Critica – Jessica Jones – 1º Temporada

Danilo de Oliveira
7 Min de Leitura

A Marvel Studios não cansa de surpreender e se reinventar.Após o ótimo desempenho da primeira temporada de Demolidor ,as produtoras agora contam com o desafio ainda maior de criar uma série de sucesso a partir de uma heroína não muito conhecida pelo público em geral.E conseguiram superar o desafio. Não só criaram uma história original e envolvente, como desenvolveram uma personagem complexa e muito interessante.

O tom aqui é o mesmo visto em Daredevil. Temos uma Nova York sombria e tomada pelo crime, com protagonistas traumatizados e vilões que sabem como explorar tais traumas.

A serie narra o cotidiano da poderosa investigadora Jessica Jones (Krysten Ritter), que atende os clientes em seu largado escritório (e residência) chamado de Alias Investigations – uma alusão à série de quadrinhos Alias, de Brian M. Bendis e Michael Gaydos, a principal fonte de inspiração aqui. Traumatizada por uma situação passada, ela logo demonstra possuir uma força sobre-humana. A jovem tenta levar sua vida sem grandes emoções, mas logo terá que enfrentar alguns fantasmas do passado,graças a sua némesis, Kilgrave (David Tennant).

A série surge num momento oportuno na TV com muitas produções protagonizadas por mulheres fortes, como Supergirl, Blindspot e companhia ganhado força e notoriedade.A força da mulher, aliás, é um dos temas mais explorados em Jessica Jones. As alegorias sociais que surgem durante todo programa são muitas e nunca soam gratuitas. A trama está lá intacta e é envolvente, ainda que não tenha lá grandes reviravoltas ou exiba uma complexidade intrigante, mas há camadas palpáveis dos problemas enfrentados rotineiramente pela classe feminina.

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Outro mérito de Jessica Jones assim como a serie do Demolidor é não querer dar tudo mastigadinho para o espectador. Não é a tradicional história de origem. Não temos um episódio só para mostrar como conseguiu seus poderes. Eles existem e fazem parte da personalidade da personagem. É claro que aos poucos vamos descobrindo, através de flashbacks, situações do passado da protagonista, mas tudo de forma natural. A sensação é que a história está sempre seguindo em frente.A ideia de compôr o caráter dos personagens a partir dos primeiros dilemas que eles enfrentam na carreira. A comparação com o Demolidor de Charlie Cox aqui cabe bem novamente, pois a Marvel parece querer contar origens sem mostrar o real motivo dos poderes de cada herói.Ser ou não ser um super-herói não é a primeira dúvida de ambos. O problema aqui é entender se eles são mesmo pessoas boas e o que vão fazer com seus poderes.E esses embates funcionam devido a um antagonista forte,que faz todo esse questionamento mais crível possível durante toda a trama.

O Killgrave de David Tennat é mais um vilão sensacional que a Marvel/Netflix trouxe.Os primeiros capítulos mostram o vilão apenas como uma presença, uma força de pura maldade que faz pessoas cometerem atos bárbaros. Quando  Tennant aparece com seu terno roxo e um sorriso sarcástico, a impressão é que a magia vilanesca se transformará em algo mais caricato, como a maioria dos bandidos da Marvel. Isso não acontece. O ator equilibra de forma magistral o humor ácido de Kilgrave com seus acessos de pura loucura. O timing perfeito alternar entre o psicopata apaixonado e o vilão de planos mirabolantes.

Krysten Ritter está incrível como a protagonista. Ela interpreta uma personagem complexa e repleta de problemas, que se sai bem nas cenas de ação, mas também demonstra certa delicadeza.

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Rachel Taylor interpreta a apresentadora de rádio e ex-estrela infantil Trish Walker, que é a grande amiga de Jessica, embora não se falem a algum tempo. Ritter e Taylor possuem uma ótima química em cena, passando realmente a ideia de que tratam-se de personagens próximas, com momentos de briga e outros de carinho, ainda que pouco sentimental.

Mike Colter surge muito bem como Luke Cage, que deve ganhar uma série só dele em 2016. O personagem também lida com traumas passados e verá em Jessica a oportunidade para um recomeço. Assim como fez em The Good Wife na pele do traficante Lemond Bishop, o ator demonstra muita força em cena, não apenas por sua presença física, mas também pela intensidade de seu olhar.

A advogada Jeri Hogarth (Carrie-Anne Moss) completa o elenco de apoio e está bem, mas a personagem conta com todo um núcleo envolvendo um relacionamento seu que não empolga,onde seu real problema,é pouco desenvolvido as vezes irritando o espectador.

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Os combates tem um defeito evidente. Jessica não sabe lutar, por isso é justificável não termos lutas coregrafadas. O que não se engole são as cenas mal filmadas e os efeitos pobres para mostrar a força dela e de Luke Cage. Cortes secos e ângulos extremamente fechados não dão a noção das lutas que ocorrem na tela. E diferente de Demolidor, que tinha cenas de ação bem compostas, Jessica Jones passará longe de ser lembrada por isso, apesar de ter muitas sequências do tipo ao longo de 13 horas de conteúdo.

No final, a sensação que fica é exatamente de ansiedade, por ter que aguardar o segundo ano do Demolidor e as demais produções já planejadas. Jessica Jones é o melhor exemplo de série de super-herói desta safra mais recente.Seu arco principal é bem desenvolvido,os núcleos se encaixam bem e os ganchos são interessantes o suficiente para desejarmos uma nova temporada. Não há dúvida que a Marvel achou o caminho para mostrar seu lado mais adulto.E ai Netflix confirma logo a nova temporada please!

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