Primeiramente, é bom entender a situação de Sense8: mesmo sendo uma das mais populares séries da Netflix, foi pega na onda de cancelamentos que o serviço de streaming fez no ano passado. O motivo do cancelamento foi o alto custo na produção, principalmente por ser gravada em diversos países. Choramos, reclamamos e fizemos petição para que a série voltasse, mas a Netflix se manteve firme na cruel verdade: “Infelizmente não podemos”. Até que, quando já havíamos aceitado a dura realidade, um episódio final foi anunciado.
- The Walking Dead | Andrew Lincoln, o Rick, vai deixar a série após a primeira metade da 9ª temporada
- Lucifer | Série tem chances de ser salva, afirma atriz
Com esse anúncio, a missão era transformar uma história de mais ou menos 12 horas, em um episódio de 2h30min. Por essa razão, muitos ficaram com um pé atrás, ainda mais considerando o tanto de personagens e tramas para desenvolver. Pelo lado positivo, ao menos teríamos um final para a história que, com o último episódio, deixou uma necessidade enorme de resolução.
No episódio intitulado Amor Vincit Omnia, a vida pessoal dos sensates é posta de lado, enquanto eles se concentram em salvar Wolfgang da OPB, assim como derrubar a organização e, com isso, proteger o futuro de todos os sensates do mundo. Uma pequena parte do roteiro se dedica a mostrar que os oito ainda têm uma vida fora da loucura que vivem com seus sensates, mas, infelizmente, essa vida pessoal deles foi o que sofreu o maior corte do roteiro.
Porém, considerando que queríamos mesmo era ver a treta sendo resolvida, podemos nos contentar com algumas perdas. A história se desenvolve dessa vez juntando aos poucos todos eles em um único país, para que com isso cobrisse o principal fator que causou o cancelamento. Isso deixou a maior parte da trama concentrada em Paris, na França e outra importante parte em Nápoles, na Itália. Países vizinhos, que um trem e carro já facilitava a vida de todo mundo.
Mesmo que suas vidas pessoais tenham sido postas de lado em detrimento do fechamento da intrincada trama principal, ainda era preciso fechar a trama pessoal de cada um. Com “trama pessoal” estou querendo dizer o lado afetivo deles, porque Sense8 foi criada para ser uma série de ficção focada em sentimentos e no amor livre. Quem, a essa altura, não percebeu isso precisa reassistir tudo outra vez. E mais uma terceira vez, só para garantir.
No entanto, isso só valeu para metade dos sensates. Para os mais ou menos resolvidos na vida amorosa, como Capheus, Lito, Will e Riley, a trama não trouxe maiores novidades. A história deles foi bem mais trabalhada nos outros 23 episódios, deixando esse extra apenas espaço para que Wolfgang, Kala e (amém!) Sun terem suas vidas arrumadas. Sabemos que Nomi é a queridinha das irmãs Wachowski – e de grande parte dos fãs -, então temos muito dela e de Amantina nesse final também.
Podemos sentir durante o episódio essa perda, essa coceira curiosa no fundo do cérebro que nos faz querer saber mais da vida deles, mas a sensação de perda é ainda maior na trama principal. Mesmo ela tendo ocupado maior parte de todo o episódio. Somos apresentados a vários segredos e mistérios dos sensates, como a Lacuna – uma espécie de velho conselho dos sensates -, e claro, a outros clusters. No entanto, tudo o que não temos é tempo para apreciar tudo isso.
Esse episódio dá um pedacinho de cada possível grande potencial na série: a trama envolvendo a Lacuna, os outros clusters, o que poderia vir da eleição de Capheus, a briga de Sun com o irmão, a derradeira mudança de mente da mãe de Nomi e por aí vai. Vemos até o potencial da Dany, em uma cena memorável dela com Milton.
O apelo dos fãs e a grande insistência da Lana Wachowski trouxeram esse episódio ao mundo. Não apenas para dar um final digno a Sense8, mas também pelo amor dos fãs, se a dedicatória final é qualquer indicação. Ele tira o fôlego em muitas partes e não perde em nada para a edição, fotografia ou trilha se comparado aos outros episódios. Ainda permanece com a excelência das Wachowski que, e isso é uma opinião minha, deve ter Sense8 como um de seus trabalhos favoritos.
O único real incômodo durante as 2h30min é perceber o quanto de história perdemos pela série ter sido cancelada. É realmente triste na verdade. Sense8 por si só se tornou um marco na história dos seriados pelo seu roteiro inovador e corajoso. Se contentar com esse episódio final parece pouco, mas vale a pena, se não pela excelente produção, pela mensagem que passa com seu título: Amor Omnia Vincit é parte do título de um quadro do pintor barroco Caravaggio, onde ele retrata o cupido e o amor vitorioso. Seu título completo, em latim, é Omnia Vincit Amor et nos cedamus amori, que traduzido para o português significa…
O amor vence tudo, vamos todos ceder ao amor!
Eu amei e não gostei ao mesmo tempo desse episódio porquê é Tããããão visível o quanto de história se perdeu, tanto na trama principal quanto nas tramas dos protagonistas, várias histórias não se resolveram, e várias revelações que tinham a maior cara de cliffihanger de final de temporada passavam que nem dava pra apreciar. Valeu cada segundo, mas tô muito triste. E considerando várias das grandes produções da Netflix, acho em algum ponto eles vão se arrepender de cancelar Sense8, porquê pouca coisa é tão boa quanto.