A relação homem e cão expressa uma das mais profundas e benéficas formas de convívio entre espécies, perpassando as diferenças que nos separam e estreitando as interações a um espectro tão íntimo, que hoje os cães já vêm sendo considerados parte das famílias humanas. O filme Alfa, que estreia no dia 06 de setembro nos cinemas brasileiros, se passa durante a Era do Gelo, mostrando o momento quando homem e lobo aproximaram-se criando laços de amizade que reverberam até os dias atuais. Acompanhamos a história de Keda, interpretado por Kodi Smit-McPhee (o Noturno de X-Men: Apocalipse), um jovem que vem sendo ensinado por seu pai a sobreviver no conturbado mundo pré-histórico. Durante uma caçada, Keda é ferido e cai de um penhasco e sua tribo acredita que ele está morto. Porém o jovem consegue sobreviver e, durante a sua jornada de retorno para casa, encontra uma improvável amizade com um lobo selvagem a quem ele chama de Alfa.
A história mostra o desenvolvimento de uma relação baseada em respeito mútuo e benefícios para ambas espécies, em que vemos Keda esforçando-se em aproximar-se do selvagem Alfa, retratando um momento histórico em que interações pacíficas entre diferentes espécies de predadores não eram tão comuns assim. “Eles podem caçar à noite, guiado pelo som e olfato, podem ouvir a rena no horizonte horas antes de você chegar a notar sua presença; é uma combinação imbatível, homens e cães juntos, nada pode detê-los”, explica o arqueologista da Universidade de Stony Brook, professor John Shea, falando sobre as razões que imbuíram a domesticação canina com um papel forte no auxílio da sobrevivência humana. E é exatamente a escrita desse parágrafo da história que vemos retratado no filme Alfa, onde observamos uma sinergia entre homem e lobo em prol da mantença de ambos.
Sob a direção de Alberth Hughes, o longa possui belos planos que nos trazem a magnificência dos primórdios da humanidade, com paisagens impactantes e uma fauna diversa disputando espaço com os homens primitivos. Os pontos negativos ficam por conta dos efeitos visuais, que deixam a desejar em alguns momentos pela obviedade da construção por computação gráfica dos animais pré-históricos, e também em alguns planos aéreos que são tão artificiais que chegam a dar impressão de que estamos vendo um jogo de videogame. Também conta com algumas atuações precárias, como dos pais de Keda, que são um dos poucos que verbalizam além do protagonista. A interação entre o personagem principal e o lobo é convincente e passa a sensação da dificuldade de aproximação entre ambos e, além disso, prende a atenção pela trama estilo survival somada a bons planos de ação. Porém, apesar de no geral ser um bom filme, muitas vezes cai em clichês se tornando previsível, atribuindo ao longa aquele velho e conhecido aspecto de Sessão da Tarde. A sensação é de que poderia ter sido uma obra mais completa, um pouco mais visceral, visto que retrata um momento onde a força era lei, mostrando-nos um retrato mais fiel e intrigante da pré-história. Em suma, acho que a expectativa era que se aproximasse mais de Far Cry Primal, mas invés disso, se assemelhou mais a Os Croods. Isso não significa que é um filme ruim (até porquê Os Croods é maravilhoso), só que ele não explora todo o potencial que possuía, deixando um gostinho de frustração.
Apesar de tudo é um bom filme para ver em família, e que nos traz uma diversão completa, com ótimas cenas e um enredo simples, sustentado pela curiosa interação entre os dois personagens principais. Vale a pena conferir.