“Um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade”. Essa frase emblemática foi proferida por Neil Armstrong quando este se eternizou na História ao se tornar o primeiro homem a pisar na Lua. Durante a Guerra Fria havia uma forte rivalidade entre as duas superpotências, Estados Unidos e União Soviética, o que despontou na tão conhecida corrida espacial durante a metade do século XX, consolidando-se na tentativa, por ambas as partes, de explorar o espaço no intuito de definir qual o país superior em termos tecnológicos e ideológicos. O ápice desta acirrada disputa culminou na missão Apollo 11, quando os astronautas Neil Armstrong, Edwin ‘Buzz’ Aldrin e Michael Collins conseguiram pousar na lua e voltar para a Terra em segurança.
O filme “O Primeiro Homem”, dirigido por Damien Chazelle (diretor em ‘La La Land’, ‘Whiplash’), produzido por Steven Spielberg e protagonizado por Ryan Gosling (‘La La Land’), nos mostra um recorte da vida do astronauta e engenheiro Neil Armstrong em um delicado relato cinematográfico rico em sutilezas e momentos que nos fazem prender a respiração. Este é mais um estupendo trabalho de direção do Chazelle, que tem se mostrado um diretor versátil, desta vez imprimindo um aspecto absurdamente tenso à este filme, algo que havíamos apenas vislumbrado em Whiplash, mas que aqui se aprofunda e adquire diferentes camadas. Na trama, somos imersos na vida do Armstrong, vendo tudo que permeou o decisivo momento em que este decidiu por participar da missão de ida ao espaço. As cenas alternam nos apresentando o núcleo familiar e profissional do personagem principal, que vão cada vez mais se aproximando com o passar do tempo, chegando a momentos de sobreposição muito bem alicerçados que nos alçam para dentro da situação exposta. A esposa de Armstrong, a Janet Sheron, é interpretada por Claire Foy (de ‘The Crown’) que nos entrega uma atuação muito rica onde conseguimos sentir toda a angústia e ansiedade que a afligiram durante os momentos em que seu marido tentava efetivar a missão à qual se propusera cumprir. Ryan Gosling surpreende, apresentando um personagem tenso durante todo o tempo, com subtextos sutis que expressam a frieza pela qual Armstrong ficou conhecido pelos colegas de trabalho, sendo esta a característica que o definia como sendo o candidato perfeito para aquela missão.
O filme é repleto de planos fechados, onde a câmera se move bastante por todo o cenário nos apresentando detalhes mínimos e tornando mais imersiva a experiência, pois conseguimos quase que nos sentir no lugar apresentado. Isso é amplificado pelos planos em primeira pessoa, quando vemos pelos olhos do Neil em cenas onde há ausência de trilha sonora e escutamos apenas a respiração do personagem, transparecendo toda a enclausurante sensação de estar na pele dele. Algumas cenas lembram muito o estilo de direção do Terrence Malick (diretor em “A Árvore da Vida” e “De canção em Canção”), com um cunho fortemente contemplativo onde o silêncio é de extrema importância para orquestrar a magnitude dos eventos mostrados, principalmente na célebre chegada do homem à Lua, um dos momentos mais emocionantes do filme, onde essa visão em primeira pessoa surte um efeito muito único pela singularidade com que é mostrado. Vemos os detalhes da superfície lunar em uma visão diferenciada, limitada dentro do ínfimo capacete do Neil, algo que atribui um realismo inigualável ao longa.
Em certo ponto da história vemos a reação da mídia a esse evento magnânimo e um repórter diz que jamais conseguiremos conceber o que era estar no lugar desses três tripulantes espaciais, principalmente na de Armstrong. Porém, com a genialidade de Chazelle, acredito que, ao ver este filme, é possível tangenciar e entender um pouco do que esses pioneiros sentiram quando tocaram a superfície lunar. Um filme absolutamente comovente. Uma experiência singular que há muito não vemos nos cinemas.