Albatroz | Produção nacional viaja demais na sua própria megalomania

Danilo de Oliveira
5 Min de Leitura

Roteirizado por Bráulio Mantovani, um dos mais respeitados roteiristas nacionais, indicado ao Oscar pela célebre adaptação de “Cidade de Deus” (2002), de Fernando Meirelles, e coautor dos filmes Tropa de Elite” 1 e 2 (2007, 2010), Albatroz chega para fugir do mais do mesmo das convencionais produções feitas no país. O filme certamente desafiará ao máximo a identificação com o grande público, sendo esse um dos seus testes. Trata-se de uma história praticamente abstrata, no melhor clima de Maniac, série da Netflix e deixará o publico repleto de ideias e suposições apos a sessão.

Na trama, Simão (Alexandre Nero) é um fotógrafo que viaja à Jerusalém com a atriz judia Renée (Camila Morgado), sua amante, e testemunha uma tentativa de atentado que termina com o terrorista linchado publicamente. O clique lhe dá fama e prestígio internacional, mas também transforma-se em sua desdita, levando-o a uma trama surrealista e alucinatória que envolve neurociência e uma namorada de infância, Alicia (Andrea Beltrão), além de colocar em risco seu casamento e a própria vida de sua esposa Cats (Maria Flor).

A direção de Daniel Augusto (Não Pare na Pista: A Melhor História de Paulo Coelho”) faz com que, embora bastante confuso aparentemente, o filme torne-se interessante em muitos momentos.Porém, seu maior deslize, infelizmente, é exceder nas intenções e pecar pelo excesso. Isso porque o diretor e sua equipe de fotógrafos e iluminadores optaram por uma estética eletrizante, complexa e bem elaborada para preencher essa trama absurda. Começa como uma história de amor com a leitura dos rascunhos de um novo romance e acaba com um experimento de neurociência que permite a Simão fotografar seus próprios sonhos realmente demanda uma estetização visual que a equipe cumpre corajosa e criativamente. Criar uma coesão e estruturar uma complexa linha narrativa pra fazer seu publico interpretar é uma missão perigosa e megalomaníaca e poucas vezes no cinema nacional vimos obras com essa linguagem visual narrativa e também recursos sonoros pra estabelecer uma composição audiovisual para uma produção como o diretor usa e brinca.

O problema é que essa salada de fruta visual, somada à uma narrativa incrivelmente cheia de ramificações alucinadas, resulta num longa cansativo às audiências que se disponham a enfrentar as quase duas horas de filme.Seu excesso em querer ser mais que uma obra qualquer e suas transloucas viagens perto do seu encerramento comprovam isso.

Seu elenco está bem comprometido em sua abordagem e suas interações são um dos grandes destaque da obra. Alexandre Nero encabeça com vigor e seu protagonista é uma montanha russa de emoções todas bem construída pelo ator. Andrea Beltrão também estar entregue ao papel, beirando do abismo da sanidade de sua difícil personagem, muitas vezes (ou todas) recaindo na loucura.Maria Flor traz a doçura e a sinceridade para os relacionamentos que Simão tem durante a trama, sendo sua personagem o estopim para a viagem alucinante do protagonista. Camila Morgado também traz seu talento habitual de sempre e Andrea Horta fica com a parte mais cientifica e surrealista da produção.

Albatroz não é o tipo de filme fácil de se explicar, sendo mais simples ver para crer.É um tipo de produção que foge o mainstream de filmes em shoppings que vão atrair a multidão em peso,e de fato não é a intenção do diretor e seu roteirista que com sua viagem um tanto esquizofrênica não vem pra deixar nada mastigado para o seu publico. Cheia de simbolismos, o romance dramático e o sci-fi se fundem a fim de criar uma trama fantástica, mas que se perde em sua megalomania, mas que abre portas e prova que nosso cinema pode e deve investir em produções fora da caixinha.

 

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