Não Olhe | Boa premissa desperdiçada entre o drama e o suspense

Danilo de Oliveira
4 Min de Leitura

O terror adora abordar detalhes psicológicos há bastante tempo.Não Olhe,filme escrito e dirigido por Assaf Bernstein, vai nessa mesma linha ao contar a história de uma adolescente atormentada pelo seu próprio reflexo.

Na trama, Maria (India Eisley) é uma jovem no terceiro ano do ensino médio com o sentimento constante de não pertencimento. Enquanto o pai, Dan (Jason Isaacs), é controlador, distante e deseja que a filha desenvolva sua autoconfiança, sem fornecer os ensinamentos necessários para que isso seja possível, a mãe, Amy (Mira Sorvino), é uma mulher sem garra que aceita as posições do marido na criação da filha. Sem espaço para crescer e sem o apoio adequado, Maria se fecha, seja literalmente pela sua postura corporal, seja figurativamente ao não abordar seus sentimentos.

As dificuldades aumentam na escola. A adolescente tem uma amiga (no singular mesmo), mas não a ponto de ser uma grande amizade capaz de ajudá-la a lidar com o valentão que a maltrata na escola sem chance de reação. Porém,um dia, a garota explode, e ver projetada no reflexo do espelho uma versão alternativa de si mesma, ou ainda seu exato oposto: Airam (o contrário de Maria, é claro), uma jovem perversa, sexualizada, cínica, violenta que passa a “ajudar” Maria em sua libertação.

Não Olhe se apresenta como uma curiosa premissa de fábula psicanalítica,bastante incomum no circuito comercial. O conceito de apresentar uma irmã/alter ego contrario está presente em varias obras e as metáforas que o filme faz em cima da não aceitação e o desejo reprimido teriam camadas pra trazer uma obra de drama e suspense na medida certa.

Teria, já que o roteiro de Bernstein falha ao tentar criar espaço para cada um deles separadamente, e também ao tentar unir esses elementos ao final. Ainda que a sequência de encerramento seja muito boa, o último terço carece de força.

Se o texto peca em trazer mais elementos do que foi capaz de desenvolver, apresentando até personagens que entram e saem da história sem mais nem menos, a equipe técnica consegue ser um destaque positivo, como na parte da ambientação com cenários, fotografia, figurino, maquiagem e, principalmente, com o som.

No teor do suspense/terror, a violência é bem branda e se não fosse o forte apelo sexual que o filme traz ( A Airam simplesmente se torna uma força intimidadora e devorada de homens, colocando aos seus pés usando seu corpo) poderia ter uma classificação indicativa mais baixa.

As atuações do filme vão da boa para regular ou pouco expressiva. A protagonista India Eisley consegue passar bem a sensação de tristeza e repressão que sua personagem tem assim como sua transformação cínica e intimidadora da sua contraparte. Jason Isaacs está na parte regular, passando bem o estilo controlador de seu personagem, mas sendo um tanto unidimensional na maior parte. Já Mira Sorvino, está apática e pouco expressiva em seu papel(embora sua personagem seja um tanto assim)garantindo como disse um amigo meu, pagar seus boletos atrasados.

Entre fenômeno sobrenatural (a sombra no espelho), manifestação psicológica (o trauma de infância) e questão biológica (os duplos/gêmeos),que até lembra alguns pontos do game Beyond Two Souls do Playstation 4(por sinal muito bom), Não Olhe mira na pluralidade excessiva para criar uma obra mesclada no drama com suspense mas acaba se perdendo nas suas ambições e se transformando em mais uma boa premissa perdida e esquecível ao final de sua sessão.

 

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