Se a Rua Beale Falasse | Um profundo e poético drama familiar e racial

Lívia Patrícia
5 Min de Leitura
Tish (Kiki Layne) e Fony (Stephan James), protagonistas de "Se a Rua Beale falasse"

Obrigatório na sua listinha do Oscar (e do ano), Se a Rua Beale Falasse, filme dirigido, adaptado e roteirizado por Barry Jenkins (o mesmo do Moonlight) com base no livro homônimo de James Baldwin, fala sobre como o racismo interfere não só na vida profissional, mas também na família, nos relacionamentos afetivos e no emocional das pessoas negras.

A história contada no longa é a de Fonny (Stephan James) e Tish (Kiki Layne), um jovem casal muito apaixonado que teve seus planos abruptamente alterado após uma acusação de estupro contra Fonny. A partir daí, Tish e sua família lutam contra o racismo institucional para libertá-lo.

Os filmes do Barry Jenkins (que eu assisti) nunca falharam ao mostrar a subjetividade da pessoa negra e em Se a Rua Beale Falasse não só manteve essa qualidade como é perceptível um amadurecimento desse aspecto. Os personagens principais e as famílias, principalmente a de Tish, quebram o estereótipo que muitas vezes é dado ao retratar pessoas negras (como agressivas e com famílias sempre “disfuncionais”): Tanto Fonny quanto Tish são jovens doces e inocentes que se conheceram na infância querendo viver sua história de amor; Fonny acabou de sair de casa devido aos conflitos familiares e está em busca de emprego; A família de Tish é extremamente unida e amorosa, daquelas que faz o possível e o impossível uns pelos outros, enquanto a de Fonny vive brigando por causa do fanatismo religioso da mãe.

Tish (Kiki Layne), Ernestine (Teyonah Parris) e Sharon (Regina King) em “Se a Rua Beale Falasse”

Mesmo que essas características possam ser aplicadas facilmente a personagens de qualquer outra etnia, os filmes de Jenkins deixam claro que ser negro não é um vidro na frente da pessoa, com a possibilidade de ser retirado e a pessoa possa se perceber sem ele, ser negro e suas experiências devido ao racismo são parte da pessoa e constroem sua subjetividade, a pessoa negra é o próprio vidro.

O filme já começa com uma cena de aspecto sonhador, com folhas amarelas espalhadas pelo chão combinando com as roupas dos protagonistas, uma música inspiradora e o casal de mãos dadas andando feliz e tranquilo: definitivamente algo que funciona. A equipe técnica parece que estava muito bem alinhada com as propostas de efeito que o filme deve gerar (felicidade, tristeza, raiva, esperança, etc.), não tem um fio de cabelo fora do lugar. Gostaria de fazer uma menção honrosa às equipes de maquiagem, figurino e cabelos (na minha opinião, muito importantes para entender personagens negros nos filmes que se passam em épocas passadas), que não devem nada à atuação na hora de mostrar a evolução e a personalidade dos personagens. A direção de fotografia do Se a Rua Beale falasse ficou por conta de James Laxton, o mesmo de Moonlight, e em ambos os filmes os primeiros e primeiríssimos planos (que são associados ao emotivo, aquela coisa de ver a expressão do ator) são recorrentes, o que eu achei que ficou bem legal em ambos os filmes.

Se a Rua Beale Falasse já entrou na minha listinha de filmes para indicar por ser muito bom e pela pluralidade de temas e interseções presentes nele, mas se você ainda não acha que o filme é muito seu estilo, tem aqui aquele motivo anual que todos estão aguardando: o Oscar

SOBRE O OSCAR

O filme foi indicado pela academia a três categorias: melhor atriz coadjuvante com Regina King que interpreta Sharon Rivers (mãe de Tish), melhor trilha sonora original e melhor roteiro adaptado. Na equipe já existem ganhadores de Oscar: Barry Jenkins, James Laxton e Brad Pitt que também trabalharam no Moonlight, vencedor de três categorias (incluindo melhor filme) em 2017.

Regina King como Sharon Rivers em “Se a Rua Beale falasse”

King foi muito elogiada pela crítica, com todo o mérito, e já levou alguns prêmios nesta temporada na mesma categoria, entre eles o Globo de Ouro concorrendo com Amy Adams, por Vice, e Emma Stone, por A Favorita, saberemos e a lista vai aumentar ou não em 24 de Fevereiro, quando ocorrerá a cerimônia do Oscar.

Se interessou? Se a Rua Beale Falasse chega aos cinemas na quinta-feira, dia 7 de fevereiro, ainda dá tempo de chamar seus amigos e comprar os lencinhos para enxugar as lágrimas.

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Lívia é estudante do bacharelado interdisciplinar artes, bailarina e uma curiosa nata, não é a toa que tenha se atraído pelo mundo da literatura e dos filmes. No Cinesia escreve justamente sobre uma dessas paixões: livros
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