Desobediência | Não há nada mais belo do que ser livre para escolher

Danilo de Oliveira
4 Min de Leitura

O cinema de representatividade ganhou bastante força nos últimos anos.Obras como Pantera Negra,Moonlight, Mulher-Maravilha e Uma Mulher Fantástica trouxeram novas perspectivas de inclusão na industria. Sebastián Lelio,que dirigiu Uma Mulher Fantástica novamente nos mostra em Desobediência, seu primeiro filme em inglês porque é um dos melhores em nos apresenta personagens que tentam encontrar seu lugar em um mundo onde ser você mesmo não é permitido.

Adaptado do livro de Naomi Alderman, o longa nos conta a história de Ronit (Rachel Weisz), que retorna para a comunidade judaica ortodoxa da qual foi expulsa após receber notícias sobre a morte do pai. Recebida com frieza pelos integrantes da comunidade e por sua própria família, ela se hospeda na casa de um amigo de infância chamado Dovid (Alessandro Nivola), onde descobre que ele é casado com Esti (Rachel McAdams), outra amiga por quem se apaixonou há anos e de quem se afastou após sua partida. O reencontro reacende a paixão de ambas enquanto elas exploram os limites da fé e da sexualidade.

Aos poucos, o roteiro nos oferece pequenas informações sobre o passado de Ronit e Esti, principalmente sobre como esse afastamento afetou a vida de Esti e suas escolhas, que no fim a levaram ao MATRIMÔNIO. O diretor tem muita delicadeza, tanto sobre essa relação distante, mas ainda íntima, entre as mulheres, quanto para nos mostrar o isolamento de Ronit.

Desobediência poderia ser apenas mais um filme que retrata homossexualidade e religião levianamente, mas vai além. A obra aborda tais temas com um roteiro coerente, de diálogos excepcionais, e deixa o público entender bem o que os personagens estão sentindo ou pensando. Muito bem representada pelos protagonistas também é a dinâmica entre Weisz, McAdams e Alessandro Nivola. A química que eles possuem envolve e te traz para dentro da história, chegando até a surpreender pela forma inesperada como tudo se conclui.

Assim como em todo bom drama, não existem vilões na narrativa. Os três personagens centrais oferecem camadas e mais camadas de personalidade e traços extremamente humanos. E vamos combinar que Dovid poderia facilmente entrar em um papel de antagonista ao se assemelhar mais com alguém que quer apenas mostrar apoio dentro de uma comunidade tão restrita.

A escolha de Lelio para a direção e roteiro não foi a toa.Escolhido pela própria Rachel Weisz, pelo seu olhar extremamente significativo, o diretor nos dar desse talento na maneira em que realiza a cena de sexo entre as personagens.Diferente de diversos filmes que transformam cenas como essa em algo puramente sexual – seja por frustração sexual ou simples excitação -, o diretor se afastando de um olhar masculino, resumiu nesse momento toda a beleza, intimidade recém conquistada e a devastação dessa história de amor.

Não espere closes sensuais nas personagens e nem partes do corpo expostas sem motivo, porque o foco está nesse encontro entre duas mulheres privadas dessa relação há anos.

Desobediência é mais que um simples filme, ele quebra o estereótipo de casais homoafetivos, sem afetar questões religiosa e nos provoca de forma bela e representativa como o amor é um ato de desafio e extremamente necessário nos nossos dias atuais.

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