua nova condição, até ser confrontado pelo Dr. Silvana (Mark Strong), também dono de habilidades mágicas.
Um dos pontos positivos que tenho que destacar é a direção do David F. Sandeberg, que curiosamente assim como James Wan também saiu do terror pra fazer um filme de super herói, e o faz muito bem. Ele usa composições visuais que em outro gênero poderiam ficar realmente assustadoras, ele sabe controlar bem os elementos cômicos da trama e dosar bem as cenas de efeitos visuais, não deixando eles carregarem o filme, mostrando que o diretor tem controle e sabe se utilizar bem dos recursos pra manter seu publico.
Redondo, o script de Henry Gayden celebra o fascínio juvenil por super-heróis e HQs, explorando muitos dos clichês do gênero e ironizando as situações mais absurdas com bastantes referencias a cultura pop.O roteiro também é auto consciente para abordar de forma eficaz as origens e motivações do protagonista que tem ares um tanto triste, por não ter uma mãe, fugindo de vários orfanatos e criando assim um senso de rebeldia. Embora a transição do humor pro drama não seja uma das mais fluida, o roteiro e o diretor sabem disso e junto com a edição trazem dinamismo para compor o drama do Billy com leveza e coração ensinando sobre diversidade, aceitação e família
O elenco está bem comprometido e praticamente o diretor consegue dar relevância a todos na trama. O Asher Angel é a versão jovem do herói e a que carrega a parte mais dramática,e compõe bem, mostrando a vida difícil que o Billy tem que carregar e onde suas escolhas o levam, já Zachary Levi é sua parte adulta e acerta muito bem em mostrar uma criança no corpo de um adulto com timming cômico perfeito.O maior destaque do elenco jovem, no entanto, vai para Jack Dylan Grazer, que, além de ter ótima química com o personagem central e exibir talento cômico, ainda dá vida a uma boa passagem dramática do filme. Mark Strong, que, apesar de aqui não interpretar o mais complexo dos vilões, traz certa gravidade, que o salva da caricatura, é bom também ressaltar que o roteiro faz uma interessante colocação entre Shazam e Silvana que embora de lados opostos, ambos fazem escolhas erradas e, em algum momento, compartilham a mesma motivação: a busca por identidade e aceitação.
As cenas de ação embora bem feitas(alguns momentos é perceptível um uso de tela verde, mas nada que nos tire do filme) são menos frenéticas do que em muitos de outros projetos,e acertadamente têm a função de fazer o enredo avançar. O terceiro ato, por exemplo, segue a tradicional fórmula do confronto final entre mocinho e bandido, só que com o acréscimo de uma simples e eficiente surpresa que retoma e amarra o tema principal — sendo precedida por um excelente toque de humor anticlimático.
Engraçado, leve e descontraído, Shazam! é uma das melhores coisas do universo cinematográfico da DC,provando que não é preciso mergulhar nas trevas para criar um filme de super-herói marcante. Novos ares finalmente chegaram de vez ao estúdio.