Sendo como uma antologia para o universo criado por Sicário: Terra de Ninguém em 2015, seu sucessor Dia do Soldado vem com a missão de manter a qualidade da recém inaugurada franquia e explorar mais os personagens de Benicio Del Toro e Josh Brolin, já que a personagem da Emily Blunt foi descartada.
Novamente roterizado por Taylor Sheridan, mas dessa vez dirigido pelo italiano Stefano Sollima, o novo filme repete a dose do original, em explorar o relacionamento das gangues, milícias e cartéis que se utilizam das fronteiras para traficar drogas(e pessoas) e os diferentes impactos causados, mas de modo mais leve, porém focando nas consequências morais e os danos colaterais causados pela política da “força bruta”.
Quando os cartéis ganham “status” de organizações terroristas pelo governo americano, Matt Graver (Josh Brolin) recebe passe livre para resolver o problema como bem quiser.
Desta vez, sem se ater a limites éticos ou institucionais. O estado financia a operação de forma velada, seja ela qual for. Se a missão sair do controle ou algo der errado, a responsabilidade é toda de Graver. O plano arriscado envolve nada menos que sequestrar Isabel Reyes (Isabela Moner), filha adolescente de um narcotraficante, e creditar a autoria do crime a um cartel rival.
Graver recorre novamente ao agente Alejandro Gillick (Benicio Del Toro), ex-homem forte do grupo de Medellín que viu sua família ser assassinada pelo pai de Isabela, para comandar a ação.
A história inicia mostrando a clara intromissão do governo norte-americano trazendo ao filme um ponto de vista que poucos tem coragem de mostrar. Quem é o verdadeiro vilão? A crítica escancarada e corajosa deixa claro que em certos momentos é difícil diferenciar quem é quem.
Sollima mantém um certo tom de gravidade e conspiração que evoca o primeiro Sicario – a trilha de Hildur Guðnadóttir faz questão de colaborar para que mesmo o diálogo mais enxuto ganhe ares ameaçadores. No mais, Dia do Soldado é um filme muito diferente do anterior.
E por mais tentador que seja tentar localizar referências à agressiva política de imigração de Trump, Sheridan, parece estar mais preocupado em expandir o alcance da trama à guisa de sequência e estabelecer uma nova dinâmica entre os personagens principais, Graver e Gillick.
Porem o filme possui alguns escorregões que em outras mãos seriam fatais, como por exemplo o terceiro ato cheio de reviravoltas que são “um pouco forçadas”, mas que não deixam o espectador sair dele.
O elenco muito bem escalado conta com os retornos de Brolin(alias otimo ano para o ator vistos seus trabalhos em Deadpool 2 e Vingadores: Guerra Infinita), trazendo seu jeito arrogante e com modos irreverentes de seu personagem Graver e com Del Toro (que pela atuação no primeiro filme merecia uma indicação ao Oscar) retornando no papel de Alejandro, um homem letal, mas que possui seus próprios demônios pessoais e de natureza solitária. Outro destaque da trama é a adição da pequena Isabela Moner (Transformers: O Último Cavaleiro) que se vê no meio de um conflito do qual não tem nada haver.
Sicário: Dia do Soldado é um bom filme com ótimas atuações de Del Toro e Brolin,que amplia o universo apresentado por Dennis Villeneuve no anterior, ainda que sem o mesmo brilhantismo de antes.