‘Black Hammer’ é a prova de que até os heróis das HQ’s terão seus dias ruins

João Fagundes
5 Min de Leitura

A decadência não é um privilégio humano. Se pensarmos assim, muitos heróis nos mostraram a dura vida dupla, e é claro, sem esquecer a volta por cima que justifica a luta constante. Mas e se não fosse bem assim? Em “Black Hammer“, HQ canadense lançada originalmente em 2016,  os dias de glória ficaram no passado. Eleita a melhor série de quadrinhos original em 2017 pelo Eisner Awards, a obra de Jeff Lemire chega pelo selo da Editora Intrínseca e não decepciona quem procura heróis diferentes dos que estamos cansados de ver.

A trama gira em torno de um grupo excêntrico que logo perceberemos que não são humanos, afinal, alguns tem a aparência disfarçada e outros não. Há dez anos eles salvaram Spiral City (na conhecida como “Era de Ouro“), mas nem tudo parece ter dado certo ao vermos que eles não escondem sua decepção de estarem exilados em uma fazenda localizada numa cidade suspensa no tempo que os forçou a levarem uma vida pacata e – MUITO – diferente da que estavam acostumados. Também vemos todos lidando com a perda de seu líder e companheiro, o Black Hammer.

Abraham Slam é nosso atual líder, que em breves flashes percebemos que os demais sempre tentam ouvir o que ele diz, com exceção da “adolescente” Gail que é uma mulher de 55 anos presa a contragosto no corpo de uma criança. Logo entendemos as limitações impostas nesse misterioso purgatório, mas existe mais informações a cada página, e todos os personagens vivem em seu próprio caos interno, como se estivessem competindo para ver quem tem a história de vida mais triste. Diante disso, só podemos dizer que os personagens Randall Weird e a Madame Libélula estão ganhando em disparada, ainda que sejam os mais misteriosos de maneira singular.

As lembranças são usadas de forma muito inteligente, já que não temos ideia de quem são eles ao começar a leitura, e logo depois teremos noção do passado e presente de cada um. A humanização dessas personas é bem convidativa para quem não espera nada. Barbalien é um exemplo da utilização de temas contemporâneos e ainda se manter na ficção. Escondido em cada quadro teremos referências ao mundo do cinema e da música, sendo um bônus perto da qualidade investida na ilustração de Dean Ormston em conjunto com o colorista Dave Stewart. Eles não estão brincando em serviço!

O volume 1 (tematizado como “Origens Secretas“) reúne 6 volumes da história, incluindo as capas originais e todo o material adicional em um encadernamento. Como bônus nada melhor do que as artes iniciais de cada personagem e suas características que ao longo dos anos de produção mudaram muito (alguns personagens ilustrados não chegaram nem a existir) como narra o autor no posfácio e ainda revela ter iniciado a obra em 2007, e diferente do que se espera só lançou em 2016 quando retomou a ideia e encontrou o ilustrador que daria uma “sensibilidade indie” e destacaria sua HQ das demais.

Black Hammer: Origens Secretas” é o que muitos iniciantes no mundo das histórias em quadrinhos precisam para apreciar a leitura e torcer para nossos heróis voltarem pra casa. Além de tudo temos a experiência de mais uma vez vivenciarmos a dificuldade de levar um vida dupla. Ainda que nos lembrem outros heróis, sabemos que é mera coincidência. O volume 2 se chama “The Event” (O Evento). O que esperar? Sabemos que após ler a sensação é de ansiedade, com certeza!

Resultado de imagem para excited gif.

TAGGED: , ,
Share This Article
Mais um Otaku soteropolitano que faz cosplay no verão. Gamer nostálgico que respira música e que se sente parte do elenco das suas séries favoritas. Aprecia tanto a 7ª arte que faz questão de assistir um filme ruim até o fim. É um desenhista esforçado e um escritor frustrado por ser um leitor tão desnaturado. É graduando no curso de Direito e formado no de Computação Gráfica. “That’s all folks!"
Leave a comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *