Se você acompanha o cenário competitivo de League of Legends, deve ter se deparado com a notícia sobre a partida entre Rox e Vaevictis eSports, válido pela primeira semana da LCL (Torneio válido para Rússia e Comunidade dos Países Independentes, CIS).
Mas se você não sabe, aqui vai a história: o time da ROX, vice-campeão da temporada de Primavera de 2018, decidiu banir cinco campeões suportes (Nami, Janna, Lulu, Thresh, Braum) contra a Vaevictis eSports, time composto por cinco mulheres. A mensagem é clara: mulheres apenas jogam de suporte – uma provocação direta às jogadoras.
O resultado da partida foi um stomp. Em 20 minutos, a partida já estava decidida ao favor da Rox. Já na fase de rotas, a vantagem era amplamente larga em termos de farm e dinheiro aos jogadores.
Claro que o resultado foi uma chuva de queixas para todos os lados. Uns apontam o claro sexismo, outros, principalmente em sessões de comentários pelo Facebook, Twitter e Reddit, fala que foi uma piada e, a ampla vantagem da Rox demonstra que ninguém deveria estar reclamando sobre. Antes de entrar no mérito da discussão, vale a pena explicar um pouco mais sobre o time da Vaevictis.
Time feminino
A LCL, assim como a LCS (torneio nacional dos Estados Unidos) e LEC (torneio da Europa), deve adotar o modelo de Franquias. O modelo tem duas implicações — a partir dele, será definido um número de equipes e ninguém entra e ninguém sai. Não haverá mais, portanto, rebaixamentos e promoções de equipes à liga principal.
A Vaevictis eSports é uma das equipes mais tradicionais da LCL, mas também uma das com menos dinheiro. Como a equipe não conseguiu nem manter o elenco antigo, nem vender a vaga, e, como não haverá rebaixamento nesta temporada, o time decidiu montar uma lineup completamente feminina para poder competir na elite da liga russa.
O problema: todas as jogadoras do time se encontram num ranking abaixo do nível competitivo, ainda no nível diamante, fora do Desafiante, o que já indica que o nível técnico é inferior aos demais. Sem dinheiro, a equipe não pode compensar com um bom coaching para compensar em termos estratégicos a disparidade técnica entre os adversários na liga.
Logo, pode-se dizer que a decisão de montar o elenco é planejada em termos de manobra de Relações Públicas. A consequência é ter um time inteiramente abaixo do nível que possivelmente perderá de forma constrangedora todas as partidas — o que aconteceu logo na primeira partida da temporada, contra a Rox.
Preconceito e falta de profissionalismo
Quer você queria apontar que houve o machismo ou não dos jogadores da Rox, é inegável que os bans da partida foram uma atitude de desrespeito, uma provocação, uma atitude antiprofissional.
No âmbito dos eSports, ainda em expansão como uma categoria esportiva, jogadores e equipes ainda têm problemas neste termo de aspecto, seja na falta de maior interação com fãs e mídia ou pobreza nos planos de marketing. É um problema de longa data.
Já em 2013, no primeiro grande evento de League of Legends no Brasil, IEM São Paulo (um show de horrores de organização, por sinal), as equipes europeias aproveitaram a brecha para fazer piada do Brasil insinuando escolher Mordekaiser — uma piada que data da primeira temporada, quando ainda não existia o servidor brasileiro, que se refere à ideia que brasileiros apenas sabiam jogar de Mordekaiser. É possível observar isso no draft do jogo entre Nex Impetus (Brasil) e Meet Your Makers (Polônia).
Alguns outros casos de xenofobia realizados por jogadores profissionais também aconteceram, seja dentro ou fora do jogo, como foi é com Remilia, primeira atleta trans a competir numa liga de elite de LoL, que sofreu uma série de ataques da comunidade e denunciou o abuso do administrador de sua ex-equipe, Renegades.
Team Siren e misoginia
Também em 2013, um anúncio chegou ao mundo do LoL. A primeira equipe competitiva feminina de League of Legends foi divulgada. Team Siren contou com um anúncio em vídeo e produção especial.
http://https://youtu.be/_Gz9um3wV1o
Novamente o mesmo problema. Todas as jogadoras não estavam nas divisões de elite, o que causou uma série de ataques e piadas de jogadores pelo mundo. Desta vez, contudo, elas não tinham pretensão alguma de estar entre os melhores, tampouco estavam competindo na elite. O resultado foi uma chuva de misoginia e, pouco tempo depois, o time encerrou.
Por um lado, com a Vaevictis, mulheres estão tendo holofote num ambiente dominado por homens; por outro, a equipe não teve planejamento nenhum para as atletas, tampouco proporciona competitividade, o que tornam as jogadoras como um alvo fácil de piadas.
Há quem diga que a ação da Vaevictis é um avanço, há quem diga que no final de contas não é vantajoso para ninguém.
E você? O que pensa?